Há alguns anos alardeou-se a notícia que a banana desapareceria em alguns anos. A responsabilidade sobre essa malfadada ocorrência seria a sigatoka negra, uma doença causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, que tem dizimado plantações em várias partes do mundo e causado prejuízos enormes aos países produtores de banana. Ela é considerada hoje a mais séria e destrutiva doença da bananicultura porque, além de se disseminar rapidamente, é muito agressiva às principais variedades comerciais de banana como a prata, a nanica e a nanicão.
Entretanto, cientistas brasileiros e internacionais conseguiram o seqüenciamento do genoma do fungo causador da doença. Esse trabalho envolveu cientistas de várias unidades da Embrapa (Recursos Genéticos e Biotecnologia, Mandioca e Fruticultura, e Trigo), o laboratório da Embrapa na Europa (Labex-Europa) e de instituições de mais quatro países – Holanda, Estados Unidos, França e México.
Segundo a pesquisadora Natália Martins, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que coordenou o projeto no Brasil, o seqüenciamento do Mycosphaerella fijiensis permite aos cientistas conhecer a fundo a biologia do fungo e, com isso, todos os mecanismos envolvidos em sua capacidade de causar infecção.
“Para ilustrar a importância do entendimento do genoma desse fungo, é como se fôssemos capazes de tirar fotografias bem precisas dos vários estágios da infecção causada por ele”, explica Natália.
Futuro
O próximo passo, de acordo com a pesquisadora, é cruzar as informações resultantes do estudo do genoma do fungo – que deu origem a cinco mil genes seqüenciados – com os dados obtidos a partir do seqüenciamento do genoma da banana, concluído pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com o a Universidade Católica de Brasília e o Instituto Francês de Pesquisa Agronômica (Cirad), em 2005.
“O cruzamento das informações entre os dois genomas vai nos permitir conhecer os genes responsáveis pela infecção e, com isso, desenvolver mecanismos de controle para chegar a variedades comerciais de banana resistentes a sigatoka negra”, esclarece Natália.
“O sequenciamento do genoma é, sem dúvida, uma ferramenta muito importante para agilizar o melhoramento genético da banana, tanto por métodos convencionais (a partir de cruzamentos), quanto moleculares (transgenia ou cigenia, que é a modificação genética dentro da mesma espécie”, ressalta a pesquisadora.
No Brasil, os testes não poderão ser conduzidos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, já que o DF é uma das áreas livres da praga e, por isso, terão de ser feitos em outros estados brasileiro ou nos outros países envolvidos no projeto.
O seqüenciamento do genoma é fruto do Consórcio Internacional em Genômica de Mycosphaerella (IMGC), por meio do JGI – Joint Genome Initiative. O Consórcio possibilitará, também a realização de estudos comparativos entre genomas de diferentes fungos desenvolvidos por outros países. Em novembro, representantes das instituições que participam do projeto se reúnem nos EUA.
Mais consumida
No Brasil, o controle da sigatoka negra é feito por barreiras fitossanitárias impostas pelo Ministério da Agricultura para impedir que ela contamine áreas onde ainda não ocorre, como Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Distrito Federal.
A doença foi detectada pela primeira vez no País em 1998, no Amazonas, e rapidamente se alastrou por quase todas as regiões produtoras de banana até o sul do País. Em 2004, foi identificada em São Paulo e, dois meses depois, no Paraná.
O nome é decorrente dos sintomas da doença, que causa manchas de coloração negra na superfície superior da folha. Elas crescem rapidamente, chegando a uma queima generalizada de toda a planta, o que reduz drasticamente a produção.
É uma doença bastante devastadora e, para controlá-la, os gastos com defensivos chegam a meio milhão de reais por ano no Brasil. A banana é uma fruta de enorme importância social no País, pois é uma fonte barata de energia, minerais e vitaminas.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de banana, com 7 milhões de toneladas/ano, cerca de 9% da produção mundial. É a fruta mais consumida e fundamental para a complementar a dieta alimentar de populações de baixa renda. Tanto que 99% da produção nacional destina-se ao mercado interno. Além disso, a bananicultura gera mais de 500 mil empregos diretos.
Jornal de Brasília