ESPECIAL: Tecnologia no campo

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Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL CAFÉ (Edição 46 – Julho 2021)


Utilização das novidades tecnológicas aumenta a produtividade na cafeicultura

Diariamente somos surpreendidos por novidades do mundo tecnológico na maioria das áreas de trabalho existentes. E isso não seria diferente na área rural. Cada vez mais os produtores são surpreendidos com tecnologias e novidades que visam facilitar o trabalho no dia a dia da lavoura. Se fizermos uma comparação dos dias atuais com 10 anos atrás, vai ser notório que foram inúmeras mudanças, sejam de novas máquinas, equipamentos, bem como os insumos, e a visão dos produtores, especialmente no que se refere ao uso correto da água, já que ela é necessária em todas as culturas cultivadas.

Ailton Dias

O engenheiro agrônomo e consultor Ailton Dias destaca a importância que a água tem na vida da planta, no cultivo do café, se referindo especialmente as novas tecnologias do uso da irrigação. “A produção de conilon geralmente está em áreas de produção situadas em regiões onde o regime hídrico, embora de bom volume, seja de distribuição irregular, com maior expressão em alguns meses do ano, então a irrigação é indispensável. Quando realizada com sabedoria, isso permite que as plantas expressem seu mais elevado potencial produtivo. O conilon tem diferentes fases de desenvolvimento no decorrer do ano, e caso haja falhas na irrigação em alguma dessas fases, ou se a irrigação estiver inadequadamente dimensionada, o produtor observará perdas, desde o florescimento até a granação”, ressalta.

Para Dias, embora o tema sobre a tecnologia da irrigação não seja novo, o modo correto de gestão dessa tecnologia tem se sofisticado cada vez mais. “Muitos produtores ainda não têm acesso a uma tecnologia mais avançada, e, isto ocorre por diferentes razões. Cada um sabe da sua própria experiência, então mesmo quando ele não dispõe do conhecimento de uma tecnologia mais sofisticada, avançada, quando lhe é oferecido a oportunidade de acessar os novos conhecimentos sobre irrigação, seja através de palestras ou assistência técnica, sua mudança é imediata”, afirma.

Ailton destaca ainda que o mais importante para o produtor é entender os conceitos que estão relacionados com a água no solo e na planta. “Falando de forma mais didática, os aparelhos de irrigação podem ser comparados com a panela: pode-se fazer comida boa em panela velha e em panela nova. Não é a panela que fará a comida boa, é o cozinheiro. Então não vejo as diferentes reações dos produtores diante das novas tecnologias como uma “resistência à mudança”, vejo que o foco da discussão é que precisa ser ajustado”, ressaltou.

Para o consultor, muitas foram as mudanças no decorrer dos últimos 10 anos de forma geral ao que se refere à tecnologia para auxílio ao produtor rural. “Observamos mudanças desde o manejo fitotécnico – com novas técnicas de plantio; com clones de alto potencial produtivo; com mudas em tubetes, sem o uso de terra no substrato; uso de novas tecnologias de nutrição – até o manejo fitopatológico – com arranjos dos manejos integrados que associam o uso de controles químicos e biológicos. A maior responsável pelos números positivos do setor produtivo do conilon tem nome: chama-se tecnologia. A modernização das práticas de campo permitiu novas dinâmicas de trabalho; acelerou processos; melhorou resultados; e, aprimorou a qualidade da produção. Há alguns anos o café conilon era considerado um café inferior, já hoje a cafeicultura do Espírito Santo é destaque no agronegócio do café, tanto no Brasil como no mundo”, ressalta com orgulho.

Elídio Torezani

Para o engenheiro agrônomo e diretor da Hydra Irrigações, Elídio Torezani, o uso da tecnologia no campo exerce papel importante em vários aspectos. “Além de baixar custos, potencializar produtividades, viabilizar empreendimentos onde há algum impeditivo aos cultivos mais tradicionais, é possível minimizar uso de recursos naturais preservando o meio ambiente, então é uma soma de vários benefícios. Hoje temos produtores que já estão um passo a frente porque acreditam sim que a tecnologia vem pra somar, e também há aqueles que preferem o tradicional e são resistentes às mudanças”, pontua o especialista.

