Economia de água, energia, fertilizantes e uma produtividade alta são os principais atrativos da irrigação por gotejamento, tecnologia controlada por computador que ganha espaço principalmente nas lavouras do semi-árido brasileiro. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Denocs) estima que 41,6% dos 60 mil hectares que administra – 25 mil hectares – já possuem a tecnologia. Há dez anos, esse percentual era praticamente nulo.
De acordo com a Embrapa semi-árido, a economia de água pode chegar a 60% e, com o uso de um bico para fertilização anexado ao equipamento, a produtividade pode até dobrar. José Maria Pinto, pesquisador da estatal, ressalta que a técnica reduz a mão-de-obra na lavoura, dispensando um funcionário só para adubar a lavoura. Segundo dados do órgão, o índice de eficiência para cada 100 litros aplicados na irrigação gotejada chega a 95%, enquanto a aspersão alcança de 70% a 80% e o suco (canaleta na terra) fica entre 40% e 50%.
Embora já seja utilizado em algumas regiões, a Agência Nacional de Águas (ANA) exige maior eficiência na irrigação para renovação do cadastro de outorga de água em cidades com mais de mil habitantes, fato que também favorece a disseminação do gotejamento.
Elias Fernandes, diretor-geral do Denocs, explica que a implantação do sistema já estava previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. “O objetivo é economizar e evitar a salinização do solo, que acontece depois que o excesso de água evapora e deixa os resíduos. Isso empobrece a terra e reduz muito a produtividade”. O crescimento no uso da tecnologia também é observado por Luiz Paulo Heimpel, gerente de assuntos governamentais da Netafim, companhia israelense líder mundial em sistemas de irrigação. Há oito anos no Brasil, a companhia registra um crescimento anual de 20%. O faturamento atingiu R$ 100 milhões em 2007 no Brasil e US$ 500 milhões no mundo.
Heimpel diz que a empresa ganhou uma licitação no Denocs para fornecer até o final deste ano R$ 21 milhões em equipamentos para uma área de 4,5 mil hectares nos municípios de Tabuleiro de Russas e Baixo Acaraú, no estado do Ceará. “A maioria dos projetos de irrigação são voltados para a fruticultura, como é o caso desse”, explica. O pesquisador da Embrapa acrescenta que culturas como uva, manga, coco, e goiaba devem absorver mais a tecnologia. “A irrigação no semi-árido é mais utilizada”.
Para Jayme Blay, presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, o País possui um grande potencial a ser explorado na agricultura. “A água será um produto escasso em pouco tempo e o Brasil pode sair na frente aprimorando a tecnologia”. A Câmara estima que o fluxo bilateral entre os países movimentou R$ 1 bilhão no último ano.
O Ceará é considerado pelo setor frutícola uma região em expansão. O presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Moacyr Saraiva Fernandes, explica que o acesso ao crédito favorece um deslocamento da produção de frutas para o estado. “O cultivo de frutas no Nordeste é 100% irrigado. Esses sistemas que economizam ganham prioridade”, disse. Os maiores estados produtores são Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, sendo responsáveis pelo embarque de mais de 95% da uva e manga, e 100% de banana e melão. Em 2007, a receita com exportações foi de US$ 642 milhões para 940 mil toneladas embarcadas. A expectativa é que a receita cresça cerca de 15% neste ano.
Orlando Melo de Castro, diretor geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC-Apta) observa que o porta-enxerto desenvolvido pelo instituto favoreceu a expansão da fruticultura no semi-árido. “Sem isso, não teria como a copa, onde nascem os frutos, produzir em clima quente”.
Gazeta Mercantil

