A expectativa de uma safra brasileira de café robusta em 2019 poderá ser insuficiente para fazer frente ao aumento de demanda do consumo mundial estimado em mais de 3 milhões de sacas de 60 kg ao ano. A constatação está em artigo assinado pelo pesquisador Celso Luís Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Projeções indicam a produção nacional pode alcançar entre 56 milhões e 58 milhões de sacas este ano, com forte recuperação da safra de conilon sem, contudo, reverter o ciclo de baixa na produção nacional.
Conforme texto de Luís Vegro, mesmo considerando aumento de produção em países concorrentes (particularmente no Vietnã e em Honduras), a depender dos reflexos dos atuais baixos preços sobre a tecnologia adotada pelos cafeicultores, “o ano de 2020 poderá trazer grande redução na oferta mundial do produto, posicionando a cafeicultura brasileira como a que mais se aproveitará de uma eventual alavancagem nas cotações”.
O pesquisador explica que houve aumento de 23,7% nos estoques mundiais para o ano safra 2018/19, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em seu relatório de dezembro de 2018, totalizando 37,05 milhões de sacas. Tal elevação atua como âncora no processo de formação dos preços futuros do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), promovendo a queda constatada em março e que se arrasta desde meados de 2017.
Na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), o mercado futuro de café robusta seguiu mesma trajetória observada para o caso do arábica, com seguidas baixas nas médias semanais das posições futuras. “A recuperação dos embarques brasileiros de café conilon (529.892 sacas exportadas no primeiro trimestre de 2019, representando avanço de 352% frente a igual mês do ano anterior) e o recorde de produção e exportação vietnamita pressionam o mercado mundial que vivencia momento de expansão dos estoques”, escreve Vegro.
Usualmente, os torrefadores internacionais aproveitam-se do ciclo de baixa nas cotações para incrementar a participação do arábica em suas ligas de café torrado e moído. Essa estratégia repercute em maior pressão sobre as cotações do café robusta. “Sem reversão do atual ciclo, não se pode esperar recuperação nos atuais preços no médio prazo”, conclui o pesquisador.
Estadão Conteúdo