Estudantes criam válvula para simplificar o processo de irrigação em pequenas e médias propriedades

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Dois estudantes do curso de engenharia mecânica, do Instituto Federal do Espírito Santo em São Mateus, desenvolveram um dispositivo com o objetivo de tornar o processo de irrigação nas pequenas e médias propriedades mais simplificado e automatizado. É uma válvula direcional de fluxo de vias, que reúne e controla as saídas de água para as tubulações de irrigação. O dispositivo substituiria os registros utilizados nas propriedades para controlar a saída de água em diferentes áreas plantadas, que dependem de um operador para acioná-los ou desliga-los de tempo em tempo e assim irrigar toda a propriedade.

Huarley Lemke e Ricky Boroto, que desenvolveram a válvula, são filhos de agricultores familiares da região. Eles contam que a ideia surgiu justamente para otimizar todo o processo e também evitar que eles passem à noite em claro para fazer o processo manual de acionamento dos registros, nos períodos em que a Agência Estadual de Recursos Hídricos proibir a utilização de água dos rios do Espírito Santo para irrigação durante o dia.

Ricky Boroto (esq) e Huarley Lemke (dir)

“São vários encanamentos que leva água para áreas das plantações. Com isso é preciso ficar acordado à noite para irrigar o café porque durante o dia isso não é possível. A válvula resolveria esse problema, já que ela concentra todas as saídas de água num dispositivo só e para acionar ou desligar a bomba seria usado um timer de acionamento, que jogaria água para as tubulações no tempo programado, gerando economia de água”, disse o estudante Huarley Lemke.

O projeto foi desenvolvido pensando em pequenos agricultores, já que o sistema automatizado implantado numa propriedade mesmo de forma simples, tem o valor alto, o que inviabiliza os agricultores familiares de terem esse sistema. No entanto, a válvula pode ser adaptada para atender grandes produtores e também outros setores de produção, como o de petróleo e gás.

“A válvula tem oito saídas para atender essa quantidade de setores de irrigação nas propriedades. Como a água é liberada para um setor de cada vez, ela pode ser adaptada ligando uma dessas saídas para uma outra válvula que vai fazer todo o processo de liberação do fluxo de água para mais alguns setores da propriedade. Além disso ela também atende o setor de produção e extração de petróleo e gás”, explica Ricky.

A válvula começou a ser desenvolvida em 2010. Desde então, os estudantes inscreveram o projeto em diversos eventos de tecnologia e inovação para conseguirem recursos financeiros e tirar o a ideia do papel. Eles conseguiram boas colocações em eventos como a 11ª Semana Estadual da Ciência e Tecnologia; 4ª Innova World e o Desafio Inovação, promovido pela Findes.

Numa parceria com a Universidade Estadual de Campinas, foi desenvolvido um protótipo da válvula numa impressora 3D e outro protótipo feito de aço. A válvula também foi planejada para ser produzida com PVC, o que permite o produtor fazer a fertirrigação sem provocar danos corrosivos ao produto.

Os testes do dispositivo foram feitos apenas em laboratório do Ifes em São Mateus. A ideia foi bem elogiada e aceita pelo professor, Luiz Rafael Resende, que é engenheiro mecânico e mestre na área de processos de fabricação de materiais. Ele acompanhou e auxiliou Huarley e Ricky durante o processo de elaboração do projeto para o Trabalho de Conclusão de Curso dos dois estudantes.

“É um projeto inovador. Nossa ideia foi colocar o aluno para se habituar na área da engenharia, que é criar novos produtos. Todo o projeto foi estudado e conseguimos colocar no papel e em discussão de acordo com a demanda. O projeto tem aplicabilidade econômica e nosso desejo é que ele saia do protótipo”, disse o professor.

Mesmo após a conclusão do curso, a ideia é continuar na captação de recursos ou parceria com alguma instituição para que o produto seja aprimorado e comercializado.

“Nós já registramos o projeto e pedimos patente. Vamos continuar na busca por novas parcerias para fazer com que o nosso produto não fique no protótipo”, disse Huarley.

Ricky conta que a ideia foi bem aceita por seus familiares e produtores vizinhos, mesmo não tendo colocado o produto para funcionar em alguma lavoura. Ele disse que mesmo não tendo retorno financeiro, ver o seu produto sendo utilizado por produtores vai ser uma grande realização.

“Nosso sonho maior é tirar do papel e colocar para funcionar. Ter um produto no mercado sendo aceito, mesmo que não agregue muito valor para a gente, mas ver nosso conhecimento sendo aplicado de alguma forma”

Reportagem publicada na edição 35 da Revista Campo Vivo

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