Elídio fez questão de ser enfático sobre as mudanças do meio rural nesses últimos 10 anos, especialmente no que se refere à irrigação. “A irrigação é uma ciência, e é em boa parte do mundo a base da agricultura moderna. Assim existe a nível mundial, muito investimento em pesquisa e inovação e grande parte dessa pesquisa ocorre por conta da própria indústria que precisa apresentar novas soluções. Preocupações com sustentabilidade, durabilidade, custos, automação, precisão, acessibilidade digital entre outros, são a tônica mundial também nesse segmento. A irrigação é uma ciência que atrela engenharia à agricultura. Soluções de engenharia, às vezes, surgem mais rapidamente que soluções agronômicas. Isso porque em agronomia seu “cliente” é um ser vivo que por vezes leva anos para demostrar resposta a uma intervenção. Assim, a celeridade de alguma nova técnica, pode ser determinada pela velocidade de resposta de uma planta”, afirma o especialista.

Marcelo Duarte

O engenheiro agrônomo responsável pela empresa Acqua Fértil, do segmento de irrigação, Marcelo Duarte, afirma que o uso de tecnologia em irrigação se diz basicamente da eficiência do uso da água e consequentemente também à produção de café conilon. Um exemplo que ele dá que contribui para isso, é quando o produtor opta por fazer o uso da irrigação por gotejamento, localizada. “Esse tipo de irrigação é algo absurdamente eficaz e eficiente, tanto em economia de uso da água, como também em outras economias, não só gerando produtividade, mas também rentabilidade. Usando dessa forma nas lavouras, os produtores tem ainda economia de mão de obra, em capinas, seja mecânica ou química, tem economia na quantidade de adubo, da nutrição, na questão de menos uso de defensivos agrícolas porque como é uma irrigação localizada, isso não molha a planta, a folha, então diminui o risco de doenças fúngicas. Quando a gente soma tudo isso, é nítido perceber que esse tipo de irrigação acaba sendo uma economia extra para o bolso do produtor, sem falar na eficiência do uso desse tipo de irrigação que pode chegar a 95% por ser extremamente uniforme”, alertou.

Além de todos esses benefícios, Marcelo ponderou ainda, que esse tipo de irrigação potencializa a nutrição. “Hoje já temos a fertirrigação proporcional, onde o produtor não precisa mais levar adubo para a planta 2, 3x por ano em quantidades enormes. Usando esse sistema ele acaba adubando a planta constantemente, já numa solução nutritiva através da água”.

 

Wilson Pereira Spindola Filho

No âmbito da produção, outras novidades em nossa região estão ligadas com a utilização e desenvolvimento de novos clones mais produtivos e com menor fragilidade a pragas e doenças, além de utilização de novos espaçamentos e aumento na eficiência das adubações. De acordo com o gerente comercial corporativo da empresa de máquinas e equipamentos Lipetral, Wilson Pereira Spindola Filho, é importante lembrar que o uso crescente de recursos de agricultura de precisão tem garantido melhor eficiência e rentabilidade nas operações, reduzindo custos com insumos, combustível, e melhorando a produtividade dos operadores, já que a tecnologia de precisão disponível e utilizada inclui fatores que garantem, por exemplo, o preparo de solo, a aplicação do elemento correto, no lugar correto, na medida correta, na forma correta e, por fim, no momento correto.

“Há uma popularização na utilização dos equipamentos para o recolhimento das lonas (conhecidos como “recolhedoras de café”) utilizados na colheita do café conilon. Atualmente, essa é uma realidade na maioria dos municípios produtores, e percebemos ainda uma tendência crescente da demanda por este tipo de equipamento, principalmente em função da constante evolução deste tipo de produto, cada vez mais adequado e com maior capacidade produtiva. Já no armazenamento, é importante citar como novidade a simples troca da sacaria de estopa por big-bags, praticada por empresas dedicadas ao armazenamento de café. Isso representa um significativo avanço na forma de manuseio e consequente diminuição de custos”, destaca Spindola Filho.

