
O sistema de adensamento do café conilon tem demonstrado um aumento significativo na produtividade, com ganhos médios superiores a 35% por hectare em comparação ao sistema tradicional. Este resultado é alcançado, desde que o manejo seja realizado de forma a preservar a qualidade dos grãos. Renato Bianchini, produtor em Linhares, destaca que, após três colheitas com novos espaçamentos, espera um rendimento médio de até 40% a mais em sua propriedade, sem a necessidade de expandir a área cultivada.

Na sua primeira safra em 2023, Bianchini colheu 165 sacas por hectare. Em 2024, devido às condições climáticas adversas de calor e seca, a produção caiu para 135 sacas, mas para este ano a expectativa é de uma recuperação, alcançando até 150 sacas.
Atualmente, os espaçamentos em sua propriedade são de 1,60 x 1,00 e 1,65 x 1,00 metros, enquanto a nova área plantada adota espaçamentos de 1,80 x 1,00 e 1,80 x 0,80 metros. Bianchini também está realizando experimentos em pequenas áreas com espaçamentos variados de 1,50 x 1,00, 1,50 x 0,80, 1,00 x 1,00, 1,00 x 1,20, 2,00 x 1,00 e 2,00 x 0,80, com o intuito de identificar a melhor configuração para maximizar a produtividade no futuro.
“A nossa meta de aumentar a produtividade em 30 a 40% acima da média regional foi alcançada. Notei que o café adensado apresenta maior resistência às altas temperaturas, uma vez que o sol não incide diretamente no solo, mantendo a terra fresca e proporcionando uma temperatura ideal para o cultivo”, celebra o produtor.
Benefícios do sistema adensado
O sistema de adensamento oferece uma série de vantagens agronômicas e produtivas, conforme destaca o engenheiro agrônomo Edmar Liuth Tessarolo. Entre os principais benefícios estão: alta produtividade e estabilidade ao longo do tempo; manejo facilitado com condução em haste única; supressão de plantas daninhas a partir de 8 meses, com fechamento rápido das linhas e sombreamento total do solo; redução do volume de água por hectare após o primeiro ano; aumento da eficiência no uso de insumos; melhor aproveitamento da área plantada; e maior rapidez no retorno sobre o investimento.
Tessarolo explica que, no sistema convencional, um hectare é normalmente plantado com 3 a 4 mil plantas, resultando em uma média de 70 a 80 sacas ao longo de um ciclo de 4 a 5 anos. Em contraste, o sistema adensado permite a plantação de 5 mil a 7,5 mil plantas por hectare, com uma produtividade média de 100 a 120 sacas no mesmo período.
“Isso representa um ganho médio de 35% ou mais na produtividade em relação ao sistema tradicional, desde que o manejo seja adequado, sem comprometer a qualidade dos grãos. Mesmo que a produção por planta seja menor, o produtor obtém um retorno significativamente maior por hectare, otimizando o uso da área disponível e acelerando o retorno sobre o investimento”, acrescenta o consultor agrícola.
Abordagem estratégica
A implementação do sistema adensado requer conhecimento técnico aprofundado e uma abordagem estratégica. A escolha da variedade de café conilon é crucial para o sucesso do sistema. Clones de origem Robusta Amazônico destacam-se pela adaptação ao adensamento, com porte e arquitetura favoráveis, além de excelente resposta produtiva.

“Diferentes materiais genéticos apresentam comportamentos distintos em relação ao porte da planta, arquitetura da copa e resposta à condução em haste única. É essencial compreender o comportamento do clone não apenas em cultivo isolado, mas especialmente dentro de um arranjo adensado, onde a competição por luz e nutrientes é acentuada”, explica Tessarolo.
Além disso, o posicionamento dos clones influencia diretamente o desempenho do talhão. Um planejamento cuidadoso da fertilidade e nutrição é indispensável, pois o sistema adensado demanda mais nutrientes por hectare, exigindo um diagnóstico preciso da fertilidade do solo e um plano de nutrição bem estruturado.
Desafios à adoção do sistema
Apesar dos benefícios significativos em produtividade e sustentabilidade, a viabilidade do sistema adensado depende da estrutura da propriedade e da disposição do produtor em investir nas mudanças operacionais.
Os principais obstáculos à adoção em larga escala incluem a necessidade de adequação da mecanização, já que muitos produtores ainda utilizam maquinário adaptado para espaçamentos tradicionais; exigências de um planejamento técnico mais rigoroso; e um aumento temporário na demanda por mão de obra, principalmente no início do ciclo que requer intensificação de manejo, como podas, condução em haste única e controle fitossanitário.
“Atualmente, a colheita em lavouras adensadas não é compatível com colhedoras automotrizes convencionais, que requerem espaçamentos acima de 2,5 metros. Nesses casos, os produtores precisam recorrer à colheita manual ou a máquinas semirrecolhedoras adaptadas, o que pode resultar em maior demanda por mão de obra e ajustes operacionais, representando um dos principais entraves à expansão do sistema adensado”, conclui o consultor.
Redação Campo Vivo