Contribuir para, ao mesmo tempo, amenizar efeitos negativos da falta de chuva ou de sua abundância. O que parece ser contraditório é possível, a partir da implantação da tecnologia da caixa seca, que consiste na construção de reservatórios tecnicamente dimensionados na margem das estradas para captação das águas de chuva. A técnica evita enxurradas, a erosão, o assoreamento dos rios e a depredação das estradas pela chuva, e ainda aumenta o armazenamento de água, o abastecimento do lençol freático, favorece as nascentes e a vazão dos rios.
O procedimento, que começou a ser implantado no Espírito Santo em abril 2008, no município de São Roque do Canaã, pelo engenheiro agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Aliamar Comério, já demonstra resultados surpreendentes.
Foram construídas 530 caixas secas em uma extensão 10 quilômetros (km) de estrada. Após dois anos de funcionamento, o técnico já pôde constatar um aumento de 51% na vazão de uma das nascentes do rio Santa Júlia, que foi monitorada mês a mês. Além disso, foi confirmada a infiltração de aproximadamente 100 milhões de litros de água para o lençol freático e a retenção de 5.600 metros quadrados (m²) de sedimentos sólidos, que teriam ido parar nos rios, junto com outras partículas arrastadas pela água ao longo do caminho.
“A técnica das caixas secas já existe há muitos anos, mas estava esquecida. A experiência de São Roque do Canaã é diferenciada por ter sido monitorada mês a mês, durante esses dois anos de implantação. Por isso, foi possível demonstrar resultados positivos comprovados”, afirma Aliamar. Ele destaca ainda que a experiência é a primeira referência bibliográfica do Brasil com resultados monitorados da técnica.
De acordo com o engenheiro, as caixas secas são a solução para o problema da seca capixaba. “Se as caixas secas fossem construídas em todas as estradas municipais do Estado, se diminuiriam muito os problemas de seca e de enchentes no Espírito Santo”, afirmou.
Segundo o engenheiro agrônomo, a técnica controla o nível dos mananciais por favorecer a infiltração gradativa da mesma no solo. “Os reservatórios construídos à beira das estradas (onde há margens íngremes) impedem que a água escorra morro abaixo, e arraste partículas sólidas que provocam o assoreamento dos mananciais e prejudicam a atividade agrícola. Dessa forma, a água retida nas caixas secas infiltra-se, contribuindo para o enriquecimento do lençol freático na época de chuvas, e o abastecimento das nascentes no período de secas”, explica.
Unidades Demonstrativas
Diante de tantos benefícios, a partir de uma técnica relativamente simples de ser implantada, o Incaper tem incentivado a construção de caixas secas no Espírito Santo.
Um exemplo é o município de Alegre, onde foi implantada uma Unidade Demonstrativa da técnica. Durante a segunda quinzena de maio deste ano, foram construídas 17 caixas secas. Na oportunidade, Aliamar Comério realizou um curso sobre a implantação da tecnologia para técnicos do Incaper, da prefeitura local e para operadores de retroescavadeira.
“O Incaper tem prestado assistência técnica aos produtores que se interessaram pela implantação da técnica. Já se pode encontrar caixas secas em diversos municípios do Estado, como Colatina, Santa Teresa, Itaguaçu, entre outros. No caso de Alegre, o objetivo foi a estruturação de uma Unidade Demonstrativa, para servir de parâmetro prático para outros agricultores que desejarem aderir o modelo”, afirma Aliamar.
Outra experiência no Estado que já demonstrou resultados e pode servir de base para agricultores capixabas é na Fazenda Experimental do Incaper em Marilândia. Ao longo de 930 metros de uma estrada de morro abaixo, foram construídas 35 caixas secas.
Em um ano – de maio de 2009 até o mesmo mês deste ano – as caixas retiveram 98 metros cúbicos (m³) de terra, montante este que teria ido para dentro dos rios. Além disso, por meio de cálculos que envolvem a precipitação média anual de Marilândia e o diâmetro da estrada e das caixas, a técnica contribuiu para a infiltração de sete mil metros cúbicos de água no solo.
De acordo com Aliamar, para implantação do projeto são necessários alguns cuidados, como a realização de cálculos precisos. “Para se implantar o projeto das caixas secas, é preciso calcular o volume correto da escavação. Deve-se levar em consideração o regime de chuvas de cada região, a largura e a declividade da estrada”, afirma.
Quem tiver interesse em aderir à técnica pode procurar o engenheiro agrônomo Aliamar Comério, no escritório do Incaper de São Roque do Canaã, pelo telefone: (27) 3729-1544.
Paula Varejão

