Conflito no campo mata dois

0

 


Duas pessoas morreram e oito ficaram feridas durante a reocupação, por cerca de 150 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da fazenda experimental da multinacional suíça Syngenta, localizada em Santa Tereza do Oeste, no Paraná, na manhã de domingo. No tiroteio entre integrantes do MST e seguranças particulares contratados pela multinacional, morreram o líder sem-terra e integrante da Via Campesina Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Keno, 42 anos, atingido por dois tiros no peito, e Fábio Ferreira de Souza, segurança da Syngenta, baleado na cabeça.


 


No confronto, ficaram gravemente feridos os seguranças Vanderlei Giraldi, Rodrigo Oliveira Ambrósio e Marcelo Victor Stevens e a integrante do MST Isabel Maria Nascimento Souza. Também receberam atendimento médico os sem-terra Adilson Alves Cartin, Jonas Gomes de Queiroz, Gentil Couto Vieira e Udson Alves Cardin. A polícia prendeu em flagrante sete seguranças da empresa, que prestaram depoimento e continuam detidos. Além disso, nove integrantes do MST foram ouvidos devido à dificuldade em identificar a autoria dos disparos.


 


Ontem, o clima era de indignação no velório do sem-terra Keno, que foi enterrado em Cascavel. O chefe da Polícia Civil, Celso José Mello, afirma que os seguranças, os sem-terra e a empresa Syngenta serão responsabilizados. Durante o depoimento, os seguranças confirmaram a participação na tentativa de retomada. Os seguranças, que teriam chegado num ônibus escolar à fazenda na tarde de domingo, fugiram a pé depois do tiroteio. Eles foram encontrados e presos num barracão abandonado a cerca de 6km da fazenda.


 


O MST e a Via Campesina, enfurecidos, divulgaram nota acusando a empresa suíça de mandar uma “milícia armada” com cerca de 40 homens para assassinar o líder sem-terra. Alegaram que “lideranças do agronegócio do oeste do Paraná” haviam feito repetidas ameaças de morte contra Keno e outras lideranças das duas entidades.


 


Quadrilha


 


“A verdade é uma só. As pessoas direta e indiretamente envolvidas vão ser responsabilizadas. Houve uma ação tresloucada e impensada de 25 pessoas tentando expulsar 200 integrantes do MST”, afirmou o chefe da Polícia Civil. Em nota oficial, a Syngenta lamentou o caso e afirma estar colaborando com as autoridades, mas argumentou que “a política global da companhia determina que não se use força ou armas para proteger suas unidades”. Mello, no entanto, aponta que apreendeu uma arma durante a prisão dos seguranças privados e está recolhendo projéteis para que a perícia defina a autoria dos disparos que causaram as duas mortes. Os seguranças particulares foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das funções.


 


A fazenda da Syngenta foi ocupada pela primeira vez em março de 2006 por integrantes da Via Campesina com o objetivo de denunciar o “cultivo ilegal” de sementes transgênicas de soja e milho. Após 16 meses, as 70 famílias desocuparam a área em julho deste ano, deslocando-se para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste. A Via Campesina negou ter mantido reféns no local. A organização quer que a área seja transformada em Centro de Agroecologia e de reprodução de sementes para a agricultura familiar e a reforma agrária.


 


Acusado livra mandantes


 


O agricultor Rayfran das Neves Sales, condenado a 27 anos de prisão pelo assassinato da freira americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, no Pará, tentou ontem, no primeiro dia do novo julgamento, inocentar os outros quatro réus do caso – o comparsa Clodoaldo Carlos Batista, condenado a 17 anos, o intermediário Amair Feijoli da Cunha, que pegou 27 anos pelo crime, o agricultor Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, que pegou 30 anos de cadeia, e o fazendeiro Regivaldo Galvão, ainda não julgado – os últimos dois apontados como os mandantes da morte.


 


Ontem, Rayfran negou que ele e os comparsas tivessem sido contratados por Bida ou Regivaldo para matar Dorothy Stang. Passou a alegar que vinha sendo “ameaçado” pela religiosa. Quando foi morta, a missionária coordenava a implantação do Projeto de Desenvolvimento Social (PDS) Esperança, um assentamento coletivista de reforma agrária na região rural da cidade de Anapu. O mesmo lote era disputado por fazendeiros da região.


 


No primeiro julgamento, Rayfran tinha confessado e revelado a participação dos demais. Orientado pelo advogado Cézar Ramos, o criminoso havia pedido à Justiça o benefício da delação premiada para revelar segredos do caso. Ao surgir com a tese da ameaça, no entanto, perdeu a chance de obter o benefício.




Correio Braziliense

Compartilhar:

Deixar um Comentário