A pior seca dos últimos 21 anos em Minas Gerais fez com que 88 cidades do norte e noroeste do Estado decretassem situação de emergência. O período chuvoso parou em abril e a previsão dos institutos de meteorologia é de que só volte a chover em novembro.
Se nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo os temporais provocaram mortes e desabrigaram milhares de pessoas, em Minas Gerais a estiagem cria uma situação caótica, com a população sendo obrigada a contar apenas com a ajuda da Defesa Civil Estadual, já que as lavouras de subsistência estão praticamente destruídas pelo sol forte.
Em Água Boa, a 379 km de Belo Horizonte, as aulas foram suspensas em 11 das 24 escolas da zona rural. A situação tende a piorar. A secretária municipal de educação, Enide Lopes de Macedo, cita, por exemplo, o povoado de Palmeira de Resplendor, onde 200 crianças de até 6 anos não podem mais freqüentar a creche.
“As diretoras me ligam para dizer que não tem condições para as aulas continuarem do jeito que está. Cheguei a sugerir que mobilizem os alunos e professores para que levem água em garrafas descartáveis para o consumo. Atrasar o calendário escolar pode ser muito prejudicial para eles”, disse.
O município está sem chuva há oito meses. Das 40 mil cabeças de gado, mais de 12 mil morreram, e a produção de leite está em 20% da sua capacidade total; 50% da safra do café para o próximo ano também foi considerada perdida.
“Em setembro, a chuva deveria ter voltado porque é a época em que as flores do café começam a brotar”, comentou o secretário de Agricultura e presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, Jairo Martins. “Já estamos preocupados até quando a chuva voltar, porque os primeiros brotos que aparecem no capim são prejudiciais ao gado. Eles podem ter diarréia e aí a mortandade vai aumentar”.
As áreas mais afetadas ficam na zona rural dos munícípios, onde a maior parte da distribuição de água era feita pelos rios, mananciais e córregos próximos, mas a estiagem reduziu drasticamente a vazão da água. Em Mamonas, no norte do Estado, a seca também afetou a zona urbana.
“Nosso reservatório está com o nível mínimo de água. O que resta é só sujeira, água barrenta, que não pode ser consumida”, explicou o coordenador municipal da Defesa Civil, Welington de Pádua.
A cidade possui um centro de distribuição próprio que garantia o abastecimento de aproximadamente 2.350 pessoas na área urbana e mais 2.150 da zona rural. Mas, hoje, a distribuição é realizada por oito caminhões-pipa. “Mesmo assim, não dá para atender todo mundo. Tem casas que não recebem água há 12 dias, na roça os gados mais velhos estão morrendo”, informou.
Segundo a Defesa Civil Estadual não dá para se fazer um levantamento do número de pessoas atingidas pela seca em todo o Estado. Para minimizar os efeitos sobre a população, sem água até para beber, mensalmente são distribuídas pela Cedec 100 cestas básicas para os municípios afetados. Mas esse número pode subir, de acordo com a necessidade de cada cidade. Caminhões-pipas com capacidade para até 10 mil litros distribuem água para os locais afetados.
O governo federal também iniciou o atendimento em 17 cidades. O Exército disponibilizou caminhões-pipa com capacidade para até 15 mil litros para auxiliar a Defesa Civil de Minas Gerais. Mas o atendimento encontra problemas em algumas cidades como no município de Arinos, Noroeste de Minas, onde faltam pessoas dispostas a trabalhar para fazer a distribuição de água.
“Normalmente, pagamos alguém da região para que distribua a água captada pelos caminhões-pipa e estávamos com dificuldade para conseguir algum profissional que fizesse isso, porque a distância até as áreas afetadas é muito grande”, comentou o chefe do centro de controle de emergências da Defesa Civil de MG, major Estevo da Silva. As distâncias da área urbana até as regiões afetadas chegam a 70 km. O município de Arinos possui uma extensão de 53.532 km².
“Nesse caso, solicitamos ao Departamento de Estradas e Rodagens (DER-MG) para que enviasse profissionais próprios que atendessem provisoriamente a esse município”, completou o major.
De acordo com o coordenador municipal da Defesa Civil, Flávio Pereira, em Arinos estima-se que 1,6 mil pessoas em 14 comunidades rurais tenham sido afetadas pela seca. A cidade possui pouco mais de 18 mil habitantes.
O DIA