O mercado deve se manter firme, ainda que sofra correções pontuais
Márcio Candido Ferreira – Presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV)
Com larga tradição no mercado cafeeiro, sendo o Espírito Santo celeiro de grandes exportadores que figuram entre os maiores do Brasil, o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV) representa o setor comercializador do grão. O trabalho iniciou em 10 de abril de 1947, com noventa e seis cafeicultores capixabas reunidos para organizar uma entidade que representasse os interesses da classe cafeeira em nosso Estado. Márcio Candido Ferreira é o atual presidente da entidade e, nesta entrevista, fala sobre as perspectivas do mercado mais movimentado do agro capixaba.
CAMPO VIVO – Quais fatores atuais estão influenciando, principalmente, o mercado de café?
MÁRCIO – O dólar em torno de R$5,00 ainda favorável para a exportação, a quebra acentuada na safra brasileira de arábica, a alta recorde dos fretes marítimos internacionais e os problemas logísticos no mundo inteiro como falta de containers e espaço nos navios, são os principais componentes do cenário atual.
CAMPO VIVO – Safra de conilon foi dentro do esperado pelo mercado?
MÁRCIO – Sim, boa safra, com expectativa superior ao ano passado e talvez próximo a 2019, apesar de um rendimento um pouco abaixo do que esperavam os mais otimistas.
CAMPO VIVO – As exportações positivas têm sido motivadas por quais fatores?
MÁRCIO – Principalmente em função da safra 20/21 recorde do arábica, estimada acima de 50 milhões e seu carryover (estoque de passagem) que reduz o efeito da quebra acentuada de 21/22 (arábica) e também a safra atual de conilon. As exportações são favorecidas pela alta do dólar e das cotações nas bolsas de NY e Londres.
CAMPO VIVO – Consumo mundial pós pandemia. O que esperar?
MÁRCIO – Certamente aumento do consumo, com a retomada da economia e mais intensa sociabilização da população nos ambientes externos como cafeterias e restaurantes, com maior demanda para cafés de qualidade superior.
CAMPO VIVO – Qualidade. Qual o nível da “régua” no quesito qualidade do café neste momento?
MÁRCIO – Cada ano a régua é elevada. O Brasil é referência de qualidade tanto no arábica e no conilon, e tendo em vista a variação de processos (natural, cereja e lavado) com os investimentos em pesquisa e tecnologia, certamente temos e continuaremos avançando e surpreendendo o mundo. A régua sofre uma grande pressão positiva também em função do tripé da sustentabilidade, isto é social, ambiental e econômico. Hoje começa a se falar fala muito na sigla ESG (Enviroment, Social and Governance). Eu acrescentaria uma outra letra E: EESG = Economic, Enviroment, Social, Governance. Tudo isso é perfeitamente tangível desde que a cafeicultura seja economicamente viável para o produtor.
CAMPO VIVO – Safra 2022. Qual a perspectiva atual de produção e mercado?
MÁRCIO – O mercado trabalha com números da ordem de 20 milhões no conilon e 35 milhões no arábica o que somados aos estoques remanescentes possibilitará atender a demanda ainda que de forma apertada, com ênfase à maior participação do conilon nos blends da indústria brasileira e mesmo lá fora.
O mercado deve se manter firme, ainda que sofra correções pontuais.
Entrevista publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL CAFÉ (Edição 46 – Julho 2021)