De olho em um possível aumento de temperatura e no impacto desse calor nas lavouras de café, a pesquisa já recomenda práticas agronômicas para atenuar o cenário de aquecimento global. “A projeção de que a temperatura aumente 3 graus até 2040 é preocupante, mas ainda é cedo para falar que isso tornaria a cafeicultura inviável no Estado de São Paulo”, diz o pesquisador Luiz Carlos Fazuoli, do Centro de Café Alcides Carvalho do Instituto Agronômico (IAC-Apta).
Conforme o zoneamento agrícola do café arábica, em São Paulo, regiões com temperaturas entre 18 e 23 graus são consideradas aptas. Áreas com temperatura menor que 18 graus e maior que 23 graus são consideradas inaptas. Essas medidas mitigadoras são, portanto, especialmente vantajosas em regiões onde a altitude média é de 600 metros, que condiciona temperaturas entre 21 e 22 graus. “O propósito dessas práticas é não só manter a aptidão cafeeira da região como tornar a atividade viável em áreas marginais.”
Uma dessas práticas é a arborização de cafezais, que associa cafeeiros e árvores e já é bastante utilizada na Colômbia e no México. O pesquisador Roberto Antonio Thomaziello, do IAC, explica que a arborização mantém a planta em um “microclima” mais ameno. “Em um ambiente com clima menos agressivo, a planta vegeta por um tempo maior, prolongando o período de maturação, o que resulta na produção de mais frutos cerejas. A produção fica mais estável.”
As árvores também atuam como quebra-vento na lavoura, além de protegerem contra geadas e ajudarem no controle da erosão, pela melhora das condições do solo. Em Mococa (SP) a técnica promoveu a redução da temperatura em até 2 graus, diz o pesquisador.
A arborização, porém, é diferente do sombreamento do cafeeiro, em que a árvore concorre com as plantas por água, luz e nutrientes. Segundo Thomaziello, na arborização, a recomendação é plantar de 50 a 60 árvores por hectare, conforme a espécie. Já há experiências com grevílea, seringueira, bananeira, coqueiro e cedro português, entre outras.
“Além dos ganhos agronômicos, caso a espécie seja fixadora de nitrogênio, pode-se obter renda extra, com o cultivo de frutíferas ou madeiráveis.”
Adensar plantio é outra saída
Outra técnica mitigadora recomendada é o “plantio adensado mecanizável”, que utiliza de 4 mil a 5 mil plantas/hectare. “O plantio do cafeeiro em espaçamentos mais adensados entre linhas e entre plantas tem menor produção por planta, mas aumenta a produção por área por causa do maior número de cafeeiros por hectare”, dizem os pesquisadores do IAC. A prática também proporciona microclima mais ameno, com temperatura no interior da planta menor que a do ambiente externo. O adensamento, afirmam, deve ser associado ao manejo do mato, feito com roçadeira convencional ou trincha. O manejo consiste em manter o mato do meio das ruas roçado, principalmente durante o período de chuva. “O manejo reduz a temperatura do solo e promove a reciclagem de matéria orgânica”, diz Roberto Thomaziello. “A manutenção do solo vegetado permite melhor distribuição do sistema radicular do cafeeiro. Com maior teor de matéria orgânica no solo, aumenta a capacidade de retenção de água, possibilitando um cultivo mais tolerante a condições climáticas adversas.”
O Estado de São Paulo

