A produção de cafés especiais é uma atividade que vem crescendo no Espírito Santo e tem proporcionado alternativas de geração de trabalho e renda. No município de Iúna, jovens têm se envolvido nessa atividade e ampliado as possibilidades de atuação no meio rural.
Essa é a experiência da família do agricultor Deneval Miranda Vieira, que mora na comunidade da Fazenda Alegria e produz o Café Cordilheiras do Caparaó. A excelência desse café foi reconhecida pelo 1º Concurso de Qualidade do Café de Iúna, realizado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) em conjunto com a Prefeitura Municipal de Iúna, em 2015.
Com o registro de 88 pontos na escala da Sociedade Norte-Americana de Cafés Especiais (SCAA), o Café Cordilheiras do Caparaó tem atraído olhares do Brasil e do mundo. Um dos fatores de sucesso para o crescimento dessa marca é o trabalho em família, com destaque para o engajamento dos jovens em todo o processo da cadeia produtiva.
Além de trabalhar diretamente na produção dos cafés, Deneval e a esposa, Rosa, com os quatro filhos, Rosival, 25 anos, Douglas, 22, Valsilene, 18, e Deneval Júnior, 16, atuam também na comercialização e na divulgação do produto. Eles fizeram um portal na internet sobre o Café Cordilheiras do Caparaó, criaram página em rede social, como o Facebook, e disponibilizaram um canal de comunicação via WhatsApp.
“Depois de criarmos o site, percebemos que houve mais procura pelos nossos cafés, principalmente de pessoas do exterior. Ao digitar Café Cordilheiras do Caparaó no Google, aparece logo como primeira opção. Na nossa página temos as informações básicas de contato, fotos, um histórico e coordenadas geográficas. A partir disso, as pessoas curtem a página do Facebook e entram em contato pelo WhatsApp”, explicou o filho Rosival.
Segundo Deneval, a participação no mercado de cafés especiais transformou a vida da família, trazendo novas perspectivas para os jovens. “O trabalho com cafés especiais nos possibilitou o acesso à internet, o que colocou o mundo dentro de casa, nos colocou visíveis para o mundo e abriu um campo de oportunidades. Antes, falávamos com vergonha onde morávamos. Hoje temos orgulho de dizer. Aumentou nossa autoestima”, comemorou.
Ele também disse que havia pensado em deixar a roça e os filhos não tinham perspectivas de ficar no campo. “Hoje todos trabalhamos em conjunto e temos a noção de que temos que nos capacitar e especializar em áreas específicas. Cada um já está descobrindo para o que tem aptidão. Um dos filhos pretende fazer administração, e a filha quer ser barista”, falou o agricultor.
Qualidade do café e desenvolvimento regional
Há seis gerações a família do agricultor Deneval trabalha com café. Porém, a forma como era produzido não garantia uma qualidade ao produto. “Eu tinha noção de que nosso café era graúdo, bonito, mas não estava sendo feito de forma adequada. No entanto, não sabia exatamente o que podia melhorar”, explicou.
Aos poucos, a família introduziu o terreiro de cimento para secagem do café, a colheita na lona e outras técnicas que melhoraram a qualidade do produto. Porém, o café não era vendido como bebida mole (sabor e aroma suaves), pois não havia quem atestasse sua qualidade.
Em 2010, o agricultor participou do 1º Concurso Regional da Coocafé, que reuniu cafés de Minas Gerais e Espírito Santo, e ficou em 4º lugar. Nos anos seguintes, continuou participando de concursos e seu café recebeu 85 pontos, em 2014, em um concurso em Espera Feliz, em Minas Gerais. Porém, ainda faltava um apoio mais contínuo ao trabalho desenvolvido por ele.
“Eu tinha necessidade de ter alguém que me apoiasse no processo de qualidade do café. Foi quando o Incaper passou a me orientar. Fomos, por meio de uma excursão técnica, visitar a experiência dos cafés de Brejetuba, onde conhecemos o processo de secagem na estufa e outras tecnologias. Depois fomos incentivados a participar e organizar o concurso de qualidade do município. Foi quando comprovou-se que nosso café era bom. Obtivemos 88 pontos”, contou Deneval. O 1º Concurso de Qualidade do Café de Iúna teve 61 produtores inscritos.
Segundo o extensionista do Incaper que trabalha em Iúna Matheus Fonseca, o Instituto tem feito diversas ações para incentivar o desenvolvimento regional. “O Concurso de Qualidade do Café foi importante para incentivar a melhoria do café em Iúna. Além de valorizar o trabalho dos produtores, possibilitou ao mercado o surgimento de uma nova vitrine para os cafés do Caparaó. Os cafés especiais também têm se tornado uma importante fonte de geração de renda e oportunidade de trabalho para as famílias no meio rural”, disse Matheus.
Ele ressaltou que os cafés especiais estão inseridos no Circuito Turístico das “Serras, Águas e Cafezais”, que reúne empreendimentos de Iúna e Irupi.
Luciana Silvestre