por Gilmar Gusmão Dadalto*
Divulgado recentemente pela Fundação SOS Mata Atlântica, os 17 Estados brasileiros abrangidos pelo Bioma Mata Atlântica tiveram 14.502 ha de mata nativa desmatada entre os anos de 2018 e 2019. Os dados obtidos correspondem a um aumento de 27,2% na taxa de desmatamento comparado com o período anteriormente avaliado (anos de 2017 e 2018).
Em contrapartida, no Estado do Espírito Santo os resultados indicam uma área desmatada insignificante (13 ha), correspondente a 0,00028% da área estadual. Isso significa dizer que o desmatamento foi praticamente zero. Os índices de desmatamento em território capixaba vêm reduzindo significativamente ao longo dos anos, sobretudo a partir do ano 2.000, conforme pode ser observado no gráfico.
Associado às taxas de desmatamento insignificantes no Estado, ainda há de se ponderar que as áreas desmatadas podem ter sido de tipologias de florestas onde é permitido por lei a supressão, a exemplo de estágio inicial de regeneração. Ao mesmo tempo, tem-se as atividades de utilidade pública e de interesse social, onde a supressão da vegetação nativa é permitida mediante autorização dos órgãos competentes.
Por outro lado, a área reflorestada vem aumentando significativamente. Estudo denominado “Atlas da Mata Atlântica do Estado do Espírito Santo” publicado em 2018, mostra que as áreas ocupadas por florestas nativas em estágio médio/avançado de regeneração tiveram um aumento efetivo de 27.179,5 hectares, considerando dois períodos avaliados (2007/2008 e 2012/2015). Isso equivale, em média, a um aumento aproximado de 3.883 ha anualmente.
Avaliando a área total capixaba com cobertura florestal nativa, levantamentos realizados pelo Cedagro (2015), indicam que a soma das florestas primárias com aquelas em estágio médio e avançado de regeneração natural, proibidas de corte, aproximava-se a 16% da área estadual, ou seja, 737 mil ha. Se somarmos a estes, cerca de 6% de áreas ocupadas por florestas em estágio inicial de regeneração, chegamos a aproximadamente 22% de cobertura florestal natural, equivalente a 1 milhão de ha. Essas informações, de forma aproximada, foram corroboradas no Atlas da Mata Atlântica do Estado do Espírito Santo (2018). Além disso, existe a obrigatoriedade de recomposição das APP’s (Áreas de Preservação Permanente) e Reserva Legal prevista no novo código florestal brasileiro o que deverá aumentar a área citada acima.
É importante ressaltar que essa cobertura florestal nativa é muito variada nas diferentes Regiões Capixabas, tendo uma alta concentração na Região Serrana, possuindo municípios com mais de 40%, e uma baixa cobertura na Região Extremo Norte, com menos de 3% de florestas nativas, em vários municípios. Essas florestas, em sua maior parte, possivelmente, foram formadas através do processo de regeneração natural.
Diante do cenário das ocupações das terras capixabas, é relevante destacar que as florestas em estágio inicial de regeneração devem ser alvo de estratégias de restauração, pois há uma tendência de atingirem o estágio médio e avançado de regeneração através dos processos que ocorrem na sucessão ecológica. No Espírito Santo, haviam 72.989 fragmentos florestais em estágio inicial de regeneração ocupando 285.568 ha (Atlas da Mata Atlântica do Estado do Espírito Santo – 2018).
Os resultados de preservação e aumento de áreas florestais ecológicas das diferentes regiões do Estado do Espírito Santo podem estar em função de aspectos relacionados à eficiência da fiscalização dos órgãos ambientais; preservação e restauração promovidas, principalmente, pelas empresas de base florestal; implementação de Políticas Públicas de incremento de cobertura florestal; esforços de organizações não governamentais; conscientização do produtor rural da importância das florestas e o estabelecimento de novas modalidades de restauração florestal simples e de baixo custo, a exemplo da regeneração natural e a possibilidade de geração de renda nessas áreas.
O Estado do Espírito Santo alcançou, ao longo dos anos, status de referência nacional em boas práticas de restauração, conservação e proteção de florestas. Para tanto, deve manter seus mecanismos de controle florestal, incentivo ao reflorestamento e gestão da paisagem.
Para os próximos anos, os índices de cobertura florestal nativa devem ser incrementados, melhorando ainda mais a paisagem, a conectividade entre os fragmentos florestais, a proteção do solo e as reservas hídricas proporcionadas pelas florestas.
Gilmar Gusmão Dadalto – Eng. Agrônomo, MS, Presidente do CEDAGRO – Centro de Desenvolvimento do Agronegócio