Um acordo de livre comércio com Europa e Estados Unidos representaria um ganho de US$ 1,07 trilhão de dólares para a corrente de comércio do Brasil no período 2016-2030, de acordo com estudo Amcham–FGV, ‘Impactos para o Brasil de acordos de livre comércio com EUA e União Europeia’, apresentado dentro da agenda do programa Mais Competitividade Brasil da Câmara Americana de Comércio/Amcham, que envolvendo 5 mil empresas em prol da construção de uma agenda empresarial focada na maior inserção brasileira no comércio global.
O estudo foi apresentado por Lucas Ferraz, co-autor da pesquisa e coordenador do Núcleo de Modelagem do Centro do Comércio Global e Investimento da FGV, e Vera Thorstensen, coordenadora do Centro do Comércio Global e Investimento da FGV, na sede da Amcham – São Paulo. O estudo pode ser acessado clicando aqui.
Se um acordo semelhante fosse realizado separadamente com a Europa, a receita com a corrente de comércio seria de US$ 716,85 bilhões. “Um tratado de livre comércio com os EUA privilegiaria mais o setor de capital intensivo e o outro, com a Europa, tenderia a privilegiar um pouco mais o setor trabalho–terra intensivo. Mas os impactos na economia, no comércio e outros setores são significativos”, afirmou Ferraz.
Na Europa, o fluxo comercial de produtos do agronegócio aumentaria 60,8% no período, aponta o pesquisador. Alguns produtos que se beneficiariam são o açúcar e alimentos. “Quando se fala de indústrias de transformação, observa-se um impacto menos favorável na União Europeia. A vantagem está no agronegócio.”
No comércio bilateral com os Estados Unidos, dados do estudo revelam que o incremento do fluxo comercial seria de US$354 bilhões no período. A pauta exportadora seria formada por produtos de maior valor agregado, principalmente no setor de têxteis, vestuário e equipamentos de transporte. Segundo o estudo, as exportações de manufaturados brasileiros aumentariam em 15% e as importações, 8,6%. A receita com agronegócio cresceria 9,9%, e as importações do setor subiriam 8,4%.
O estudo traçou seis cenários econômicos para traduzir em números o potencial dos acordos de livre comércio sobre a economia brasileira. Para os professores, “há modelos sem tarifas de importação, redução de barreiras não tarifárias. A melhor maneira de começar o debate é mostrar o potencial desses acordos. E a partir daí cabe aos negociadores brasileiros encontrar o equilíbrio.”
A abertura ao comércio internacional também significa que o Brasil vai importar mais insumos, um movimento que Ferraz considera essencial para a melhoria dos manufaturados. “A indústria brasileira vai cada vez perdendo mais competitividade porque insiste em competir no made in Brazil (fabricado no Brasil, na tradução para o português), quando lá fora está concorrendo com produtos que são made in the world (fabricado no mundo)”, segundo Ferraz.
Acordos de comércio elevaria PIB em 4%
Para os especialistas da FGV, acordos com países desenvolvidos como os EUA e com o bloco da UE trariam benefícios na integração do país nas cadeiras globais de valor, com a importação de bens intermediários e conteúdo tecnológico. Já a entrada do Brasil na Parceria Transatlântica (TTIP), acordo de livre-comércio desenhado por Estados Unidos e União Europeia (UE), levaria a um incremento de 4,26% no Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2030. A assinatura do TTIP sem a participação do Brasil, segundo o estudo da Amcham, causaria um impacto no PIB real brasileiro causando uma dedução de 0,34%.
Para um acordo de preferencias comerciais com os EUA e eliminação de 100% das tarifas e 40% das NTBs, a projeção do estudo é de aumento das exportações (6,94%), importações (7,46%) e crescimento do PIB (em 1,29%). Já com a UE, nas mesmas condições, os benefícios seriam ainda maiores: um aumento de cerca de 12,33% nas exportações, 16,93% em importações e crescimento de 2,8% no PIB. O setor agrícola se beneficiaria com os dois acordos; já na indústria, poderia haver ganhos e perdas, dependendo do setor.
A recomendação do relatório é que haja cautela na hora de fechar os acordos. Um planejamento cuidadoso e a longo-prazo, envolvendo tanto a indústria quanto o governo, para que o setor seja reformado e assim ganhe níveis maiores de competitividade. O setor privado deveria promover a produtividade dentro da empresa, enquanto o governo investiria em medidas como redução da carga tributária, aumento na qualificação da força de trabalho e adoção de uma política fiscal que promova uma taxa de câmbio real mais estável.
Mais Competitividade Brasil
A pesquisa foi apresentada na manhã de ontem (9/5), em São Paulo, dentro do programa Mais Competitividade Brasil da Amcham, que tem como objetivo reunir propostas e sugestões de 5 mil empresas no país com foco no aumento da produtividade e inserção global nas companhias brasileiras.