Teresa Vendramini, 60 anos, é a nova presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Essa é a primeira vez que uma mulher ocupa o cargo na entidade em sua história centenária. Aproximar os produtores rurais dos demais elos da cadeia produtiva e fortalecer a imagem de uma das mais tradicionais e representativas instituições agropecuárias são os principais desafios em seu mandato.
Graduada em Sociologia e Política pela FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Teresa Vendramini é produtora rural, com fazendas de gado no interior paulista e sul-mato-grossense. Na gestão de seu antecessor, Marcelo Vieira, ela foi diretora da entidade e responsável pela criação do departamento de pecuária.
Mãe de Fernanda e avó de Joquinha, e Antonio, Teka, como é carinhosamente conhecida no meio, também é aclamada por movimentos femininos do agronegócio, por chamar a atenção da sociedade civil e do governo ao protagonismo da mulher no campo. “As mulheres estão criando correntes sólidas em torno dos sindicatos rurais, cooperativas ou mesmo em grupos independentes. Uma característica reveladora em todas elas é a busca constante por conhecimento”, comenta Teresa.
O comentário é endossado por levantamentos de instituições renomadas como a Esalq/USP, onde o sexo feminino representa mais de 50% dos alunos dos cursos de Medicina Veterinária, Zootecnia e Agronomia. Em pesquisa realizada em 2017, 88% das mulheres entrevistadas no campo se declararam independentes financeiramente e 45% confirmaram participar da renda familiar.
“Foi desafiador representar uma legião de mulheres prontas para reivindicar sua liderança no agronegócio, mostrando o que pensam, o que temem e de que maneira trabalham”, diz Teresa, destacando a grande proporção e velocidade com que este movimento está acontecendo.
Nos últimos anos, a pecuarista, à frente da diretoria da SRB, ministrou dezenas de palestras incentivando mulheres a assumir o negócio, além de enfrentar os desafios de mercado e das dificuldades em um universo ainda predominantemente masculino. Este trabalho chamou a atenção da executiva Cristina Xavier, autora do Livro “Mulher Alfa”, em que Teresa é uma das personagens escolhidas para relatar sua trajetória no agronegócio. “Grande parte das decisões do agro passarão pelas mãos das mulheres nos próximos anos”, enfatiza Teresa.
Administração com pulso firme
Representar uma entidade como a Sociedade Rural Brasileira exigirá pulso firme de Teresa nas tomadas de decisões, principalmente nas articulações junto ao governo e demais esferas, sejam elas de âmbito técnico ou político. Isso porque a SRB age diretamente no Executivo, Legislativo e Judiciário, questionando decisões arbitrárias e colaborando no aperfeiçoamento de normas e regulamentações impactantes na vida do produtor e na competitividade do agronegócio.
Na administração anterior, por exemplo, a SRB canalizou esforços contra o fim da Lei Kandir, a cobrança do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (FETHAB), no Estado do Mato Grosso, e a proposta da Moratória da Soja no Cerrado. Defendeu as reformas Tributária e Previdenciária como mecanismo de equilíbrio das contas públicas, além da viabilização da venda de terras para estrangeiros, a regulamentação das Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) e a criação do MP do Agro, que está prestes a entrar em pauta na Câmara do Deputados.
Todas as estratégias e iniciativas tendem a ser definidas em conjunto com outras entidades, como o Instituto Pensar Agro (IPA), braço técnico e associativo da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), da qual a SRB é cofundadora. No Estado de São Paulo, é criadora do Fórum Paulista do Agronegócio (IPA Paulista), organização que atua em defesa do agronegócio paulista na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) e Governo Estadual.
Teresa garante estar preparada para tantas responsabilidades. Nos últimos anos, ela participou ativamente de inúmeras discussões relacionadas à cadeia produtiva da bovinocultura no Ministério da Agricultura, em assembleias legislativas e até mesmo no exterior. Colaborou na mobilização dos produtores na Assembleia Legislativa de São Paulo contra a aprovação do Projeto de Lei 31/18, que proíbe o embarque fluvial e marítimo de animais para abate dentro do estado.
Ainda apresentou os principais questionamentos dos produtores em relação ao Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) ao Ministério da Agricultura. Em paralelo, reforçou junto à Federação das Associações Rurais do Mercosul o compromisso brasileiro no combate à doença em países do bloco.
Presença no campo
Nascida em Adamantina (SP), Tereza Vendramini é filha e neta de produtores rurais com 80 anos de tradição na criação de gado, mas o desejo em assumir os negócios da família veio somente aos 40 anos, mesmo com pouca experiência e conhecimento na área.
Para otimizar os lucros e reduzir os custos da atividade, procurou ajuda na Embrapa e até foi homenageada durante as comemorações dos 45 anos da entidade. “Fiquei emocionada com tal reconhecimento. Até hoje lembro da maneira exata com a qual fui apresentada: ‘Representa o Agro que o Brasil precisa: arrojado, ousado, bem informado e realizador”, relembra Teka.
Modernizou a propriedade investindo em tecnologia, infraestrutura, pastos de boa qualidade, manejo nutricional, sanitário, bem-estar animal e uso racional da água. “Um agrônomo e um veterinário assistem ao nosso trabalho, algo que considero ser decisivo à maior competitividade”, diz a presidente eleita da SRB.
Uma referência feminina muito forte da adolescência da nova presidente da Sociedade Rural Brasileira é a Dona Chiquinha, a avó, que acompanhava o avô nas viagens à fazenda, mesmo com todas as dificuldades da época. “Ela sempre o apoiou e, de alguma maneira, influenciou em suas decisões”, conclui Teka.