
A Casa do Cooperativismo Capixaba foi palco de um momento importante para a cafeicultura do Espírito Santo. Na tarde desta segunda-feira (11/8), foi realizada a cerimônia de assinatura do Acordo de Cooperação Técnica do Programa Café Produtor de Água, uma iniciativa nacional voltada para a revitalização de mananciais e preservação de matas ciliares em áreas produtoras de café.
A parceria foi firmada entre o Conselho Nacional do Café (CNC) – organização idealizadora do programa, a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), a Secretaria se Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), o Sistema OCB/ES e as cooperativas Cooabriel, Nater Coop, Cafesul e Sicoob ES.
A abertura do encontro foi marcada pela formalização do acordo. Assinaram o documento o presidente do Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro,; Felipe Rigoni, secretário de Meio Ambiente do Espírito Santo; Enio Bergoli, secretário de Agricultura do Espírito Santo; Bento Venturim, presidente do Sicoob ES e conselheiro diretor do CNC; Dr. Pedro Scarpi Melhorim, presidente do Sistema OCB/ES; Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabiel; Denilson Potratz, presidente da Nater Coop; Renato Theodoro, presidente da Cafesul; e Carlos André Santos de Oliveira, diretor-executivo do Sistema OCB/ES.
A solenidade foi conduzida pelo analista de Desenvolvimento Cooperativista do Sistema OCB/ES Vinícius Schiavo, responsável por atender às demandas das cooperativas de café do Espírito Santo. O profissional lembrou que o acordo viabiliza a implementação de um programa nacional, idealizado pelo CNC e agora conduzido a muitas mãos. “O Café Produtor de Água tem muitos parceiros e depende de que todos estejam alinhados e em pé de igualdade em termos de contribuição e responsabilidades”, frisou.
Na sequência, Gabriel Nunes Junior, engenheiro agrônomo e gerente do programa Reflorestar, explicou que a iniciativa administrada pelo governo estadual dialoga com o programa do CNC abraçado pelo cooperativismo capixaba. “Os programas Reflorestar e Café Produtor de Água são bem estruturados, sinérgicos e complementares. Essa parceria com as cooperativas vai trazer uma capilaridade muito grande para ambos, porque elas [as cooperativas] vivenciam o dia a dia dos produtores rurais. Hoje, o nosso principal gargalo é a mobilização desse público, e essas cooperativas poderão nos ajudar a ter mais adesão”, destacou.
Em seguida, Devanir Garcia dos Santos, consultor do CNC, falou sobre a necessidade de preparar as propriedades rurais para prevenir crises hídricas. “A adequação do espaço rural é fundamental para manter água dentro das propriedades, mas é preciso que o ambiente esteja adequado, com remanescentes florestais e áreas de plantio sistematizadas. Isso é fundamental para que os espaços possam produzir conforme o que se espera deles”, elucidou.
Lideranças elogiam a iniciativa
Dr. Pedro Scarpi Melhorim, presidente do Sistema OCB/ES, enfatizou a similaridade dos objetivos do programa Café Produtor de Água com os princípios e valores do cooperativismo. “A preservação e o cuidado com o meio ambiente já estão no DNA do cooperativismo. Em quase 30 anos de experiência nesse modelo de negócio, percebi que o conceito de preservação se transformou. Na época em que comecei a atuar no setor, as ações eram isoladas. Isso mudou completamente com a ascensão do conceito de ESG”, recordou.
Carlos André Santos de Oliveira, diretor-executivo do Sistema OCB/ES, agradeceu aos órgãos governamentais, cooperativas e profissionais envolvidos no programa, que considera benéfico para os capixabas. “Não poderia deixar de registrar a importância desse momento histórico que foi desenhado a muitas mãos. Com certeza, essa iniciativa será muito boa para a cafeicultura, para o meio ambiente e para o cooperativismo no Espírito Santo”, disse.
Felipe Rigoni, secretário de Meio Ambiente do Espírito Santo, alertou sobre a necessidade de aliar a sustentabilidade aos objetivos financeiros dos produtores rurais. “Não tem como cuidar do meio ambiente sem conversar com quem cuida da terra. Por isso, o programa Reflorestar, que nasceu em 2011, deu tão certo ao longo do tempo, porque ele conversa com o produtor rural. Produtor no vermelho não vai se preocupar com isso [sustentabilidade], por isso é essencial que programas de sustentabilidade também sejam motores de prosperidade econômica”, refletiu.
Enio Bergoli, secretário de Agricultura do Espírito Santo, frisou a importância de integrar políticas públicas para proteger recursos hídricos e promover o desenvolvimento sustentável da cafeicultura capixaba. “Mais do que na preservação, a água é o principal insumo de produção no Espírito Santo. Para dois terços do nosso território, o balanço hídrico é negativo. A quantidade que chove é inferior à necessidade das plantas somado à evaporação. Isso se agrava muito mais nesses tempos de mudanças climáticas, e por isso precisamos preservar recursos hídricos e armazenar água de forma integrada”, ressaltou.
Renato Theodoro, presidente da Cafesul, trouxe uma visão do mercado internacional em relação à sustentabilidade e seus impactos na produção brasileira e capixaba. “A Europa já é muito consciente das questões ambientais e cobra muito das indústrias e empresas. Consequentemente, essa cobrança chega a nós, e temos que buscar fazer o nosso dever de casa também. O programa Café Produtor de Água é mais um passo que estamos dando nessa direção”, celebrou.
