Dados do Banco Central (BC) mostram que nos últimos cinco meses os bancos deixaram de direcionar R$ 531 milhões para o crédito rural, dentro da exigência de aplicação de 30% dos recursos captados por meio de depósitos à vista nesse segmento. Em outros momentos, o descumprimento dessa obrigação foi ainda maior. Em agosto do ano passado, por exemplo, as instituições financeiras deixaram de aplicar um total de R$ 1,8 bilhão no crédito rural. Quando deixam de cumprir essa obrigação, os bancos têm de recolher o dinheiro junto ao Banco Central, sem remuneração.
Ao anunciar a elevação do depósito compulsório sobre depósitos à vista no mês que vem de 42% para 43%, o BC estimou que a medida vai retirar R$ 1,6 bilhão. Mas essa conta considera o cumprimento de todas as exigibilidades. Ou seja, se em julho os bancos mantiverem o descumprimento no nível de maio, a alta do compulsório retiraria na prática cerca de R$ 1,1 bilhão, já que os outros R$ 500 milhões teriam que obrigatoriamente ser depositados no BC pelo descumprimento da regra.
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, enxergou na elevação do compulsório sobre depósitos à vista um sinal do BC na direção de restringir o crédito para conter a demanda interna.
Apesar de o volume a ser retirado do mercado não ser muito grande, Freitas avalia que a autoridade monetária está mostrando ao mercado que tem ainda instrumentos adicionais à alta dos juros para conter o ímpeto da economia e evitar a alta na inflação. “O BC poderia deixar a exigibilidade de aplicação em crédito rural cair sem alterar o compulsório. Ao não fazer isso, passa um sinal de que não quer ver redução nos spreads bancários e que pode atuar mais para frear o crédito”, afirmou. “Para mim, isso é o BC dizendo que pode fazer mais para conter a demanda”, acrescenta.
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou que a oferta de crédito rural não sofrerá impactos das medidas de redução, até 2015, da exigibilidade destinada ao setor, de 30% para 25% sobre os depósitos à vista, anunciadas na sexta-feira pelo BC. Segundo o ministro, apesar da redução para 29% em julho, primeiro mês da safra 2010/11, os recursos, de R$ 100 bilhões para a agricultura empresarial, também estão garantidos.
O ministro da Agricultura lembrou que na safra 2009/2010, que termina este mês, não foram tomados entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões dos R$ 92,5 bilhões oferecidos em crédito agrícola, e que os recursos para o crédito rural vêm ainda de outras fontes.
Agência Estado

