Ainda que o discurso seja diferente, o governo está preocupado com o abastecimento de milho para indústrias e produtores de aves e suínos. O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Silas Brasileiro, confidenciou nesta semana a alguns parlamentares sua apreensão. E pediu o auxílio da bancada ruralista para pressionar a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a acelerar uma eventual autorização para a importação de milho transgênico voltado ao Norte e ao Nordeste do país. Entendido o recado, na terça-feira um grupo de parlamentares já iniciou o “lobby do milho” em conversas na Casa Civil da Presidência da República.
Segundo avaliação interna do governo, a situação é delicada. A Companhia Nacional De Abastecimento (CONAB) detém apenas 1,3 milhão de toneladas do grão em seus estoques. No total, calcula a CONAB, há 6,6 milhões de toneladas no mercado, em poder de indústrias integradoras, grandes produtores e cooperativas. O governo estima que os estoques públicos, destinados aos pequenos criadores, devem acabar até janeiro. Parte da nova safra, cerca de 8 milhões de toneladas, entra no mercado apenas em fevereiro. Entre dezembro e janeiro, portanto, o quadro preocupa.
O problema é derivado da forte demanda mundial por milho, ainda na esteira da febre do etanol causada pelo apetite dos Estados Unidos. O preço em alta puxou as exportações do milho brasileiro, que devem ultrapassar a marca histórica de 10 milhões de toneladas. As incertezas do clima tornaram a situação mais aguda, porque os grandes produtores decidiram aguardar até o último momento para vender sua produção. Apostavam no atraso das chuvas, o que elevaria a demanda e puxaria as cotações.
O cenário interno tem influenciado mais do que o externo. Tanto que os preços de paridade de exportação do milho, hoje em R$ 25 a saca no porto, estão mais baixos do que a cotação da saca em São Paulo, próxima de R$ 30. Há uma pressão de demanda em consequência do aumento do alojamento de aves destinadas ao abate para o Natal, a melhor época do ano para a indústria.
A dispersão do consumo de milho pelo país torna o horizonte mais turvo. Como a oferta está concentrada nos Estados de Mato Grosso e Paraná, fica mais caro abastecer o Nordeste, por exemplo. Problemas de logística são os mais complicados para resolver. O governo ainda estuda como utilizar 1,6 milhão de toneladas de sorgo neste abastecimento.
Valor Econômico