O maior exportador de café do mundo, Jair Coser, presidente da Unicafé, mudou. Um dos mais tradicionais cafeicultores do país também vai experimentar. Outros, discretamente, já começam a trilhar o mesmo caminho. Cada vez mais os produtores de café arábica do Brasil começam a ver com outros olhos o cultivo de grão robusta, também conhecido como conillon. Com remuneração mais atraente que a do tipo arábica, o robusta só encontra pela frente uma única barreira: o preconceito.
Conhecido por ser um tipo de grão menos nobre, o robusta é mais resistente a doenças e as intempéries climáticas. E o consumo é garantido pelas indústrias de café solúvel, que costuma utilizá-lo no blend de seus produtos. “O preconceito está cedendo espaço para a realidade”, afirma Nathan Herzkowicz, diretor da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
Com a escassez de café no mercado global, por conta da menor produção mundial e consumo aquecido, os preços em geral estão em curva ascendente. Responsável por cerca de 30% da oferta mundial, o robusta apresenta alta mais incisiva que o arábica. Em 24 meses, os preços do arábica subiram 45% na bolsa de Nova York. O robusta acumula alta de 100% em Londres no mesmo período.
No Brasil, os produtores começaram a colocar as contas no lápis e perceberam que a rentabilidade do robusta está em torno de 50% a 60%, enquanto a do arábica chega, no máximo, a 20%. Segundo Coser, da Unicafé, os custos de produção para o robusta giram em torno de R$ 130 por saca de 60 quilos, com cotações médias de R$ 200 no mercado. Para o arábica, os custos giram em torno de R$ 200, com preços médios da ordem de R$ 230.
A diferença dos custos de produção entre um tipo e outro reflete o fato de que os tratos culturais para o grão robusta são bem menores. “O robusta é mais resistente à seca e à praga, ao contrário do arábica”, reforça Antônio Joaquim de Souza Neto, diretor-presidente da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), uma das maiores cooperativas de café robusta do país, em São Gabriel da Palha, no Espírito Santo.
Segundo Souza, a qualidade desse tipo de café também começa a melhorar. “Muitos produtores estão investindo na qualidade do grão robusta ao adotar o conceito do cereja descascado”. Por esse método, os melhores grãos são separados dos tipos mais imaturos (verdes) – o que garante um lote mais homogêneo – e vão direto para a secagem. Essa prática é comum para o tipo arábica e bastante difundida na Colômbia, país conhecido pela excelente qualidade do grão. “Estamos trabalhando com menos variedades de café, mas com os melhores clones”, diz.
“Tenho uma área de 600 hectares plantados, com cerca de 3 milhões de pés de café.
Cerca de 20% deles já são do tipo robusta. Em três anos, terei metade robusta e outra metade arábica”, diz Coser, que nos últimos 27 anos se dedicou apenas ao plantio de arábica. O produtor, que possui fazenda na Serra dos Aimorés, divisa de Minas com Espírito Santo, é também dono da maior exportadora global de café, com cerca de 2,7 milhões de sacas exportadas por safra. O Brasil exporta em torno de 26 milhões de sacas de café.
Jair Coser afirma não temer o preconceito do setor. Diz que pensa mais na rentabilidade do produto. Mas, no mercado, sinônimo de café de qualidade é o arábica. E não sem motivos relevantes, já que os tratos de ambos são historicamente diferentes, desde o plantio até as vendas no varejo.
No Brasil, a produção de café está estimada em 32,6 milhões de sacas em 2007/08.
Deste total, 69%, ou 22,5 milhões de sacas, são de arábica e 31%, ou 10,1 milhões de sacas, de robusta. Dois terços da produção dos dois tipos de grãos são exportados. O país é o maior produtor de café do mundo, mas o segundo maior de robusta. Neste caso o Vietnã é o maior, com quase 20 milhões de sacas. A produção de robusta não deve ultrapassar o de arábica no Brasil, mas o grão, aos poucos, já ameaça o reinado do até agora soberano arábica.
Valor Econômico