A fabricante americana de chocolates Hershey Co. recusou a oferta de US$ 23 bilhões feita pela gigante produtora de alimentos Mondelez International Inc. neste mês em um momento em que a alta dos preços do cacau está encarecendo a produção.
O custo de dois ingredientes essenciais ao chocolate, a manteiga de cacau e o açúcar, subiu expressivamente este ano, o que não foi bem recebido pelos fabricantes, que já subiram os preços das barras de chocolates e outros doces depois das altas anteriores das commodities. O aumento da concorrência com barras de cereais e outros produtos mais saudáveis está reduzindo a capacidade dos fabricantes de chocolate em elevar ainda mais os preços.
O chocolate ainda representa a maior parte das vendas da Hershey, diz Erin Lash, analista sênior de ações da firma de dados financeiros Morningtar. A empresa tem a maior fatia do mercado de chocolate dos EUA, com 45% do total, e cerca de 88% de suas vendas líquidas são na América do Norte. Ela não identifica o percentual das vendas de chocolate, mas dados da Nielsen indica que o produto representa cerca de 80% de suas vendas nos EUA.
Para a Mondelez, 27% de seu negócio estão vinculados ao chocolate, ou cerca de US$ 8 bilhões dos US$ 30 bilhões de vendas anuais da empresa. Ela fabrica, por exemplo, os biscoitos Oreo.
O nível do preço da manteiga de cacau atual é um dos mais altos dos últimos anos. Isso porque os processadores estão se deparando com um cenário onde a África Ocidental, região responsável por 70% da produção mundial da commodity, está produzindo frutos muito pequenos.
No Brasil, a produção de cacau na safra atual também deve cair, prejudicada pela seca que afeta o Estado da Bahia, maior produtor nacional. “Este ano, pela primeira vez, o Pará que vem ampliando sua produção de cacau, deve superar a Bahia”, diz Ubiracy Fonseca, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Segundo ele, o Brasil deve importar este ano entre 10% e 15% do volume de cacau que consome, em torno de 220 mil toneladas. No ano passado, a importação foi inferior a 5%.
Além disso, no cenário internacional, uma forte queda na produção de açúcar depois de anos de excedente fez os preços futuros subiram 38% em 2016 até o momento, elevando o valor da commodity que representa até 50% do peso da maioria das barras de chocolate, segundo fabricantes de chocolate e tradings.
A manteiga de cacau, principal ingrediente do chocolate, custa hoje 21% mais que há um ano.
“É um momento difícil para os fabricantes de chocolate”, diz Ken Lorenze, diretor da corretora americana JSG Commodities.
“Você realmente não consegue produzir chocolate sem a manteiga de cacau e ela está ficando cada vez mais cara”, diz Lorenze.
Mesmo assim, a maior parte dos custos de produção está no transporte e marketing. Segundo o Cocoa Barometer, consórcio de grupos sem fins lucrativos centrado na sustentabilidade do setor, a compra das amêndoas de cacau dos agricultores representa 6,6% do custo total do chocolate.
Os defensores da sustentabilidade há muito tempo pedem aumentos para os preços pagos aos agricultores, cuja maioria vive abaixo do nível de pobreza.
O aumento recente nos preços de chocolate não está ajudando o consumo, diz ele. Em 2015, fabricantes de chocolate como a Mars Inc., Hershey, Nestle SA, Lindt & Spüngli AG e Mondelez elevaram seus preços em até 8%.
A produção de cacau em Gana, segundo maior produtor mundial, registou uma forte e incomum queda em 2015, depois que os agricultores aplicaram pesticidas no período final da safra. A Hershey informou em sua mais recente conferência de resultados que alta nos preços foi em parte culpada por um recuo de 3,6% nas vendas no segundo trimestre.
A maioria das multinacionais de chocolates não estimaram novas altas de preços da manteiga de cacau e esperavam uma recuperação na oferta para este ano, diz Jeff Rasinski, diretor de commodities e compras da Blommer Chocolate Co.
Os comerciantes de cacau vêm apostando na queda dos preços no mercado futuro desde maio, quando os contratos em dólar tinham 78.810 apostas baixistas líquidas, segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC, da sigla em inglês). Na terça-feira passada, as apostas líquidas baixistas estavam em 61.208 depois que muitos operadores abandonaram suas posições.
Os preços do varejo devem subir 2,2% este ano nos EUA, segundo a Euromonitor International, o menor aumento percentual anual em 10 anos. A alta modesta é resultado dos fabricantes de chocolate não repassarem o aumento dos custos para o consumidor, dizem analistas.
O câmbio também contribuiu para a confusão em torno de precificação do cacau, uma das poucas commodities que ainda é bastante comercializada em libras esterlinas. Na bolsa de futuros de commodities de Londres, a Ice, o cacau é negociado em libras. Embora os futuros de cacau tenham subido em libras recentemente, os preços caíram em euros e dólares americanos.
Os fabricantes de chocolate também estão lidando com uma desaceleração constante na demanda em importantes mercados. E os chamados alimentos saudáveis têm tido um avanço superior ao da categoria de confeitos por pelo menos 10 anos.
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