O câmbio é eletrônico e basta um toque no botão para trocar de marcha. Em alguns modelos, até seis computadores de bordo regulam, entre outras funções, a troca de marcha no tempo certo do giro do motor, corrigindo possíveis erros de quem está na direção. As alturas do volante e do banco são reguláveis de acordo com a estatura do operador. O ambiente interno da cabine é climatizado e ainda possui porta-copos. Todos esses recursos fazem parte dos modernos tratores agrícolas que hoje invadem os campos graças a alta do agronegócio no Brasil. Porém, um problema atinge os produtores: a falta de mão-de-obra especializada para operar esses equipamentos.
Um operador de grandes tratores ou colhedoras necessita de treinamento. Precisa ter noções de hidráulica, eletrônica, informática e até de inglês, além, é claro, de conhecer as características da lavoura na qual irá trabalhar. Essa é a avaliação de Gersi James Soares, administrador de uma empresa de locação de equipamentos agrícolas em Piracicaba. “A cada ano ocorrem melhorias nos recursos eletrônicos da cabine de comando”, explica Soares. O resultado é a melhora na operação das máquinas, diminuição do desgaste dos operadores e o conseqüente aumento de produtividade. A própria colheita ocorre de maneira mais uniforme, uma vez que algumas máquinas possuem sistema de controle de pressão hidráulica. Esse recurso permite que o corte da cana, por exemplo, seja feito na altura exata ao adaptar as lâminas, de maneira automática, às oscilações do terreno, evitando-se que terra venha misturada à cana.
Soares estima em 35% o déficit de operadores especializados. “Pode parecer absurdo, mas o melhor negócio hoje seria parar a evolução tecnológica das máquinas para investir no operador. Não adianta ter a máquina e não ter alguém para operar”, avalia. E Soares não fala apenas de quem dirige o equipamento. Usinas de cana possuem centrais que monitoram as atividades das máquinas por meio de sistemas de rastreamento via satélite. Podem ser verificadas questões como o consumo de combustível, a velocidade de deslocamento da máquina e se ela está percorrendo o caminho correto dentro da lavoura. Com estes recursos, segundo Soares, é possível reduzir em até 20% os custos de manutenção que, para uma colhedora de cana, variam em torno de R$ 100,00 a hora.
Uma frente de trabalho completa numa lavoura de cana-de-açúcar conta, geralmente, com uma colhedora; dois tratores que puxam até quatro transbordos (onde é armazenada a cana enquanto o corte é feito); um caminhão-pipa para evitar incêndios e lavar as máquinas; um caminhão-comboio que carrega óleo, combustível, entre outros produtos; além de um caminhão-oficina totalmente equipado para fazer reparos no próprio local. Ricardo Campanha, revendedor da Case IH – uma multinacional do setor de equipamentos agrícolas com unidades em Piracicaba, Itu, Curitiba (PR) e Cuiabá (MT) -, explica que 95% da assistência técnica durante a safra é feita no campo. “A máquina custa muito caro, então ela não pode ficar parada”, afirma ele.
Um potente trator, de 240 cavalos de força, como o MX Magnum, que pode ser usado durante entre-safra, para preparar o solo, e na colheita, para puxar os transbordos, custa cerca de R$ 280 mil. Somente a máquina colhedora pode custar até R$ 900 mil. Assim, tudo é feito para se tirar o máximo proveito do caro investimento. Com equipes se revezando em turnos, as máquinas são colocadas para trabalhar 24 horas por dia durante a colheita da safra, que pode durar até 200 dias.
Apesar dos valores envolvidos, César Campanha, proprietário da revenda Trator Soluções Agrícolas e pai de Ricardo, avalia que as projeções de crescimento do setor agrícola, especialmente o sucroalcooleiro, trazem grandes perspectivas para a venda de máquinas. “Se as barreiras às exportações caírem, nossa produção (do Brasil), pode aumentar até cinco vezes”, diz César. Apenas este ano, a sua revenda, que atua nas regiões de Campinas, Piracicaba e Araras, num total de 40 municípios, vendeu cerca de 48 tratores, 38 colhedoras de cana e mais oito de café.
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