
Grãos com mais qualidade, baixas emissões de poluentes, custo reduzido com mão de obra no processo de secagem, além de mais segurança operacional e à saúde dos trabalhadores. Esses benefícios têm levado produtores de café conilon do Norte e Noroeste do Espírito Santo a substituírem o uso de fornalhas à lenha ou palha pelo gás GLP. O valor final da saca com o uso do gás chega a R$ 40,00, custo-benefício que tem atraído produtores na implantação da tecnologia que há anos está no mercado capixaba.
Na propriedade dos irmãos Julio Cezar Barbosa Filho e Luiz De Marchi Machado Barbosa, em Jaguaré, após todos os testes e ajustes realizados durante a colheita deste ano, chegou a um custo de R$ 35,87 por saca. Na próxima, seus sete secadores funcionarão a gás. Na secagem à lenha o custo é R$ 23,82/saco, uma diferença de R$ 11,90, que o produtor Julio Cezar Barbosa, pai dos proprietários, diz compensar.
“Compensa, pois tenho um café de mais qualidade, com mais segurança para os colaboradores na secagem e, para a comunidade ao entorno, devido à fumaça que também aumenta o risco de acidentes nas estradas”, frisou Julio.
A secagem do café conilon produzido no Sítio Schiffelbein, em Córrego Icaraí, município de Pancas, no noroeste do Estado, foi feita 100% com o uso de gás durante a safra de 2025. O produtor Jucelio Schiffelbein aponta os resultados alcançados com a tecnologia.
“Nossa secagem era terceirizada e feita com lenha. Com o uso de gás nessa safra tive no mínimo duas sacas a mais por secador, sem contar melhorias no fator qualidade do grão, com microlotes tipo 6 atingindo 82,75 pontos de classificação para bebida. Outro fator importantíssimo foi a sustentabilidade, pois trabalhamos com energia limpa, sem gerar poluição para o meio ambiente. Sem contar que no campo estamos enfrentando um sério problema que é a escassez de mão de obra e, devido à tecnologia, não precisei contratar ninguém para fazer o manejo do secador devido à automação”, informou Jucelio.
O professor do Ifes Campus Venda Nova do Imigrante, Aldemar Polonini Moreli, que tem desenvolvido estudos sobre os sistemas de secagem na instituição e em diversas propriedades cafeeiras, explica que a geração de ar quente, por meio do gás GLP, proporciona uma temperatura homogênea ao longo do processo e uma condição do produtor automatizar o sistema de secagem, ampliando o rendimento final do café.
“É possível, com a substituição das fornalhas de fogo direto por uma fonte de calor contínua, através dos geradores de ar quente a gás, obtermos uma secagem que proporciona a manutenção das características elevadas dos grãos. Atualmente é viável, numa propriedade com secadores rotativos, secar o café sem o envolvimento de mão de obra diretamente e de forma constante, gerando uma grande oportunidade e o aumento de lucro para o produtor, pois a adoção de sistemas de secagem mais eficiente, elevará o rendimento final proporcionando maiores lucros, além da ampliação da vida útil dos equipamentos, da sustentabilidade ambiental e da qualidade de vida”, detalhou o professor.

Viável do ponto de vista agronômico
O Incaper também tem acompanhado essa tendência em propriedades de conilon e arábica. Do ponto de vista agronômico, a tecnologia é considerada eficiente pelo órgão e viável economicamente, afirma o engenheiro agrônomo, especialista em café e coordenador de Cafeicultura do Incaper, Fabiano Tristão.
“A secagem do conilon hoje funciona em fornalha de fogo direto e a fumaça vai direto para o grão. Então, essa tecnologia vai alavancar bem a qualidade, pois elimina um dos problemas mais sérios do nosso café que é a fumaça”, disse Tristão.
Outro ganho com a tecnologia diz respeito a saúde dos trabalhadores, informou Francisco Orival, engenheiro da fabricante especializada em queimadores industriais responsável pela instalação na propriedade de Jaguaré. “Como não há necessidade de abastecer fornalhas, evita-se a exposição ao risco de doenças provenientes dos esforços realizados para carregar lenha, picadas de insetos peçonhentos e exposição ao calor e partículas tóxicas e carcinogênicas geradas na queima da biomassa”, explicou.
Dentre outras vantagens apontadas pelo engenheiro, quando comparada a secagem a gás a outros métodos, estão: baixas emissões de poluentes; combustão que não gera materiais particulados; preservação da mata nativa; e baixa manutenção mecânica nos secadores, pois o calor e gases gerados pela queima do GLP não são corrosivos.

Controle de temperatura e qualidade dos grãos
O coordenador de Cafeicultura do Incaper reforça que no método a gás o produtor pode automatizar seu funcionamento e, por meio de aplicativo, monitorar e controlar a temperatura.
“Por ter pouca oscilação de temperatura com uso do gás, que mantém uma chama constante, a uniformidade de secagem dos grãos fica muito boa, ao contrário dos outros métodos tradicionais. Secando o Conilon a 60 graus, e o arábica a 40, fazemos um café de excelência. Sem contar que está cada vez mais difícil encontrar lenha para comprar, que exige nesse processo uma pessoa para monitorar, enquanto a gás se monitora até pelo aplicativo”, detalhou.
Antônio Carlos de Freitas Drumond (Cacá) relata que a tecnologia chegou no Espírito Santo há 20 anos, quando procurado para atender a demanda em Brejetuba, na região serrana capixaba. Um produtor preparava um lote de café especial para exportação e precisava de um produto com mais qualidade. Cacá explica sobre o diferencial que a tecnologia agrega ao processo pós-colheita.
“Quando o café é colocado no processo de secagem o gás corta o início da fermentação. Não me refiro à fermentação controlada, este é outro processo. A vantagem é que ao regular a temperatura ela se manterá conforme determinada pelo produtor. Essa constante impedirá a fermentação do grão, contribuindo para menor perda possível da qualidade durante o pós-colheita”, declarou o fabricante de gerador de calor a gás.
O coordenador de Cafeicultura, Fabiano Tristão, informou, ainda, que hoje existem empresas de gás fornecendo o queimador em comodato para poupar o agricultor de comprar o equipamento. Ao utilizar o gás, o produtor terá um consumo de seis quilos por hora.
Valda Ravani, Jornalista, Redação Campo Vivo