O preço da arroba do boi gordo bateu recorde ontem em São Paulo, avaliada em R$ 67. Foi o maior valor desde o Plano Real (1994). As cotações do bezerro também estão elevadas: R$ 485 o animal de 12 meses. E a tendência é que os patamares continuem altos. Ontem, os contratos para novem-bro do boi gordo na Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F) estavam em R$ 68 a arroba – com mínima de R$ 65 e máxima de R$ 70. Segundo analistas de mercado, alguns frigoríficos estão com capacidade ociosa de 50% e há indústria pensando em dar férias coletivas, uma vez que as escalas estão curtas – no máximo de três dias, enquanto em períodos normais é de 10 dias.
“Os valores refletem a falta de animais”, diz Sérgio de Zem, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Isso porque, segundo ele, além da entressafra, os confinamentos não foram como se esperava e há a questão estrutural – o descarte de matrizes anteriormente, quando os preços estavam baixos, reduziu a oferta de animais. “Aparentemente a segunda fase de confinamento ocorreu, mas aquém do que poderia ser porque o preço do insumo está alto. Com isso, o avanço da produção menor que o esperado”, diz.
“A visão é que existe uma tendência clara de alta. Desde o plano real é o mais alto valor em São Paulo”, afirma José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP. De acordo com ele esta tendência deve se perdurar por um bom período até que seja refeita a recomposição do rebanho. Segundo ele, o período mais crítico deve ser o mês que vem e dezembro, já que a oferta de animais confinados vai diminuir e o gado de pastagem ainda não estará entrando no mercado. “Ou seja, vai diminuir a oferta e o consumo interno costuma aumentar por causa das festas de final de ano”, diz.
Leonardo Alencar, da Scot Consultoria, lembra que apesar de em termos nominais os valores atuais serem os mais altos, quando deflacionados estão aquém dos praticados no início do Plano Real. A cotação do boi daquela época deflacionada estaria em R$ 89,45. Alencar acrescenta ainda que o mesmo com o recorde ocorrido ontem, a média praticada no mês de outubro está abaixo da de agosto: R$ 64,17 para 65 a arroba em São Paulo. Segundo ele, apenas as indústrias que negociaram a termo ou têm confinamento próprio não estão enfrentando dificuldades.
Gazeta Mercantil