A saca do feijão registra no Brasil alta de até 575% em relação às cotações verificadas no ano passado. No Paraná, maior produtor nacional, os preços mantiveram média de R$ 40 em 2006. Neste ano, a máxima observada na Bolsa de São Paulo foi de R$ 270. De acordo com o responsável pela cultura, o técnico em planejamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) João Figueiredo Ruas, além da redução de área na atual temporada, de quebra de produção por questões climáticas, a alta do poder aquisitivo da população contribuiu para a maior demanda pelo grão. Ontem, o pouco do produto disponível no mercado físico sofreu uma pequena redução, sendo negociado a R$ 235. Já no sudeste paulista, por exemplo, a saca de 60 quilos tem média de R$ 240.
Depois de uma superoferta em 2006, o feijão vivencia neste ano o ciclo contrário da produção agrícola: a escassez. A grande safra passada culminou em preços desestimuladores ao produtor, que por sua vez optou por culturas mais rentáveis e de menor risco, como o milho e a soja, neste ano. Além de uma área menor, o feijão com cultivo iniciado em agosto encontrou condições adversas de clima, fatores que juntos vão representar num recuo de 2,4% na produção e de 9,5% na área plantada. O momento atual de entressafra deverá pressionar os preços do grão até fevereiro, quando ela se espalha pelos estados produtores do Centro-Sul. “Oferta restrita resulta na pressão sobre os preços”, aponta o analista.
De acordo com informações apuradas pela Conab, o El Niño retardou a chegada das chuvas e atrasou o início do plantio. Como lembra o técnico, até este mês, apenas 10% das lavouras paranaenses estão colhidos, contra 20% em igual período do ano passado. Com este atraso, as projeções feitas pelo Departamento de Economia Agrícola do Paraná (Deral) apontam para que em janeiro (2008), forte da colheita naquele Estado, somente 40% da área esteja colhido, contra 70% em janeiro de 2007.
O último levantamento de safra realizado pela Conab, e apresentado no último dia 10, confirma que a área plantada com feijão 1ª safra – “safra das águas” – é inferior à cultivada na safra anterior em 9,5%, passando de 1,6 milhão de hectares para 1,4 milhão de hectares. Os motivos dessa retração foram os baixos preços recebidos pelos produtores na safra 2006/07 aliados às baixas precipitações pluviométricas, seguidas de estiagens prolongadas e baixas temperaturas verificadas no final de agosto e setembro, época do plantio nos principais estados produtores (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais).
Já a produção estimada é de 1,5 milhão de toneladas, inferior à da safra passada em 2,4% (37,8 mil toneladas). Desse total, a região Sul produzirá 46,2% (706,7 mil toneladas), o Sudeste 21,8% (333,6 mil toneladas), Centro-Oeste 9,6% (147,2 mil toneladas), Nordeste 21,9% (335,8 mil toneladas) e o Norte 0,5% (6,9 mil toneladas).
CONSUMO – Porém, Figueiredo acredita que a tendência de alta será minimizada neste mês e em janeiro, período de festa e férias, quando tradicionalmente o consumo é menor. De acordo com ele, a grosso modo a produção de feijão se divide da seguinte forma no país: 40% da produção é formado pelas variedades ‘preto’ e ‘nordestino’ e o restante (60%), pelos chamados ‘anão cores’, que agregam variedades como jalo, carioca e rosinha, por exemplo, mas o ‘carioca’ responde por 90% da categoria ‘anão cores’.
O analista frisa que há estoque suficiente de feijão preto, já que o país não é auto-suficiente nesta variedade e as importações são praxe do mercado. Em 2006, 90 mil toneladas foram importadas da Argentina e até agora 65 mil t de feijão preto já foram trazidas para o mercado interno. “A escassez do carioca é uma realidade porque esta variedade não tem aceitação no mercado externo e tem sua produção dependente das lavouras internas”, esclarece.
Diário de Cuiabá