Se no primeiro semestre um dos vilões da inflação foi o leite, no segundo é a carne bovina. Ontem, os preços do boi bateram recorde em São Paulo, atingindo R$ 71,50 a arroba. Mas, segundo analistas, o pico deve ser no final do mês. Com isso, desde julho a inflação da carne é quase o dobro da geral. Além de afetar o custo de vida, os valores mais altos e o câmbio podem vir a atrapalhar as exportações do setor.
Apenas em novembro, a valorização da arroba é de 11%, de acordo com a Scot Consultoria. O atraso nas chuvas é apontado como um dos principais responsáveis pelo alongamento da entressafra. “Mas o ajuste produtivo é o fator maior. O boi está em alta desde junho do ano passado, com algumas oscilações”, afirma Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Segundo ele, os anos de preços mais baixos desestimularam a produção, reduzindo a oferta. Na avaliação de José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP os patamares estarão sustentados até 2009, devido ao descompasso entre a oferta e a demanda. De acordo com ele, os valores atuais possibilitam uma margem de 10% ao produtor. “É a primeira vez em cinco anos que o preço sobe mais que os custos”, afirma Sérgio de Zem, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). De janeiro a agosto os custos subiram 8,23%, enquanto os preços aumentaram 21,16%, segundo a instituição.
Para Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, a exportação brasileira poderá ser afetada, pois preço mais alto favorece o mercado interno e o câmbio sobrevalorizado dificulta a competitividade.
De acordo com o Cepea/USP, as cotações do boi se refletem no atacado: a carcaça é vendida a R$ 4,43 o quilo em São Paulo, o maior valor desde 2001. O resultado é que desde julho a inflação da carne é de 2,1%, enquanto a geral é de 1,1%, segundo a RC Consultores.. “Há um impacto direto no aumento do preço do boi gordo e da carne”, diz Gian Barbosa, economista da Tendências. Fábio Silveira, da RC Consultores, lembra que os preços da carne bovina estimulam as cotações das outras proteínas animais.
Frango
Os preços internacionais mais altos garantem à indústria de frango exportações recordes: 313 mil toneladas em outubro (21% a mais em relação a 2006), somando US$ 508 milhões (mais 59%). No acumulado de 2007 os embarques totalizaram 2,7 milhões de toneladas (alta de 22%) ou US$ 3,95 bilhões (aumento de 52,76%). O setor projeta exportações de 3,1 milhões de toneladas (+10,7%) ou US$ 4,5 bilhões (+ 47%) no ano.
Gazeta Mercantil