Chefe da delegação brasileira nas duras negociações desta semana na OMC, o chanceler Celso Amorim reagiu com sarcasmo à declaração do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, de que um acordo na Rodada Doha teria pouco impacto para a abertura de mercados.
“Ele deve pensar que acho isso aqui divertido”, disse Amorim ontem, ao chegar à sede da OMC. No dia anterior, ele e outros seis ministros haviam deixado o mesmo prédio às 3h30, depois de negociarem por 12 horas sem progressos nos temas principais.
Para o assessor técnico da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Matheus Zanella, as declarações de Stephanes enfraquecem a posição brasileira e tiram o foco dos benefícios de longo prazo da Rodada Doha para a agricultura.
Zanella, em Genebra acompanhando as discussões, explicou que a atual alta nos preços de alimentos torna desnecessário um acordo para reduzir subsídios agora. Mas limite ao teto permitido serve como um “seguro contra o protecionismo”, valioso se os preços caírem.
Em Brasília, após frisar que há muito tempo não espera resultados concretos da rodada, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, elogiou ontem a atuação do chanceler Celso Amorim, mas criticou os países desenvolvidos: “Não estão agindo de forma correta, estão tentando nos enganar”. Segundo Stephanes, ele verificou, após conversas com ministros, deputados e senadores de países industrializados, que “ninguém tinha intenção de mudar o estado das coisas”. Daí seu “desânimo”.
Mesmo o que os ricos chamam de “concessões” são “promessas vagas, de difícil execução prática”, segundo o ministro da Agricultura. Amorim e Stephanes entraram em rota de colisão devido a novas críticas de Stephanes à Rodada Doha em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, publicada ontem. O ministro da Agricultura reiterou seu descrédito em relação a resultados concretos.
Ao saber da entrevista, alertado por assessores antes de se reunir com representantes de outros seis países, Amorim deu de ombros e orientou diplomatas brasileiros a não criarem caso por causa do assunto, segundo apurou a Folha.
Folha de São Paulo

