O Ministério da Agricultura confirmou sexta-feira a reabertura do mercado russo para as carnes suína e bovina produzidas em Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Amazonas e no sul do Pará. A medida, que vigora a partir de 1º de dezembro, permitirá atender a um mercado que compra 15% da carne bovina e 70% da carne suíno brasileira. “Servirá como efeito-demonstração para outros países, o que, com certeza, favorece nossa condição externa”, disse o ministro Reinhold Stephanes.
Esses Estados sofriam embargo desde outubro de 2005, mas a Rússia começou uma gradativa liberação em 2006. Em abril, permitiu a compra de carne suína e bovina do Rio Grande do Sul. Em agosto, liberou suínos e bovinos de Mato Grosso e carne bovina de Goiás e São Paulo.
As negociações entre Brasil e Rússia começaram há seis meses, quando o secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, teve reunião com o diretor do Serviço de Inspeção Federal russo, Evgueni Neplokonov. De lá para cá, houve três encontros bilaterais para restabelecer o comércio.
A desconfiança russa estava nas dificuldades do governo brasileiro em comprovar controle sobre os focos de aftosa descobertos em Mato Grosso do Sul e Paraná. Em seguida, passaram a exigir garantias sobre os certificados sanitários emitidos pelo Brasil, afirmando ter apreendido em seus portos cargas com documentação falsificada.
O ministério passou a emitir, desde agosto, o certificado em papel-moeda. Outro problema eram as “inconformidades” detectadas em alguns frigoríficos habilitados a exportar para a Rússia. Pelo menos dez das 180 plantas habilitadas para exportação foram descredenciadas pelo ministério nesses seis meses.
Fontes do setor afirmam que a alta dos preços, principalmente de carne suína, no mercado russo, também contribuiu para o fim do embargo. Segundo uma dessas fontes graduadas, a Rússia importava 500 mil toneladas de carne suína por ano da China, país onde a suinocutura é afetada pela doença da “orelha azul”. A menor oferta chinesa de suínos já eleva os preços, por isso a Rússia quer garantir o fornecimento no futuro.
O presidente da Abipecs (reúne exportadores de carne suína), Pedro de Camargo Neto, disse que a medida significa ganhos para 2008, com o aumento de vendas para a Rússia e manutenção de mercados conquistados pós-embargo. Entre janeiro e outubro de 2005, o país exportou US$ 695 milhões em carne suína para a Rússia, valor que caiu US$ 499,3 milhões no mesmo período deste ano.
Para Ricardo Gouveia, diretor do Sindicarnes-SC, o fim do embargo é o reconhecimento do trabalho de defesa sanitária catarinense, que conseguiu status de livre de aftosa sem vacinação junto à OIE em maio deste ano, e do trabalho de informações junto à Rússia. Wolmir de Souza, presidente da Associação dos Criadores de Suínos de SC (ACCS), diz que o prejuízo do período em que o Estado esteve sem exportar à Rússia “é incalculável”. Segundo ele, o preço ao produtor caiu para abaixo de R$ 1 o quilo, animais ficaram represados no campo e produtores que saíram da atividade.
A Rússia era o principal mercado de Santa Catarina, responsável pela compra de cerca de 70% do total exportado pelo Estado. Segundo a secretaria de agricultura de SC, antes do embargo, o Estado vendia quase 20 mil toneladas por mês aos russos. Em quase dois anos de embargo, o Estado perdeu cerca de US$ 750 milhões. De janeiro a outubro deste ano, o Estado exportou 140 mil toneladas (US$ 246 milhões), uma média de 14 mil toneladas por mês.
Apesar do embargo, as exportações de carne bovina para a Rússia até cresceram, uma vez que os frigoríficos conseguiram redirecionar a produção destinada à exportação.
Entre janeiro e outubro de 2005 eram de US$ 487,9 milhões e subiram para US$ 763,2 milhões no mesmo período este ano. “A Rússia é cada vez mais dependente da carne do Brasil e quer aumentar as fontes de suprimentos”, disse Pratini de Moraes, presidente Abiec (exportadores de carne bovina).
Valor Econômico