Os preços do açúcar e do etanol vêm reagindo desde o mês de junho e estão em níveis mais altos do que no mesmo período do ano passado. Apesar dos patamares superiores ao longo desta safra, e com tendência de alta, as usinas garantem que ainda não são preços remuneradores.
Durante o período que considera a partir de meados de junho até o início de setembro de 2007, a saca de 50 kg de açúcar não saiu da casa dos R$ 25 enquanto que, no pico da safra atual, considerando o mesmo período, os níveis de preços estão em patamares superiores – acima da casa dos R$ 26 a saca -, e alcançaram os R$ 29,20 até R$ 30 a saca no início desta semana, em São Paulo. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, e de consultorias de mercado. Os valores incluem impostos.
“Apesar da reação de preços, nenhum dos produtos está remunerando a atividade ainda”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). “No caso do açúcar, tirando a carga de impostos, a saca sai a R$ 23. Esse valor não sustenta a atividade”, complementa.
No caso do etanol, o litro do hidratado começou a semana cotado a R$ 0,87 e o do anidro a R$ 0,91, segundo a Job Economia e Planejamento. Na mesma época do ano passado, esses valores estavam em níveis inferiores, com ambos os produtos valendo R$ 0,70 o litro. Os valores citados já têm embutidos os impostos.
Considerando um período mais prolongado, desde meados de junho até o início de setembro, os dados do Cepea apontam para o litro do anidro se mantendo acima dos R$ 0,76 (média semanal sem impostos) no período referido neste ano, enquanto que, em igual período de 2007, o litro não ultrapassou os R$ 0,66 o litro. O hidratado se manteve no patamar entre R$ 0,57 e R$ 0,58 o litro neste mesmo período de 2007, enquanto que na safra atual a menor média foi de R$ 0,63 (médias semanais sem impostos).
Para Júlio Maria Borges, diretor da Job, os níveis de preços em plena safra são uma “boa surpresa”. O especialista afirma que não eram esperados preços nesses patamares tão rapidamente nesta safra. O motivo da reação é produção e oferta ajustadas.
Embora as cotações estejam em níveis mais elevados, a pesquisadora do Cepea, Mirian Bacchi, lembra que os preços da safra passada, em termos reais, foram os mais baixos desde o ano 2000. Para ela, os preços atuais não trazem rentabilidade ao setor. “E, em 2007, houve aumento significativo do custo de produção, com a alta dos preços dos fertilizantes por exemplo”, complementa. O cenário não é pessimista para este ano, diz, ainda a pesquisadora, já que a média de preços da safra pode ficar mais alta do que na anterior. “Para fazer comparações de safras, o ideal é olhar períodos mais longos. Nos últimos três anos, até a safra 2007/08, a média de preços foi superior à dos outros três anos imediatamente anteriores”, finaliza.
Reação em junho
Os preços do açúcar começaram a reagir a partir de junho, diz Borges, da Job, quando o mercado começou a absorver os rumores de que a próxima safra (2009/10) deverá ser deficitária. A Índia, que contribuiu significativamente para a elevação dos estoques mundiais e um dos maiores produtores assim como o Brasil, produzirá menos. Segundo comenta Miguel Biegai, consultor da Safras&Mercados, aquele país pode, inclusive, inibir suas exportações para evitar a falta do produto em seu mercado interno a médio prazo.
Além disso, o mercado no Brasil tem dado sustentabilidade aos preços. “O consumo de açúcar aumenta no mínimo 2% ou 2,5%, que é o crescimento vegetativo da população”, diz Mirian, do Cepea.Outra notícia que colabora para o cenário é o fato de o Brasil também reduzir estimativas de produção em 2 milhões de toneladas. Segundo divulgação da Unica, os usineiros deverão produzir 26,5 milhões de toneladas de açúcar na safra 2008/09.
No caso do etanol, espera-se estoques de passagem ajustados. A expectativa é de alta de preços. O Brasil deve produzir 23,8 bilhões de litros enquanto a demanda total somará cerca de 24,2 bilhões de litros. As usinas tinham estoque de 1,5 bilhão de litros no início desta safra.
DCI – Diário do Comércio & Indústria

