por Rodrigo Corrêa da Costa*
Com volumes menores negociados diariamente, as bolsas de valores americanas tiveram performance lateral na semana, à espera da confirmação de um afrouxamento monetário pelo FED em julho, apesar da equilibrada condição econômica dos Estados Unidos.
Donald Trump alimenta os mercados com alguma esperança de um acordo da guerra comercial com a China, dizendo que na reunião do G20 encontrará com o presidente chinês para discutir o tema.
O dólar firmou em três das últimas cinco sessões, mas não impediu que o CRB recuperasse levemente, liderado pelos ganhos dos grãos – cujo plantio preocupa por razões climáticas nos Estados Unidos.
O café não conseguiu segurar os ganhos recentes após os fundos terem diminuído significativamente suas posições vendidas e o fundamento, percebido como frágil, não ter atraído novos compradores.
Nova Iorque já está a US$ 10 centavos por libra dos 108,60 que negociou no dia 4 de junho, e Londres encerrou a US$ 119 por tonelada da máxima do dia 3 de junho.
Para piorar o cenário, o relatório dos comitentes divulgado pelo CFTC na sexta-feira pouco inspira os compradores – para ser generoso e não dizer que os baixistas têm mais motivos para se animarem.
Os fundos reduziram suas posições em 1,748 contratos entre os dias 4 e 11 de junho, quando o mercado caiu US$ 8.65 centavos por libra – ou seja, nem uma compra leve (líquida) dos especuladores ajudou a bolsa a subir.
Os atuais 39,364 lotes vendidos dos non-commercials são similares aos 38,971 lotes vendidos em 27 de novembro. Comparando que lá o mercado negociava a US$ 113,30 centavos por libra e na última terça-feira encerrou em US$ 99,50, as chances de vermos o contrato “C” fazendo uma nova mínima parece grande.
Contra o argumento há o Real e seu potencial de firmar diante da aprovação da reforma da previdência no Brasil, assim como as observações de quem está colhendo e que observa uma quebra maior do que se esperava.
O USDA divulgou o seu relatório de oferta e demanda mundial para o café apontando para um superávit de 1.21 milhões de sacas em 2019/2020, ciclo onde a grande maioria dos agentes vê um déficit. Os dados são um dos únicos dois gratuitamente fornecidos ao mercado e são bases para grande parte dos operadores, ou seja, em nada contribuem para uma mudança de sentimento negativo aos preços.
As exportações brasileiras de maio totalizaram 3.519.533 sacas, acumulando nos onze meses do atual ano safra um total de 37.87 milhões de sacas.
Considerando que em junho os embarques devam ser similares, as mais de 41 milhões de sacas exportadas junto com 20 milhões de consumo interno forçam naturalmente ajustes, ou no estoque de carrego – percebido há um ano ser menor do que parece ter sido – ou no tamanho da produção atual.
A Conab informou que no dia 31 de março último os inventários privados no Brasil estavam em 12,8 milhões de sacas – em teoria, insuficientes para abastecer três meses de exportações (10 milhões de sacas) e de consumo (5 milhões de sacas). Sim, é verdade que já tem algum volume de safra nova disponível desde o fim de abril, mas será que dá para tapar o buraco?
No Word of Coffee, feira de cafés especiais da Europa, que aconteceu em Berlim, na Alemanha, o entusiasmo foi similar visto na feira americana, com consumidores interessados em experimentar sabores únicos, buscando rastreabilidade dos produtos junto com sustentabilidade.
Também em Berlim, dois excelentes fóruns reuniram produtores, comerciantes e consumidores para debater com seriedade a questão da sustentabilidade, tema importante em tempos de preços baixos que para a maioria dos produtores não remunera.
A dificuldade em se achar uma solução que consiga ajudar a todos é natural, e creio que um dos pontos fundamentais é quanto que o consumidor está disposto a pagar a mais (ou manter os preços a níveis que apoiem a produção) sem eventualmente buscar alternativas mais baratas para degustar seus cafés.
Em um livre mercado e em um mundo competitivo, na ponta do consumo as empresas acabam sendo pressionadas pelos competidores que dado os preços mais baixos da bolsa atual permitem alguns novos participantes que não usam hedge a venderem mais barato e abocanharem um pouco de market-share dos mais disciplinados – ainda que isto ocorra temporariamente.
Não se inventou algo ainda que substitua o mercado, por mais que muitos reclamem, para fazer o trabalho de ajustar a oferta e a demanda mundial, não tem muito jeito.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting, direto de Nova York