A Expedição VEJA visitou a sede da fabricante de máquinas e implementos agrícolas nacionais Stara em Não-Me-Toque (RS). Com um faturamento de 1 bilhão de reais, a empresa que hoje domina o setor de equipamentos para a agricultura de precisão no Brasil quase deixou de existir no começo dos anos 2000. Na época, a empresa passava por sérias dificuldades financeiras por depender de tecnologia estrangeira.
Quando os computadores de bordo dos pulverizadores da empresa travavam, os técnicos da empresa gaúcha quebravam a cabeça para resolver o problema. “Tínhamos uma máquina com computador de um fornecedor de um lado do mundo, cabos de outro. Com a máquina parada, as lagartas destruíam a plantação e os nossos clientes reclamavam”, conta Gilson Trennepohl, diretor-presidente da Stara.
A única solução para a sobrevivência da empresa era dominar a tecnologia em solo nacional. Essa foi a grande virada da Stara, surgida nos anos 60. Em 2007, a empresa comprou a australiana Computronics, especializada em software e hardware para o setor agrícola. Desde então, os produtos lançados pela Stara são desenvolvidos por uma equipe de pesquisa e desenvolvimento da própria empresa. O presidente da empresa falou a VEJA sobre o desenvolvimento da agricultura de alta precisão no Brasil.
Por que as gigantes do setor agrícola por muito tempo desprezaram o mercado de máquinas para a agricultura de precisão no Brasil?
As multinacionais não acreditavam que os agricultores brasileiros fossem capazes de aprender a operar máquinas desse tipo. Na visão deles, isso era coisa para agricultor americano, aquele que é o dono da fazenda e tem condições para operar um computador de bordo sofisticado. Essa era a visão que muitas empresas tinham da gente. A verdade é que o agricultor brasileiro não conseguia operar porque as máquinas eram muito complexas. Nos anos 90, os manuais eram todos em inglês ou alemão. Por essa razão, resolvemos investir em máquinas que tivessem a mesma tecnologia avançada existente lá fora, mas cuja operação fosse mais simples e didática. Traduzimos os comandos das máquinas para o português. Era só o que precisava para esse mercado deslanchar. Em 2006, comercializamos 243 computadores para as mais variadas máquinas. Em 2010, foram 3200.
A agricultura de precisão é um negócio lucrativo no Brasil?
As terras no Brasil foram exploradas de forma muito ruim no passado. O agricultor não fazia plantio direto, havia muita erosão no solo. Os níveis de produtividade de uma mesma propriedade rural tinham variações grotescas. Nós sabíamos que, se isso fosse corrigido com a aplicação de adubos e defensivos por meio das máquinas certas, teríamos um salto na produção das lavouras. Na Europa, eles fazem agricultura de precisão há muitos anos.
Mais da metade do faturamento da Stara vem de produtos lançados nos últimos anos, caso do equipamento mais vendido, o pulverizador Imperador, lançado em 2010. Qual a importância da inovação para empresa?
Ousadia e coragem para mudar estão em nosso DNA. O que muitos enxergam como risco para a Stara é oportunidade. Em 1964, quando o Brasil capinava os solos com enxada, a Stara fez uma capinadeira puxada por trator que substituía o trabalho de até 80 pessoas. O Imperador é o único pulverizador do mundo com barra central, que possibilita que a aplicação de defensivos seja feita de forma mais homogênea na lavoura. Ele virou sinônimo de categoria de produto. Quando querem um pulverizador, os clientes pedem por Imperador. Ele é um sucesso de vendas em países como Rússia, Ucrânia, Cazaquistão e Moçambique. Nosso próximo passo é que criar uma versão desse produto capaz de ler as informações do solo em tempo real.
*Gilson Trennepohl, diretor-presidente da Stara (Jonne Roriz)
Agrolink com informações de assessoria

