Por Williams Ferreira* e Marcelo Ribeiro*
Em 20 de junho ocorrerá o início do inverno, quando as temperaturas deverão ser menores em quase todo o Brasil. Neste ano o clima da estação não deve ser afetado pelos eventos El Niño e La Niña. Todavia, é esperado que na maior parte do Brasil as temperaturas ocorram, em sua maioria, um pouco acima da média.
O inverno em 2020
Na presente estação do outono, que se encerra nos próximos dias, as temperaturas foram mais baixas (principalmente a partir de maio) do que o outono de 2019. Todavia, apesar do frio ocorrido no outono, o próximo inverno, que é a estação do ano mais fria entre todas, não deverá ser tão rigoroso. O inverno, que ocorre entre o outono e a primavera, impacta de forma diferenciada as diferentes regiões brasileiras, sendo o Sul e o Sudeste aquelas que experimentam as maiores quedas de temperatura nesta estação.
A maioria das pessoas acha que a estação mais fria começa com o solstício de inverno, que este ano será no dia 20 de junho às 18h44 (horário de Brasília), quando ocorrerá o dia mais curto e a noite mais longa do ano, marcando o início do chamado inverno astronômico do hemisfério Sul. Entretanto, o chamado inverno meteorológico, que se baseia no ciclo anual das temperaturas e não somente no movimento da Terra em torno do Sol, tem início um pouco mais cedo, podendo ocorrer antes de meados de junho, ou até mesmo a partir de meados de maio em alguns anos, quando as frentes frias começam a chegar com maior intensidade sobre as regiões Sul e Sudeste do Brasil.
El Nino ou La Niña nos próximos meses?
O Índice de Oscilação do Sul, os ventos alísios, as temperaturas da superfície do mar (Figura 1) e a nebulosidade próxima a Linha de Data (antimeridiano de Greenwich) na região tropical do Oceano Pacífico, que são indicadores das condições de ocorrência, ou ausência, dos fenômenos El Niño e La Niña (ENOS), atualmente indicam o estado de neutralidade atmosférica para a ocorrência desses fenômenos, apesar do esfriamento (Figura 2) que vem ocorrendo na superfície das águas na parte centro-leste do Pacífico nos últimos dois meses.
Figura 1 – Temperatura (oC) média semanal da superfície do Oceano Pacífico entre 7 a 13 de junho (Fonte: Climate Prediction Center – NOAA)
Figura 2 – Anomalias observadas na temperatura média semanal (oC) da superfície do Oceano Pacífico entre 7 a 13 de junho (Fonte: Climate Prediction Center – NOAA)
A chuva no próximo inverno
Frente às condições oceânicas e atmosféricas reinantes é esperado que na estação do inverno ocorra um aumento da área mais central do Brasil com chuva abaixo da média. É esperado também que as chuvas ocorram abaixo da média em toda a porção oeste e norte do Paraná, bem como nas regiões de Assis e Itapetininga, em São Paulo. Em Minas Gerais, as chuvas no próximo trimestre poderão ficar pouco abaixo da média no sul e sudeste do Estado. Em São Paulo, menores volumes de chuvas poderão ocorrer nas regiões macro metropolitana Paulista e de Campinas, enquanto no Paraná a parte centro oriental do estado também poderá apresentar chuvas abaixo da média.
De modo geral a estação de inverno é caracterizada também como o período mais seco do ano e, caso as tendências de resfriamento do Pacífico se mantenham, as chuvas poderão, de modo geral, ficar pouco abaixo da média principalmente na região Sul do Brasil, sendo que tal período mais seco, este ano, poderá se estender até o começo da primavera, e atrasar o início da estação chuvosa. Chuvas acima da média são esperadas para a região litorânea entre os estados de Pernambuco seguindo até o sul da Bahia, bem como também as regiões centro norte e nordeste da Bahia. As regiões mais ao norte dos estados do Amazonas e Pará, e em todo o estado do Amapá e Roraima também deverão apresentar chuvas acima da média da estação.
A temperatura no próximo inverno
As temperaturas deverão ficar acima da média na maior parte do Brasil, com destaque para todo o Espírito Santo e os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, com exceção neste último da região nordeste mato-grossense. Há grande possibilidade de as temperaturas ocorrerem acima da média nas regiões cafeeiras das Matas de Minas e no Sul de Minas. As temperaturas também poderão ficar acima da média no Triângulo Mineiro, Oeste do Estado e nas regiões Metropolitanas de Belo Horizonte e Vale do Rio Doce. Destaca-se, no entanto, que em julho, a região mais ao norte de Minas, bem como a Região Metropolitana de Belo Horizonte possam experimentar temperaturas mais baixas do que em outras partes do Estado.
O Café
O chamado inverno meteorológico que teve início um pouco mais cedo, com a entrada das frentes frias que baixaram as temperaturas a partir de meados de maio e trouxeram chuvas para as regiões cafeeiras no início da atual safra, contribuiu para que os cafés tivessem o processo de maturação mais acelerado, reduzindo assim a janela para colheita do café cereja e aumentando a possibilidade de colheita de cafés já secos no pé, além de aumentar o volume de cafés caídos no solo. Isto tem favorecido a produção de cafés de baixa qualidade de bebida nesta safra. Logo, os produtores que tiverem boa capacidade de secagem no pós-colheita, devem acelerar sua colheita.
Apesar de 2020 ser um ano de alta safra, como o inverno neste ano poderá ser mais seco com temperaturas acima da média para todo o Brasil e pelo fato de muitas lavouras estarem apresentando um alto desfolhamento, devido à elevada produtividade, as produções para a safra 2021 poderão ser afetadas. Assim, os produtores devem se preparar para realização de podas o mais breve possível, logo após a atual colheita.
Prognóstico
A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET (5º DISME)/ CPTEC-INPE. O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a EMBRAPA Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira é Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. – williams.ferreira@embrapa.br
*Marcelo Ribeiro é Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br