A prometida unificação das estimativas oficias para a safra de grãos, fibras e cereais corre o risco de naufragar na disputa metodológica que separa as previsões de Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O terceiro levantamento de safra, divulgado ontem de forma simultânea por ambas instituições, resume bem as diferenças. A Conab estimou uma colheita total de 134,8 milhões de toneladas para o ano-safra 2007/08, que termina em junho do próximo ano. O IBGE projetou 137,3 milhões de toneladas para todo o ano civil de 2008.
A diferença de 2,5 milhões de toneladas (1,8%) está sobretudo na forma de consolidação dos dados coletados em campo pelas equipes das duas instituições. A Conab apura as informações e faz uma ponderação baseada em médias de produtividade de safras anteriores e projeções climáticas para o ano-safra. O IBGE coleta os dados em campo e faz a divulgação sem essas eventuais variações de clima.
A diferença fica evidente nas projeções para o milho safrinha. No caso do trigo, desponta outra distinção, mas de períodos considerados. Dadas as incertezas climáticas, a Conab demora mais para atualizar sua projeção de uma safra para outra.
A diferença nas estimativas de ontem decorreu de três fatores. O principal foi a previsão da Conab sobre o impacto do fenômeno La Niña no Sul do país, que pode resultar em seca prolongada e reduzir a produtividade das lavouras de milho e soja, sobretudo no Rio Grande do Sul. Mais otimista, o IBGE não prevê impactos do fenômeno climático. “O clima está bom agora, mas o La Niña vai pegar soja e milho no Sul no auge da formação dos grãos”, diz o gerente de Levantamento e Avaliação de Safras da Conab, Eledon Pereira de Oliveira. “Vai depender, é claro, do grau de intensidade do fenômeno”.
Os especialistas do governo também divergiram na produtividade prevista para a segunda safra de milho do Centro-Oeste, cujo plantio sofrerá atraso em razão da falta de chuvas para semear as mesmas áreas com soja durante a safra de verão.
A Conab reduziu a performance das lavouras enquanto o IBGE elevou a previsão de produtividade. Ambos também divulgaram estimativas conflitantes para a produção de algodão em Mato Grosso. A Conab reduziu a previsão de área plantada porque o atraso no plantio deve resultar na colheita do produto apenas em fevereiro, e não em janeiro, como costuma acontecer. “Vamos conversar com a área técnica do IBGE para entender o que aconteceu. Mas mesmo assim acredito que avançamos nesta parceria porque reduzimos as diferenças para menos de 2%”, afirmou o diretor de Logística da Conab, Silvio Porto.
As previsões, porém, foram bastante distintas para as principais culturas do país. Na soja, a diferença chegou a 2,2%, ou 1,26 milhão de toneladas. O IBGE estimou colheita de 59,4 milhões de toneladas em 2008 (2% superior a 2007), enquanto a Conab previu safra de 58,1 milhões de toneladas para 2007/08 – redução de 0,5% sobre 2006/2007. No caso do milho, cuja demanda tem crescido de forma vigorosa, a divergência foi maior: 2,4%, ou 1,23 milhão de toneladas. A Conab previu 52,3 milhões e o IBGE, 53,5 milhões. Para o caroço de algodão, a Conab estimou 2,47 milhões de toneladas e o IBGE projetou 2,52 milhões.
Valor Econômico