“A Ceplac sempre estará à disposição do produtor de cacau para oferecer assistência técnica e extensão rural e apoiar propostas viáveis tecnicamente em favor da lavoura”. A afirmação foi feita pelo diretor-geral da Ceplac, Jay Wallace da Silva e Mota, durante entrevista coletiva à imprensa, na terça-feira, 12, na sede da Superintendência da Ceplac para Bahia, na rodovia Ilhéus-Itabuna, no Sul do Estado. Esta é a primeira vez que o dirigente veio à Região Cacaueira Baiana, desde sua posse em 30 de julho passado.
Na conversa com os jornalistas, Jay Wallace disse que houve mudanças na Ceplac e não no governo, cujas diretrizes serão seguidas, como a prioridade para agricultura familiar. “Vamos buscar fortalecer parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que cuida da agricultura familiar com bastantes recursos. Também contamos muito com o Ministério da Agricultura, já que o ministro Stephanes não faz muita distinção entre a pequena produção e a agricultura tradicional”, comentou.
O diretor disse que a Ceplac carece de recursos orçamentários para melhor atender ao médio e grande produtor de cacau, embora o Ministério da Agricultura sinalize que deva ser garantida uma assistência técnica de maior alcance, buscando até veículos como rádio e TV para difusão de tecnologias. Apesar disto, as estruturas do Centro de Extensão da Ceplac (Cenex) e Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec) continuam à disposição dos agricultores familiares. “Com a boa vontade do Mapa, estamos identificando fontes de recursos que vão nos aproximar mais do público tradicional da Ceplac”, explicou.
Jay Wallace disse que tinha uma série de idéias para iniciar a sua gestão, mas preferiu recorrer à massa critica que a Ceplac reúne na Bahia e que resolveu escutar para identificar novas oportunidades. “O que muda é que por ser técnico não preciso inventar nada. Podemos buscar no próprio modelo já existente soluções para problemas que parecem novos, contando, para isto, com a ajuda de pesquisadores e técnicos experientes da nossa instituição”, afirmou, explicando que o ministro Reinhold Stephanes demonstrou preocupação quanto ao quadro de pessoal da Ceplac e a escassez de recursos orçamentários.
Segundo o dirigente da Ceplac, o ministro Stephanes disse que as respostas esperadas pela Ceplac e a própria região dependerão de projetos bem elaborados, o que incluirá a contratação de pessoal especializado para este trabalho. Daí estar analisando alternativas. Hoje, com os programas do MEC, se tem muito pessoal com mestrado, doutorado e pós-doutorado no mercado, incluindo bolsistas, que podem ser absorvidos pela Ceplac, após serem submetidos a concurso público. “O fortalecimento da Ceplac é uma das preocupações de um grupo de consultores do Ministério da Agricultura, que já demonstrou disposição de injetar recursos financeiros, aperfeiçoar a gestão e melhorar a assistência técnica”, argumentou Jay Wallace.
A visita do diretor foi iniciada com uma reunião com os servidores da Ceplac no auditório do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), quando apresentou suas metas e ouviu saudações, críticas e sugestões. À tarde, no Setor de Relações Públicas, concedeu coletiva à imprensa e se reuniu com líderes do Conselho de Entidades dos Servidores da Ceplac. Veja a seguir a opinião do novo diretor-geral da Ceplac sobre diversos temas que abordou durante a entrevista:
Pesquisadores e extensionistas
“O quadro de pesquisadores e extensionistas está defasado. Muitos ainda não foram enquadrados como fiscais agropecuários ou não recebem salários como tal. O Mapa vai contratar mais fiscais e agilizar a institucionalização da Ceplac para que se possa contratar quadros novos. Dentro do quadro de fiscais do Mapa que detêm especialização em pesquisa, muitos se interessam em trabalhar na Ceplac. Nosso maior problema é na extensão rural. O maior desafio é que a Ceplac sensibilize o ministério para contratação”.
O mercado tem profissionais com mestrado, doutorado e pós, o que difere de épocas anteriores. Hoje, com os programas do MEC, se tem muito pessoal disponível, incluindo bolsistas que podem ser contratados e mediante concurso público.”
Balança comercial e agronegócio
“Como fazemos parte da estrutura de governo também nos interessam os percentuais de distribuição da produção, até porque a resposta pode ser outra. A Ceplac não vai privilegiar um segmento e outro, mas trabalhar com os dois, a agricultura tradicional e a familiar.
Não podemos tratar questões diferentes de forma igual. Como os programas são definidos por ministérios e diretrizes diferentes, os métodos serão distintos. A Ceplac faz parte do governo, que se preocupa com o social, exigindo a concepção de modelos diferentes, mas dando conta das cobranças de um e de outro.
O ministro Stephanes já declarou que acreditava na Ceplac, cuja situação exige providências imediatas que dependem dele, incluindo a institucionalização, que não pode ficar aguardando uma decisão do Congresso Nacional. Ele acha que a medida deve ser viabilizada ainda no governo Lula”.
