A palavra rastreabilidade não faz parte ainda do nosso cotidiano, mas significa seguir os rastros de alguma coisa, no caso, o histórico do animal desde o nascimento ou aquisição até o momento do seu consumo ou de uma de suas partes.
A declaração do Governo britânico, na década de 90, admitindo que o consumo da carne bovina de animais que apresentaram Encefalopatia Espongiforme bovina, mais conhecida como a “doença da vaca louca”, enfermidade essa decorrente da alimentação dada ao gado com rações à base de proteína animal, poderia transmitir aos seres humanos o mal de Creutzfeldt-Jacob, provocou grande impacto no consumo de carne na Europa, tornando crescente a preocupação e a exigência por produtos com certificação de origem e qualidade pelos países consumidores.
A reação das autoridades européias e dos agentes do setor à crise provocada pela chamada “doença da vaca louca” apontava para um tema: a necessidade de estabelecer um enfoque integrado entre os elos na cadeia da carne, de modo a recuperar a confiança dos consumidores que cada vez mais exigiriam do exportador seu enquadramento nas regras internacionais que garantissem a segurança alimentar, a gestão ambiental por meio de desenvolvimento sustentado da propriedade rural e o bem-estar do animal.
Faço este histórico para mostrar que o conceito de Rastreabilidade envolve a recomposição da história do produto alimentício podendo, assim, ser útil estabelecer: 1. a origem exata de uma produção de animais, com vários fatores que incorporam seu desenvolvimento; 2. o histórico dos processos aplicados ao produto e, 3. a distribuição e a localização do produto acabado.
Para assegurar a solidez e a confiança, é essencial que todos os identificadores e as trocas de informações estejam padronizados, sem pontos fracos. A identificação eficiente deve certificar-se de que o animal “a” está conectado a seu ascendente a-1 e a seu descendente a+1. Rastreabilidade descendente consiste em encontrar o destino industrial ou comercial de um lote de produtos até o armazenamento no ponto de comercialização. Ao contrário, Rastreabilidade ascendente permite o levantamento de todos os estágios, começando de um lote de produto acabado até encontrar a origem, o histórico e a origem do lote.
A Rastreabilidade é um requisito fundamental em todos os sistemas de qualidade e deve ser baseada no HACCP – Hazard Analysis Critical Control Point (Análise de Riscos e Pontos Críticos de Controle), bem como no código de boas práticas. A Rastreabilidade por si só não melhora a segurança alimentar, mas estabelece a transparência necessária às medidas de controle eficientes.
A Rastreabilidade possui ainda outros atributos benéficos:
– o registro dos dados é feito não somente para poder permitir a Rastreabilidade, mas também pode controlar e otimizar os processos dentro de uma propriedade;
– um melhor controle de inventário dos destinos dos lotes permite previsões mais poderosas da produção;
– futuramente, o produtor será obrigado a compensar o consumidor se ficar comprovada uma ligação de casualidade entre os danos e o defeito do produto, mesmo se nenhuma negligência for notada. A Rastreabilidade é essencial nesse fato para proteger os produtores técnica e ambientalmente corretos.
Ela pode significar coisas diferentes para os diferentes membros da cadeia de produção, mas para o consumidor, cada pedaço de carne precisa ser rastreado no mínimo com um código em conjunto, chegando até a identificação de um grupo de animais, um grupo para abate.
A amortização dos custos dessa tecnologia pode vir de duas maneiras: por meio da melhor remuneração do produto, de acordo com a qualidade desejada pela indústria ou na sua forma de ganhos na eficiência produtiva, a partir de um gerenciamento informatizado da produção.
Portanto, a rastreabilidade não deve ser encarada apenas como dispositivo para se conseguir diferenciais de preços ou por ser uma exigência do mercado, mas também por representar novas formas de ganhos e facilidades no gerenciamento das informações da propriedade, promovendo um melhor controle de inventários.
A ausência de um programa de rastreabilidade impede a devida responsabilização e a tomada de ações preditivas, preventivas e corretivas, nos casos de contaminação alimentar. Os programas de rastreabilidade são as únicas ferramentas eficazes para a perfeita identificação da fonte causadora do problema. É especialmente crítico o tempo medido entre a ocorrência do problema e a identificação da fonte causadora. Quanto maior esse tempo, maior será a extensão do “desastre”, tanto do ponto de vista da segurança alimentar, quanto do financeiro, dentro da cadeia produtiva; basta lembrar o problema recente que Mato Grosso do Sul enfrentou com o foco de febre aftosa.
Rebanhos cadastrados em programas de rastreabilidade são diferenciados dos demais, tem mais procura e valorização e, em um futuro muito próximo, poderão ser os únicos a conseguir compradores no mercado interno e internacional.
Correio do Estado – MS