Quem também demonstrou interesse pelo programa foi Denilson Potratz, presidente da Nater Coop. “Não poderíamos deixar de apoiar um projeto desses, pois, enquanto cooperativa, lidamos diretamente com o produtor e a sua propriedade e sempre devemos incentivá-lo a preservar, pois assim podemos avançar e mostrar para o mundo que estamos fazendo a coisa certa”, ponderou.
Bento Venturim, presidente do Sicoob Central ES e conselheiro diretor do CNC, defendeu a otimização de recursos, que julga estar sendo aplicada no programa recém-lançado no Espírito Santo. “Nunca pensamos que poderíamos ter uma parceria como essa que estamos celebrando aqui hoje. O programa, que começou em Minas Gerais, só não foi iniciado antes no Espírito Santo porque ainda não tínhamos técnicos e verba. Por isso, precisamos otimizar os recursos do estado, e o programa Café Produtor de Água é um exemplo dessa concentração de esforços, principalmente em termos financeiros”, analisou.
Por sua vez, Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel, considera essencial lembrar o produtor rural constantemente sobre a necessidade de ele lidar com o meio ambiente de forma adequada. “Entre 2014 e 2016, passamos pela maior crise hídrica da história do Espírito Santo. Quem vivenciou aquele momento sabe como foi difícil atravessá-lo, com escassez até de água para beber. Por isso, precisamos ter medidas para amenizar essas situações, e o programa Café Produtor de Água vem de encontro a isso”, fortaleceu.
Silas Brasileiro, presidente do CNC, encerrou a rodada de falas frisando a relevância do poder público para viabilizar o sucesso do programa no território capixaba. “Uma iniciativa desse alcance não poderia ter sucesso se não tivesse o apoio governamental. O Espírito Santo e outras regiões já tiveram déficits hídricos muito fortes, e a criação do programa Café Produtor de Água vem para amenizar esse cenário, por meio de um projeto piloto iniciado em Minas Gerais”, finalizou.
Sobre a Acordo de Cooperação Técnica
A parceria prevê a integração de esforços entre as partes para o desenvolvimento, implantação, operacionalização e acompanhamento da iniciativa, com o objetivo principal de promover ações que fomentem o fortalecimento da cafeicultura sustentável.
O foco é conservar e recuperar solos e mananciais, ampliar a segurança hídrica e promover a adequação ambiental das propriedades rurais produtoras de café, bem como promover o repasse de prêmios mediante a execução de ações alinhadas com os objetivos do programa por parte de proprietários rurais que a ele aderirem.
O programa será operacionalizado em todo o estado do Espírito Santo, no âmbito da atuação das cooperativas Cooabriel, Cafesul e Nater Coop, bem como as demais partes envolvidas e futuros interessados. O acordo terá uma duração de 60 meses a partir da data de assinatura, podendo ser prorrogado por igual período.
Entre outras obrigações, caberá às cooperativas divulgar a iniciativa junto aos seus produtores cooperados e mobilizá-los para participar do programa, apoiar a execução de ações de adequação ambiental das propriedades rurais e auxiliar os produtores cooperados na elaboração dos projetos em consonância com o Acordo de Cooperação Técnica.
Sobre o programa
O Programa Café Produtor de Água é uma iniciativa idealizada pelo CNC que nasceu em 2021, com o objetivo de cuidar do meio ambiente. O programa prevê a preservação das vegetações e matas ciliares, plantio de árvores e proteção dos mananciais, além de proporcionar a recuperação de estradas rurais, fundamental para escoamento da produção e melhoria da qualidade de vida da população rural.
Parte da estratégia desse programa é premiar os produtores rurais de café por seus serviços ambientais, com o direcionamento de recursos para que eles possam fazer adaptações e investimentos, recebendo mais reconhecimento em sua estrutura de sustentabilidade.
No Espírito Santo, a ideia é unir esforços com ações já existentes, como o Programa Estadual de Ampliação de Cobertura Florestal, o Reflorestar, executado pela Seama; e o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura, da Seag; ambos compartilham os mesmos princípios do Café Produtor de Água.
A proposta de trazer o Programa Café Produtor de Água para o Espírito Santo começou em 2024. Em novembro do mesmo ano, um encontro também realizado na sede do Sistema OCB/ES reuniu representantes do CNC e das coops capixabas para discutir o tema. A partir da boa receptividade, a parceria foi sendo construída, até chegar ao momento da assinatura desse termo.
A parceria atende a uma demanda cada vez mais presente na sociedade, que é a busca pela sustentabilidade na cadeia produtiva do café. A iniciativa ainda é benéfica ao fomentar parcerias institucionais que viabilizem a adoção de práticas conservacionistas e estratégias de manejo voltadas à ampliação da cobertura vegetal, à redução da erosão e sedimentação e ao aumento da infiltração de água no solo.
O Brasil é o maior produtor de café do mundo. De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Espírito Santo é 2º maior produtor brasileiro de café conilon e o terceiro maior produtor de arábica. O estado é responsável por mais de 30% da produção do país. Atualmente, existem 402 mil hectares em produção no estado. A atividade cafeeira é responsável por 37% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola capixaba.
No Espírito Santo, a ação também conta com o apoio da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Incaper.
Assessoria de Comunicação OCB/ES