O tempo de mudanças
“Todos os programas desenvolvidos pela Ceplac devem ter tempo curto. Vou desafiar pesquisadores e técnicos a colocar em ação a tecnologia disponível, uma coisa que não tem sido feita freqüentemente. Pretendo fazer um encontro com os extensionistas, mobilizando a categoria enfrentar os problemas atuais. Para isso vamos buscar todas as parcerias possíveis: Embrapa, Uesc, Unicamp e as universidades federais de Viçosa e do Pará, dentre outras.”
As unidades da Emarc
“Já encontrei uma posição definida da Ceplac e do Mapa sobre a transferência das Emarc para o Ministério da Educação, faltando apenas resolver algumas pendências técnicas. O que nos informam é que a Região Cacaueira ganhará muito com os Ifets. Conversando com o governador Jaques Wagner, soube das mudanças e também já tomei conhecimento de que os servidores das Emarcs são favoráveis à medida. Eu mesmo sou favorável ao modelo da Ceplac que funcionou no passado, com pesquisa, extensão rural e educação profissionalizante, mas é preciso admitir que a última perna do tripé não vinha sendo devidamente utilizada por falta de recursos financeiros ou outras questões.
Quando vigorava esse modelo, o poder público era ausente da região e a Ceplac terminava garantindo o desenvolvimento regional. Isso até por uma questão de lógica, uma vez que a instituição era mantida através de recursos gerados pela própria lavoura. Hoje é diferente e não se justifica orçamentário, humano e de gestão, por parte da Ceplac, para garantir à região uma política pública que tecnicamente é de responsabilidade do governo federal. Se percebermos que é vontade da região uma iniciativa em contrário pode ser solicitada ao ministro Stephanes uma reconsideração do seu posicionamento atual.”
Jaques Wagner
“Na minha primeira visita achei que deveria conversar com o governador Jaques Wagner, que é um dos principais interessados em buscar soluções para a Região Cacaueira da Bahia. Falei da agenda para Ceplac, de questões que discuti com o Mapa e pedi o seu apoio para viabilizar emendas de parlamentares baianos em favor da Ceplac.
Embora tenha muito tempo na instituição, onde ingressei por concurso público em 1980, devo admitir que conheço pouco as questões políticas do Estado da Bahia e o governador me deixou, então, à vontade, para nomear os meus assessores e imprimir o ritmo que desejar à minha gestão. Também conversamos sobre o endividamento do produtor, e o governador fez algumas considerações a respeito do assunto. Solicitei, inclusive, que o governador sugira providencias ou decisões sobre o tema.
Já a conversa com o secretário estadual da Agricultura, Geraldo Simões, também girou em torno do mesmo assunto. Falamos sobre pontos de convergência e possíveis parcerias, até porque precisamos do apoio político da Bahia e das bancadas de outros estados para fortalecer a Ceplac.
Na próxima semana continuaremos nossa conversa sobre a Ceplac analisando questões como orçamento, quadro de pessoal, funções comissionadas técnicas (FCT), bem como situações que dizem respeito à economia regional, como as fábricas de chocolate previstas no PAC do Cacau.”
Pesquisas com cacau
“A Rede Cacau Net é banco virtual de germoplasma com variedades oriundas de todo o mundo. Uma das dificuldades para intercambio maior é que os bancos de Trinidad Tobago e Costa Rica são internacionais, enquanto no Brasil, Equador e Colômbia são nacionais. Isso dificulta maior interação técnica. Tecnicamente a Ceplac não pode, portanto, para abrir seu banco de germoplasma e a contrapartida dos bancos estrangeiros é exigida. Informei isto ao Mapa e o assunto está sendo analisado. Particularmente, sou favorável à abertura pelo que ela pode representar em avanços para o produtor de cacau. Então, a ausência de intercambio não decorre de posicionamento da Ceplac, mas da legislação que disciplina o assunto.”
PAC do Cacau
“A Embrapa tem no ministro Stephanes um ferrenho defensor e também caiu nas graças do presidente Lula. Com o superávit do agronegócio é compreensível que haja todo interesse em fortalecer aquela organização. No Pará, a governadora Ana Júlia Carepa respondeu atendeu à pressão dos agricultores por mais apoio com a elaboração de dois projetos de lei: o PAC do Cacau estadual e a taxação da lavoura cacaueira para criação de um fundo. Foi estabelecido valor sobre o regime de produção em unidades fiscais por volume comercializado para fora do estado. Lá o nível de endividamento do produtor é menor. Além disso, as classes produtoras querem dar uma resposta à questão ambiental, que no Pará é muito levada em conta.
FNE – Verde
“Pesquisei o assunto e vi que não há nenhum absurdo. O FNE –Verde é para agricultura, aplicando-se, obviamente, ao cacau. O ministro Stephanes me disse que a MP 432 foi consenso entre produtores e governo e que situações especificas, como é o caso, devem ser negociadas mais à frente. Em relação ao assunto, o que o governador da Bahia me autorizou a dizer é que não rechaça a sugestão, mas quer agir respaldado em documentos técnicos, uma vez que haverá emprego de recursos públicos nesse projeto.”

