Grande alavanca da economia do Norte do Estado do Espírito Santo na última década, a cultura do mamão papaya está vivendo momentos importantes nos últimos anos. A queda do dólar e a baixa no mercado interno desmotivaram os produtores da fruta. Com isso, os números de produção e exportação do papaya no Estado caíram significativamente. Porém, o setor não baixou a guarda. Prejudicado ainda pela crise mundial no ano passado e pelas condições do clima este ano, o papaya capixaba começa mostrar sua força e a vontade de permanecer como importante atividade econômica para o Brasil.
Em entrevista à Revista Campo Vivo, o presidente da Brapex – Associação Brasileira dos Exportadores de Papaya, Marcelo Denadai, fala sobre dificuldades na cultura do mamão, mercados, qualidade do produto, desafios da associação e da importância da atividade para o Espírito Santo. Denadai assumiu o comando da Brapex em agosto de 2009 e demonstra em sua conversa a vontade de reverter a atual situação.
Campo Vivo: Nos últimos anos no Espírito Santo tivemos queda na produção e exportação de mamão papaya. Quais os principais fatores que motivaram essa queda?
Marcelo Denadai: Na exportação, o principal fator foi exatamente o declínio do câmbio, e o preço do mercado interno ficou muito ruim. Então, os produtores sentiram-se desmotivados para continuar plantios de grande escala. Nós tivemos um reflexo diferente no ano de 2009, que nos últimos dez anos eu considero que foi, se não o melhor, um dos melhores para a cultura do mamão papaya. Durante o ano, obtivemos uma média de retorno para o produtor de 80 a 85 centavos o quilo, o que impulsionou o plantio de novas áreas para 2010. O que ocorre agora é que nós estamos sofrendo com o fator climático. Isso, realmente, está deixando a situação complicada para o primeiro semestre desse ano na atividade, aliás, em todo o agronegócio.
CV: Podemos afirmar que do final de 2009 para o início de 2010 já começa a mudar, mesmo que de forma tímida, o cenário da cultura do mamão aqui no Estado?
Denadai: O que ocorre é que a cultura da papaya está sendo difundida em várias áreas do Brasil. O ES é líder de exportação, mas já foi um produtor muito maior do que é hoje. Então é importante que o Governo do Estado e o Ministério da Agricultura atentem para o fato, porque daqui a pouco nós teremos concorrência do Nordeste, de Minas Gerais. Alguns polos já estão começando a plantar, descobriram o domínio do plantio da papaya que não é fácil. Porém, acredito que haverá motivação aqui no Estado para o plantio em 2010 e nos próximos anos também.
CV: Você assumiu a presidência da Brapex num momento instável da cultura, em meados de 2009, quando tínhamos a crise mundial e cultura atravessava quedas na produção e exportação. Qual é o seu principal desafio no comando pra Brapex?
Denadai: Uma das metas é tornar o Espírito Santo, a região norte do Estado, uma área de baixa prevalência da praga da mosca da fruta. Essa é uma bandeira que a gente vem levantando. Já tivemos reuniões em Brasília, no Ministério da Agricultura, e estamos trabalhando para isso. Pretendemos fortalecer a Brapex como uma entidade que não apoia somente o exportador, mas também o produtor. Temos que trazer o produtor para próximo da Associação para acompanhamento técnico, cotações… Isso é um desafio grande porque a cultura da papaya no ES está focada em três polos: Linhares, Sooretama e Pinheiros, e fazer com que o produtor se una vai ser um trabalho árduo de marketing, de apresentar qual a verdadeira missão da Brapex.
CV: Algumas entidades governamentais estão querendo definir um padrão de qualidade para o mamão no mercado interno. Como que isso pode refletir na vida do produtor?
Denadai: Para sobreviver na atividade agrícola, a mentalidade do produtor tem que mudar. Eu acredito que ele tem que migrar da situação de produtor para empresário rural. O que isso significa? Cuidar, realmente, com carinho da mão-de-obra, escolher bem, treinar funcionários, trabalhar com novas técnicas, formas de plantio, pulverizações, controle de custos da lavoura, fazer planejamento de plantio em escalas. Acho que isso são fatores importantíssimos. A exigência da qualidade vem para abrir os olhos e forçar, de uma forma geral, uma melhoria nas condições de produção.
CV: Você acredita em elevação nas exportações nesses próximos anos?
Denadai: Para todo país, a exportação é a coisa mais importante, comercialmente falando. Existe uma necessidade do governo em aumentar as exportações em todos os âmbitos e ela é importante para equilibrar o preço no mercado interno. Eu acredito que haverá elevação porque não existe estabilidade de preço de commodities no mercado interno nem no externo, mas a exportação é um balizador para escoar a produção e manter o nível razoável de preço. A cultura do mamão tem força hoje exatamente devido as exportações que motivaram produtores que plantavam café e hoje plantam consorciado com mamão, pessoas que vieram de outros ramos também que começaram a produzir em grande escala. A exportação é fundamental para que a cultura se estabilize. No início de fevereiro nos reunimos, em Brasília, com o secretário do ministério da agricultura e pleiteamos o agendamento do Brasil para a pauta de exportação da África do Sul que já está em andamento. Solicitamos também o agendamento para abrir um canal de venda para o Japão. Então, a Brapex está preocupada em atuar em grande escala.
CV: Considerando o histórico mercadológico e das condições climáticas dos últimos anos, como você analisa o ânimo do produtor de mamão, atualmente?
Denadai: Obviamente, se não considerar o fator climático, os produtores estão felizes da vida. Obtiveram preços extremamente bons em 2009 e a perspectiva para esse ano não é que se tenha um quadro reverso, mas, sim, positivo em relação ao preço. Nós temos que torcer para que o clima melhore porque isso que está desmotivando. Analisando mercadologicamente, acho que os produtores estão felizes.
CV: Como você avalia o grau de importância da cultura do mamão para a economia capixaba?
Denadai: O mamão papaya, além de levar o nome do país na comunidade internacional, na cadeia produtiva representa hoje uma ordem de, aproximadamente, 20 mil empregos. Temos dados em relação as exportações até 2009 que mostra a importância da papaya em valores. De 2007 a 2009, por exemplo, as exportações brasileiras de papaya representaram cerca de US$ 107 milhões. Só o Espírito Santo foi responsável por US$ 56 milhões. A avaliação que eu faço caracteriza-se em dois aspectos. O econômico, que é uma representação admirável de commodity para exportação. O outro aspecto é até uma coisa emocional, que é o perfil do produtor capixaba, da vocação da cultura do papaya. Vou dar um exemplo. Se você olha para o Centro Oeste, qual a vocação da região? É a soja. Se for pro Sul, tem o gado. Eu acho que o mamão papaya faz parte da história do Espírito Santo, da cultura do Estado. Logicamente, nós temos as outras atividades, como o café, a criação de bovinos, mas eu acho que o papaya está nesta pauta como parte do agronegócio que é a cara do capixaba.
Revista Campo Vivo
entrevista especial publicada na edição nº 05 – março/2010