Sobre a tecnologia comparada de hoje com a de 10 anos, Wilson pontua isso como uma evolução positiva na produção de café conilon. “Vale ressaltar principalmente a evolução técnica e profissional possibilitada ao produtor em função das atuais tecnologias. Gosto de destacar, por exemplo, a existente tecnologia disponível a ser embarcada em tratores e implementos agrícolas, que possibilitam a geração de uma infinidade de dados durante as operações e em conjunto com plataformas online dedicadas, permitem a gestão por decisão sobre métricas de referência. A John Deere por exemplo oferece o “Operation Center”, que é uma plataforma online onde você consulta dados da máquina, da operação e dados agronômicos, possibilitando assim que se tome decisões mais assertivas. Além disso, a partir desta plataforma é possível enviar arquivos e configurações a maquinas em operação, e compartilhar dados com parceiros de negócios diretamente do escritório. Partindo da premissa de que “só se gere aquilo que se mede”, temos uma evolução fantástica conquistada e em curso no que tange tecnologia aplicada produção agrícola”, diz Wilson, da Lipetral.

Opinião compartilhada por Lauro Rangel Coelho, gerente comercial da empresa LS Tractor. Para ele, hoje no campo a busca por produtividade e redução de despesas operacionais fazem parte do dia a dia, ainda mais depois da pandemia, onde os preços decolaram e houve ainda mais escassez de mão de obra. “o trator, por exemplo, por si só já é considerado uma verdadeira entrada do uso da tecnologia, ainda mais que cada vez mais se fazem produtos com novas tecnologias, como GPS, telemetria, entre outros. Temos ainda os implementos como a máquina de colher café, que reduz a quantidade de pessoas trabalhando e aumenta a produtividade na safra, imolemos como plantadoras que medem a quantidade de grãos inseridos no solo, adubadeiras que injetam a quantidade específica de adubo e pulverizadores que jogam a quantidade programada de veneno. Tudo isso evita desperdícios dos insumos e ainda reduz gastos desnecessários, coisa que na aplicação humana seria difícil controlar”, destaca.

Segundo Lauro Rangel, os produtos que possuem uma tecnologia básica, como os que proporcionam menos consumo de combustível, menos custo de manutenção, são os mais procurados sempre, pois são porta de entrada para auxiliar no trabalho diário. Porém, ainda existem produtores de médio e pequeno porte, que optam por não comprar esses produtos pois não veem necessidade de utilização, considerando o tamanho de sua operação ou por não enxergarem os reais benefícios que a tecnologia pode trazer para seu trabalho no campo. “Há diferentes tipos de clientes, de pequeno, médio e grande porte. Temos esses citados, mas também temos os que compram pois entendem que o uso da tecnologia vai reduzir as despesas e aumentar a produtividade. Muitas vezes o aumento de produtividade é mais importante que o custo, já que as culturas tem ciclos. Mas o investimento em tecnologia vem para evitar desperdícios, ser mais eficiente que o humano não conseguiria, com isso aumentar a eficiência operacional e, consequentemente, o lucro”, diz.

Fernando Toretta

Para o engenheiro elétrico Fernando Toretta, sócio proprietário da empresa Irrigafacil, há de se considerar que hoje existe uma demanda muito grande por soluções tecnológicas que ainda precisam ser desenvolvidas ou disseminadas, mas o uso dessas tecnologias tem sido muito bem aceitas pelos produtores. “É válido considerar que o grande gargalo desse setor, é ainda o alto custo dessas tecnologias que inviabilizam a aquisição, e isso acontece por que grande parte desses equipamentos são importados, então há um custo para a empresa adquiri-lo, e esse custo acaba sendo repassado ao produtor. Temos visualizado que esse cenário tem mudado e hoje no Brasil já existem várias empresas desenvolvendo produtos de alta tecnologia com custos reduzidos, então é uma excelente notícia tanto para nós, como para os produtores, pois isso irá reduzir em cerca de 50% o valor de custo com equipamentos de alta tecnologia”, ressalta.

No caso do café, o engenheiro afirma que hoje em dia é quase impossível ter alta produtividade e qualidade sem essas ferramentas, como irrigação e fertirrigação, considerando que o sistema de irrigação por gotejamento hoje é o mais indicado para essa cultura, pois além de contribuir para a economia significativa de água, tem ainda a economia de energia elétrica, mão de obra, aumento de produção e a estabilidade hídrica e nutricional. Estudos realizados em algumas propriedades já apontam uma economia de fertilizantes que varia de 15% a 50% e um aumento de produção entre 5% e 10% com o uso dessas novas tecnologias no que se refere à irrigação e fertirrigação”, diz.

Redação Campo Vivo

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