Há alguns meses, o Conselho Nacional do Café (CNC) tem alertado que a safra 2020 de café do Brasil não será recorde e que não será tão próxima ao volume colhido pelo país em 2018.
Esse cenário foi diagnosticado devido à descapitalização dos produtores, em função do longo período de preços baixos, e a uma série de adversidades climáticas ocorridas.
“A falta de recursos dos cafeicultores fez com que diminuíssem os tratos culturais, que ficaram aquém do ideal nas lavouras, o que reduzirá a produtividade para a colheita de 2020”, explica Silas Brasileiro, presidente do CNC.
Segundo ele, o clima afetou o rendimento da safra atual e também impactará o desempenho da futura. “As condições climáticas não foram normais recentemente, com chuvas em períodos invertidos, ocorrência de geadas em algumas regiões e temperaturas e umidade mais elevadas no inverno”, conta.
Brasileiro revela que essas adversidades influenciaram a produção de 2019, que teve qualidade inferior à média. “Neste ano, a falta de precipitações na fase de desenvolvimento e a ocorrência delas na colheita do café, além do impacto da geada em algumas áreas do cinturão produtor, prejudicaram a qualidade e, consequentemente, diminuíram a renda do produtor”, relata.
“Para 2020, com a descapitalização e os menores tratos, a geada e as condições atípicas do clima, temos notado desfolha e amarelecimento das folhas nos cafezais, o que reduz o potencial produtivo e nos permite garantir que não veremos safra recorde”, completa.
O presidente do CNC anota que também surpreende o registro de alguns focos de ferrugem identificados durante este inverno, já que a doença normalmente ataca no verão.
“Como tivemos um inverno também atípico, com temperaturas elevadas e alta umidade em algumas origens produtoras, vimos surgir a ferrugem, que é outro ponto que deve impactar a safra de 2020”, projeta.
Diante desse cenário, Brasileiro recorda que o volume recorde produzido pelo Brasil em 2018 serviu para suprir a safra menor deste ano, que deve fechar ao redor de 50 milhões de sacas.
“Com esse equilíbrio entre as safras, não veremos excedente significativo na oferta mundial e as cotações do café devem começar a se recuperar. Passada a turbulência, vislumbro um período bom para os cafeicultores brasileiros, que, por terem investido em pesquisa e assistência técnica, conseguem enfrentar a crise melhor que seus concorrentes. Assim, o Brasil manteve e poderá até ampliar sua participação no mercado mundial e nossos produtores voltarão a ter uma atividade dignamente rentável”, conclui.
MERCADO
Corroborando com a indicação do presidente do CNC, os contratos futuros do café registraram recuperação nesta semana, impulsionados pela preocupação relacionada ao tempo quente no Brasil diante das floradas que foram abertas no cinturão produtor.
Na Bolsa de Nova York, o vencimento dezembro/19 do contrato “C” avançou 655 pontos no acumulado da semana, encerrando o pregão de ontem a US$ 1,0360 por libra-peso. Na ICE Europe, o vencimento novembro/19 do café robusta fechou a US$ 1.331 por tonelada, com ganhos de US$ 36.
Operadores informam que o mercado, que no curto prazo deve passar por realização de lucro em função da ascensão recente, está na expectativa de chuvas nas áreas produtoras brasileiras, que são necessárias para a formação das floradas generalizadas nos cafezais, as quais dão origem aos frutos da safra 2020.
Segundo a Somar Meteorologia, o tempo volta a ficar firme em todo o Sudeste a partir de domingo. Na próxima semana, com a atuação de uma alta pressão atmosférica que dificulta a formação de instabilidades, o tempo firme e o calor predominarão em praticamente toda a Região, havendo possibilidade de chuva, isolada e pontual, apenas no leste do Espírito Santo.
No mercado cambial, o dólar comercial recuou 0,5% na semana até ontem, quando fechou a R$ 4,0599, o menor nível em 20 dias. A moeda acompanhou o movimento externo, onde o pacote de estímulos econômicos do Banco Central Europeu (BCE) e os sinais de alívio nas tensões comerciais entre China e Estados Unidos exerceram pressão sobre a divisa.
No Brasil, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informa que o avanço das cotações externas puxou o mercado físico e permitiu a realização de alguns negócios nos momentos de pico, em especial na terça e na quarta-feira, com produtores realizando vendas para honrar compromissos.
Entretanto, a liquidez diminuiu à medida que os cafeicultores se afastaram do mercado à espera de cotações mais remunerativas frente a seus custos de produção. Os indicadores calculados pela instituição para as variedades arábica e robusta foram cotados, ontem, a R$ 439,65/saca e a R$ 288,53/saca, respectivamente, com ganhos de 5,5% e 2,8%.
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