Segundo o boletim da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a cafeicultura de conilon capixaba registrou uma produção de 8,98 milhões de sacas em 2018 após a melhoria do clima da última safra, e apresentou a maior produtividade da história, com 38,59 scs/ha. O que poderia ser motivo de comemoração não tem trazido alegria para os produtores de conilon. Isso porque o preço do robusta está abaixo do esperado.
Produtor da região de Vila Fartura, em São Gabriel da Palha, Ednelson Caminote, afirma que o café sempre fez parte da sua vida, mas foi necessário diversificar. “Hoje tenho mais duas atividades: a pecuária e uma prestação de serviço de secagem e beneficiamento para atender os produtores da região. Sem isso, ficaria muito difícil”, disse.
Ao fazer um comparativo do custo médio, alta dos insumos e valor do café atual que é vendido por cerca de R$285,00 a saca, fica fácil entender a preocupação do cafeicultor.
“O lucro é muito pequeno e temos um alto custo com adubação, irrigação, mão de obra. A situação é ainda mais preocupante porque com o calor que tem feito estimo perder cerca de 10% da produção, o que já representa hoje o que seria meu lucro final”, afirmou.
O coordenador técnico da Cooabriel, Perseu Fernando Perdoná, explica que essa é a realidade de muitos produtores. Segundo ele, o valor tende a elevar quando a média por hectare é menor. A Produtividade baixa reduz a margem de ganho do produtor. Se a produção for de 30 sacas por hectare, por exemplo, o valor da mesma tende a aumentar, visto que alguns custos são fixos. Neste caso, o custo da saca ficaria em torno de R$260,00 ou mais.
Um boletim divulgado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) mostra que quanto menor a produtividade, maiores serão os custos unitários de produção e menor será a competitividade dos cafeicultores. Os preços recebidos pelos produtores também caíram ao longo do ano. De janeiro a dezembro de 2018, o preço do conilon tipo 7 teve queda de R$44,93 por saca. Assim, a conjugação de preços baixos com níveis também baixos de produtividade determina prejuízos ou baixa remuneração para uma parcela muito significativa dos cafeicultores.
“Apesar da safra recorde, houve uma perda aparente de faturamento de aproximadamente R$886 milhões para os cafeicultores capixabas durante o ano passado, se for considerar a diferença de preços entre janeiro e dezembro de 2018. Nessa ótica, o bom indicador de safra alta fica ofuscado pelo baixo efeito na renda agrícola, em face dos preços baixos, ainda mais num período que houve reinvestimento para a recuperação das lavouras, castigadas pela seca em anos anteriores”, concluiu o boletim.
Foram três anos de seca severa, recorda o presidente da Cooabriel, Antônio Joaquim de Souza Neto, que avalia os impactos gerados na atividade dos cafeicultores, e que apesar da melhoria do clima, muitos ainda não se refizeram das dívidas assumidas no período.
Além disto, ele explica que com a alta do dólar, houve aumento muito grande dos preços dos insumos, do combustível e outros itens do processo produtivo, o que está inviabilizando os produtores investirem em suas lavouras, uma vez que o preço do café está baixo e descapitaliza os produtores.
“Os custos aumentam e o café só abaixa. Uma preocupação porque o produtor está deixando de investir devido alta dos insumos. Muitos não adubaram ou adubaram somente a metade do recomendado e outros tratos podem diminuir. Temos altas despesas e se continuar como está teremos sérios problemas” – finalizou o presidente da Cooabriel.
Com informações de assessoria