Safra de milho será menor no país e com preço recorde

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Pedro Pezutti é produtor de milho em Ibiá, no Alto Paranaíba (foto: Pedro Pezutti/Arquivo pessoal) A esta altura do ano está entrando na reta final a colheita da primeira safra de milho. A cultura de verão está vivendo uma explosão dos preços, impulsionada pela redução da área plantada, pela estiagem que provocou quebra da safrinha (ou segunda safra) em grandes regiões produtoras, e ainda por um boom das exportações, que encurtam o estoque nacional. Este mês, o preço da saca de 60 quilos, comercializada por R$ 42,80 na média do estado, registrou alta de 77% frente ao mesmo período do ano anterior.

Oferta menor no mercado interno somada às vendas aquecidas para o exterior é uma equação que tem como resultado a valorização do grão no ambiente doméstico. Para se ter ideia, no primeiro quadrimestre do ano, o país já exportou 15% da produção estimada para esta safra. O crescimento das exportações é recorde. Em Minas as vendas externas, de janeiro a abril, alcançaram alta surpreendente de 1.242%, calcula o superintendente de política econômica e agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), João Ricardo Albanez. “Com a desvalorização do real, houve uma demanda forte do mercado externo pelo milhobrasileiro”, observa.

De janeiro a abril do ano passado, Minas Gerais exportou 9 mil toneladas do grão. Este ano o volume chegou a 120 mil toneladas. Já o total do país, que em 2015 vendeu ao mercado externo 5,1 milhões de toneladas, alcançou 12,2 milhões nos primeiros quatro meses do ano. Na avaliação do superintendente da Seapa, apesar da pressão internacional, o abastecimento interno está garantido, já que o consumo doméstico é estimado em 58,3 milhões de toneladas/ano para uma safra de 80 milhões.

Não há no horizonte expectativa de queda de preços a curto prazo. “Os preços devem seguir firmes até a colheita da segunda safra ganhar ritmo. Ou seja, até começo e meados de junho não estão descartadas altas. A disponibilidade interna é baixa e o clima tem prejudicado as lavouras de milho de segunda safra, em especial no Centro-Oeste”, comenta Rafael Lima Filho, analista da Scot Consultoria.

Segundo o analista, a partir de junho, a pressão de alta deve perder força, mas o patamar de preços será bem acima do verificado no mesmo período de 2015. “A BM&F Bovespa fala em um milhopróximo de R$ 41 a R$ 42 por saca em setembro, frente aos R$ 29, R$ 30 por saca no mesmo período de 2015”, reforça Lima Filho. A partir de setembro, o que vai determinar o ritmo dos preços são as exportações e expectativas para a próxima safra.

Produtor de grãos em Ibiá no Alto Paranaíba, Pedro Pezzuti explica que muitos optaram por aumentar a área da soja, o que, junto com a seca que afetou a segunda safra e a demanda externa, está pressionando os preços. “A saca de milho valorizou bem e este ano ajuda o produtor, que vem de dois anos muito ruins, a recompor prejuízos passados”, argumenta. Segundo Pezzuti, a planilha do grão também vem sendo pressionada pela valorização do dólar e alta dos fertilizantes, insumos importados que representam 30% do custo da produção e são cotados de acordo com a oscilação da moeda norte-americana.

PRESSÃO NA CADEIA 

Se por um lado o milho dá um bom refresco para os produtores, aperta os custos na cadeia animal, como aves e suínos. No país, 60% da ração animal tem como base o milho. Até o ano passado, o grão representava 30% do custo da ração, e nos últimos 12 meses passou a representar perto de 50%. “A ração representa 70% do custo da produção”, diz José Arnaldo Cardoso Penna, vice-presidente da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Asemg). Segundo ele, com a alta do insumo o custo da produção está acima de R$ 4 por quilo, enquanto o produto vem sendo comercializado a R$ 3,25, portanto, com prejuízo ao suinocultor.

Este ano, como as perspectivas apontam para preços firmes, José Arnaldo calcula que será necessário importar o produto, principalmente da Argentina, com a isenção do PIS e Cofins. Segundo o executivo, as associações de todo o país estão elaborando um documento a ser entregue ao novo ministro daAgricultura. “Defendemos que seja tomada alguma medida também para preservar as exportações brasileiras de aves e suínos. O preço do milho vem prejudicando enormemente o produtor. Muitas granjas já estão descartando as matrizes”, alerta.

SAFRA DE GRÃOS 

Colheita menor do milho ajudou a puxar para baixo a safra brasileira de grãos, que deverá sofrer este ano a primeira queda em seis anos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou suas estimativas, prevendo agora a colheita de 202,4 milhões de toneladas, um decréscimo de 2,5% ou de 5,3 milhões de toneladas frente a 2014/2015.

O milho da segunda safra foi fortemente afetado pela seca e a previsão é de uma colheita de 52,9 milhões de toneladas, resultado 3,1% menor que o do ano passado. No total, o país deve colher próximo de 80 milhões de toneladas, uma queda de 5,6% frente à safra 2014/2015, segundo a Conab. Em Minas Gerais, a colheita total, somando as duas safras, deve crescer 1,5%, alcançando 6,9 milhões de toneladas. No ranking da produção, Minas ocupa a quinta colocação, depois de Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás.

FESTA DOMILHO

Em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, onde há mais de meio século é realizada a Festa Nacional do Milho (Fenamilho), a previsão da organização é que apesar da crise que afeta a economia brasileira, o público se mantenha firme, com a participação de 40 mil pessoas por dia. A festa, que está em sua 58ª edição, será de 20 a 29 de maio. Os shows e rodadas de negócios devem movimentar diretamente perto de R$ 100 milhões, nos cálculos do Sindicato dos Produtores Ruraisde Patos de Minas, organizador da festa agropecuária.

A festa do milho vai contar com mais de 20 shows de bandas, principalmente Munhoz & Mariano, Fernando & Sorocaba e Anitta, que abrem o primeiro dia. Outros artistas nacionais, como Lucas Lucco, Claudia Leitte, Zezé Di Camargo & Luciano, Matheus & Kauan, Wesley Safadão, Jorge & Mateus e Luan Santana também integram o roteiro. Segundo Elhon Cruvinel Borges, presidente do Sindicato Rural, a festa já conta com 20 mil passaportes vendidos e espera receber público, semelhante ao do ano passado, perto de 40 mil pessoas/dia.

Devido à crise que tem freado os gastos das famílias, a organização já prevê um menor tíquete médio no consumo. “Calculamos que a média de gastos do público deve cair em até 30%, como efeito da crise”, diz Cruvinel. A Festa do Milho, além da agenda de shows, espaço para comidas típicas, vai leiloar mais de 4 mil cabeças de gado nos leilões comuns e de elite. Este ano, a feira não vai contar com a Agrofena, onde há exposição de novidades no ramo de maquinários agrícolas e venda de tratores. A feira foi transferida para agosto.

As comidas típicas também fazem a festa dos participantes, de pamonhas a pratos gourmet feitos a partir da espiga. A festa também elege tradicionalmente a Rainha do Milho. Segundo Elhon Cruvinel, atualmente, Patos de Minas se destaca na produção de milho para sementes, que é, em sua maioria, comercializado para multinacionais do agronegócio.

 

 

Estado de Minas – Online

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