Feijão perde terreno no país mesmo com preços recordes

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O preço do feijão ao produtor atingiu no fim deste ano o patamar mais elevado já registrado no país. O desempenho poderia ser motivo de comemoração para quem planta, estímulo ao aumento do cultivo e fonte de reclamação apenas a quem compra o produto no varejo. Analistas e produtores, entretanto, afirmam que a notícia é ruim para quase todos.


 


Segundo a Bolsa de Cereais de São Paulo, o preço da saca de 60 quilos de feijão carioca atingiu na última semana os R$ 260. No Paraná, ele chegou a ser negociado por R$ 270 em regiões como a de Guarapuava, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral). No início de 2007, a média não passava de R$ 70.


 


A sucessão de contratempos começou logo no primeiro trimestre. A boa produção causou oferta elevada de feijão no início do ano, o que derrubou os preços e exigiu compras pelo governo – o preço mínimo é de R$ 47.


 


O desempenho ruim dos preços no início de 2007 levou a um movimento pouco usual nesse mercado: a aceleração das exportações. Em 2005, por exemplo, os embarques somaram 1.996 toneladas. Neste ano, eles chegam a 25 mil toneladas. “Para quem chegou a receber R$ 40 por saca, a exportação acabou sendo uma saída, já que se conseguiu um preço de R$ 65. Mas isso nem de longe é o motivo do avanço dos preços”, afirma Marcelo Lüders, analista da corretora Correpar.


 


Com remuneração depreciada, cresceu o desestímulo ao plantio, o que se transformou no segundo problema enfrentado pelo mercado: a migração mais forte para culturas mais rentáveis. Soja e, principalmente, milho, valorizados no mercado internacional, têm crescido em áreas antes dedicadas ao feijão.


 


O fenômeno não é exclusivo dessa cultura, mas a abateu com mais ênfase porque os preços já estavam depreciados e também porque, afinal, o feijão é um dos principais itens da cesta básica brasileira. “Na conta do produtor, só vale plantar feijão se ele vale quatro vezes mais que a saca de milho. No momento, isso é obtido com folga, mas ninguém garante que vá conseguir isso no mês que vem”, afirma Lüders.


 


A perda de espaço do feijão para o milho foi sentida com mais força no Sul do país. “Em algumas regiões do Paraná, a redução chega a 25%”, diz Sandra Hetzel, analista de mercado da Unifeijão. Segundo o último levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o feijão ocupará área 15% menor no Sul na safra 2007/2008 em comparação com a anterior. O Paraná, principal Estado produtor do país, terá a maior diminuição, de 16,1%, segundo o levantamento. A Conab apresentará hoje sua nova pesquisa.


 


A falta de chuvas foi o terceiro fator a inflacionar a cotação do feijão. O plantio da safra de verão, também conhecida como safra das águas, que já deveria estar em pleno curso, foi empurrada para dezembro. Isso aumentou a entressafra e, com a conseqüente falta de produto no mercado, os preços dispararam.


 


A lógica dos preços do feijão segue a de qualquer mercado: oferta menor na entressafra puxa a cotação para o alto. O produto tem uma particularidade própria, entretanto. A estocagem, que poderia garantir a oferta em anos de entressafra mais conturbada, como o atual, é inviável para essa cultura. Se não completar o ciclo da lavoura à mesa do consumidor em três semanas, o produto começa a perder suas características visuais e de sabor e suas propriedades nutritivas.


 


“Nosso faturamento com feijão caiu 30%, mas as vendas de milho compensaram a diminuição. A procura por milho e soja está muito forte”, atesta Vanir Luiz Rigatti, gerente de produção de sementes de feijão da Sementes Prezzotto. “Em 34 anos nesse mercado, já vi o preço da saca chegar a US$ 100, mas nunca a US$ 150, como agora. Mesmo assim, muito produtor tem preferido plantar milho”.


 


O feijão tem três safras anuais. Somadas, eles devem ocupar 3,9 milhões de hectares no ciclo 2007/2008, segundo a Conab. A queda em relação ao ciclo anterior será de 3,2%. A queda estimada da produção é de 2,5%, para 3,2 milhões de toneladas. No centro-sul, deverá recuar 8,7%.


 


Valor Econômico

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