Mancha de Corynespora ou de cercosporiose em cafeeiros conilon do clone P1

por Portal Campo Vivo

Por José Braz Matiello

Uma ocorrência anormal de manchas marrons em folhas e frutos vem ocorrendo de forma severa nos últimos anos em cafeeiros conilon na região Norte do estado do Espírito Santo, problema que se mostra relacionado às plantas do clone P1.

A reprodução do cafeeiro conilon, visando maior produtividade, tem sido feita, predominantemente, por clonagem, com uso de mudas por estacas. Um grande número de clones tem sido distribuído e plantado, sendo alguns clones oriundos de instituições de pesquisa e outros selecionados pelos próprios produtores e viveiristas.

O clone P1 é um dos clones desenvolvidos por produtores/viveiristas privados e tem sido plantado comercialmente. Ele apresenta características desejáveis como boa produtividade, tolerância à ferrugem e frutos graúdos. No entanto, desde a fase de muda, já se observa a sua maior susceptibilidade à ocorrência de lesões nas folhas, sendo de cor marrom com halo em volta amarelado. A princípio supunha-se que, na fase adulta das plantas, essa susceptibilidade desapareceria. No entanto, as constatações recentes de sintomas de doenças em folhas e frutos restritos a esse clone indicam que ele, pela sua constituição genética, ou pela sua maior fraqueza ou menor vigor, se mostra mais susceptível a uma doença estranha, cujos sintomas se assemelham aos descritos tanto para cercosporiose, como para mancha de Corynespora. Assim, ao se optar pelo plantio desse clone, devem ser adotados cuidados e, sempre que necessário, praticar o controle químico.

A mancha de Corynespora e a cercosporiose são doenças de natureza fungica, que atacam folhas e frutos do cafeeiro, causando sintomas parecidos e de difícil distinção entre eles. Em cafeeiros da espécie C. arábica, a cercosporiose é extremamente comum, ocorrendo, em maior ou menor grau, em praticamente todas as lavouras. Já em cafeeiros da espécie C. canephora ou robusta, a cercosporiose não é problemática, não aparecendo ataques significativos, por isso não merecendo qualquer controle. Quanto à mancha de Corynespora, também conhecida por mancha alvo, o patógeno é cosmopolita e pode ser encontrado em todas as regiões agrícolas do Brasil. A espécie do fungo é Corynespora cassiicola, sendo um patógeno que ataca plantas de cerca de 50 famílias, como soja, algodão, cacau, feijão e outras culturas econômicas. Este fungo possui como sinonímia – Cercospora melonis, Cercospora vignicola, Corynespora mazei, Corynespora melonis, Helminthosporium cassiicola e Helminsthosporium papayae. Talvez por essa semelhança, amostras de folhas do clone P1, com os sintomas de mancha marrons enviadas para laboratório, não tiveram identificação definida.

A mancha de Corynespora em cafeeiros robusta teve o primeiro relato de ocorrência em 2009, com ataque exclusivo no sub-clone 3, do clone de conilon Vitória. Agora, a ocorrência de sintomas semelhantes e, também, exclusivos em plantas do clone P1, indicam, como no caso do clone 3, uma maior susceptibilidade genética dessas plantas. Finalmente é importante citar que a doença por Corynespora ainda não foi constatada atacando cafeeiros da espécie arábica.


Lesões típicas do suposto ataque de Corynespora em folhas e frutos de cafeeiros robusta-conilon, do clone P1. Pinheiros (ES), abr/21. As lesões em cafeeiros não são tão circulares e nem apresentam anéis concentricos, como são comuns em outras culturas


Lesões típicas do ataque de doença em folhas de cafeeiros conilon do clone P1, em Colatina (ES). Fica a dúvida sobre o fungo, pois elas se assemelham às lesões típicas de ataque de cercosporiose

por José Braz Matiello

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