O Brasil poderá solicitar a abertura de um contencioso contra o Chile e a África do Sul devido aos embargos impostos à carne brasileira desde 2005, quando da ocorrência de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e no Paraná. Para analistas de mercado, a proposta da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) pode servir de estratégia contra as barreiras sanitárias. O assunto, no entanto, ainda não está em discussão no Itamaraty.
“A idéia de entrar com um pedido na Organização Mundial de Comércio (OMC) está em gestação. Chega de ficar respondendo questionário”, afirma Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da Abiec. Além do Chile e da África do Sul, ele diz que a União Européia também não tem porque ficar reclamando de questões sanitárias no Brasil, uma vez que o bloco tem problemas – como a febre aftosa e a doença da língua azul – referindo-se à queda nas vendas para o Reino Unido por protecionismo dos irlandeses.
Para ele, uma das soluções seria a entrada de frigoríficos brasileiros naquele país. O diretor de Relações com Investidores do Friboi, José Paulo Macedo, diz que a empresa não estuda a entrada neste país, mas estar cada vez mais nos mercados consumidores e de maior valor agregado.
Pratini de Moraes afirmou que o governo precisa ser mais duro em relação a essas questões, acrescentando que, quando foi ministro da Agricultura (no governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1999 e 2002) havia um enfrentamento maior – ocasião em que o País abriu os contenciosos do algodão, do frango e do açúcar. Segundo ele, faltaria “firmeza” dos últimos titulares da pasta. A aftosa ocorreu na gestão de Roberto Rodrigues e o problema persistiu com Luís Carlos Guedes Pinto e Reinhold Stephanes. Recentemente, o atual ministro anunciou o retorno das vendas para a Rússia.
O presidente da Abiec informou ainda que uma missão da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) chegou ao Brasil para verificar os trabalhos realizados no combate ao surto de febre aftosa, devendo reconhecer o caso como encerrado. A expectativa da Abiec é que a OIE ratifique o parecer do governo, mas o resultado só será divulgado na reunião de maio do ano que vem.
“O Brasil demorou para fazer isso. Não existe justificativa técnica para esses embargos. Todas as medidas cabíveis foram tomadas”, avalia Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Para o diretor da AgraFNP, José Vicente Ferraz, uma provável discussão na OMC não é tanto pelos valores de mercado, mas por um princípio. “É para firmar posição e não deixar que outro importador adote a mesma medida”, acredita. Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, diz que, um contencioso é possível, pois já se passaram dois anos do foco, conforme as regras da OMC. Ele acha mais prudente, no entanto, que o País espere o resultado da missão do organismo.
Perspectivas para 2008
Apesar de afirmar que “nem tudo são flores”, a Abiec faz previsões otimistas para o ano que vem. Pelas projeções da associação, o País deverá aumentar em até 5% as vendas externas em volume e até 15% em receita, percentuais semelhantes a 2007. As estimativas da associação é que neste ano sejam embarcadas 2,5 milhões de toneladas em equivalente carcaça, somando US$ 4,45 bilhões.
“Acredito que será um número próximo porque o mercado internacional é comprador e os preços estão em alta”, afirma Ferraz. Segundo ele, ainda não é possível prever se as quedas nas vendas ocorridas desde julho são sazonais ou não e se poderiam influenciar nos números de 2008.
As estimativas da Abiec incluem a abertura de mercados como Cuba, Malásia e China. Para Molinari, é possível garantir esta estimativa, pois além disso, o País terá de volta o mercado russo. “Em 2008, em principio não deve haver mais embargos”, afirma.
Já Rosa acredita que os números possam ser até otimistas. “Não estranharia se viessem a recuar, pois a produção de carne deve diminuir”, diz. Ele acrescenta que os preços do mercado interno reagiram acima dos da exportação, favorecendo as vendas para o consumidor local.
Gazeta Mercantil