Nos últimos anos os produtores rurais do Espírito Santo passaram por um período delicado no campo por causa do longo período de estiagem que inviabilizou a irrigação da produção. Ao invés de comemorarem uma boa safra, eles contabilizam prejuízos e aguardam esperançosos pela chuva, tida como a única alternativa para amenizar a situação, abastecer os rios, represas e lençóis freáticos. Será que é possível manter a produtividade em meio a seca, perdas de produção e prejuízos no campo?
O engenheiro agrônomo e um dos gestores da Hydra irrigações, Elídio Gama, reforça a necessidade de mudança nas práticas no campo. Ele disse que é preciso acompanhar as mudanças tecnológicas e, principalmente, as climáticas para ter uma produtividade sustentável e economicamente viável.
“Acabou o tempo de seguir o modelo que meu avô produzia. Hoje em qualquer negócio é preciso ter austeridade e compromisso se não o financeiro não vem e não se tem qualidade no processo produtivo. Existe um abismo muito grande no modo de se produzir e na tecnologia disponível e muitos não querem fazer disso uma verdade”, enfatiza o engenheiro.
Na visão do engenheiro, para manter uma boa produtividade alinhada à sustentabilidade é preciso fazer um acompanhamento das atividades no campo, o que não tem acontecido ultimamente.
“Os equipamentos de irrigação, por exemplo, mostram a quantidade de água que o solo e as plantas precisam, mas é necessário fazer um acompanhamento constante das atividades. Tenho presenciado muitos produtores fazerem certos trabalhos por um tempo e depois enjoa abandona tudo. Infelizmente é realidade. Quanto mais complexo a proposta de trabalho, menos aceitação ela tem”, lamenta.
Há cerca de três anos, o produtor Bruno Pessotti, que cultiva mamão e café em Linhares iniciou a mudança no sistema de irrigação em sua propriedade. Ele conta que as intervenções foram necessárias para manter a média de produção. Além da economia de água, hoje o produtor comemora redução nos gastos com a mão de obra no campo.
“Ou fazia essa mudança ou estaria fora do mercado atualmente, porque não teria água para irrigar. Além da economia de água, com o novo sistema eu tive uma redução de 20% nos custos de mão de obra, já que o gotejamento é um sistema automatizado que me permite fazer a fertirrigação”, destaca.
Na propriedade há 210 hectares ocupados por café e outros 170 com mamão A mudança no sistema de irrigação na propriedade está sendo feita de forma gradativa, mas a maior parte das plantas são irrigadas com o novo sistema mais econômico e eficiente.
“Das novas plantações que tenho na propriedade, 100% já está com o sistema de gotejamento. A mudança nos sistemas de irrigação na propriedade ainda está acontecendo. Hoje, apenas 60 hectares da plantação ainda é irrigada com microjet e micro aspersão. Além disso, existe uma série de práticas de sustentabilidade que temos feito aqui na propriedade, que vai desde a formação da equipe de funcionários que vão para o campo até molhar as plantas apenas no momento em que a demanda de água é maior, que é pela manhã. Temos feito análise de solo e folheados, recuo de nascentes. Tudo isso tem garantido uma boa produtividade”, explica o produtor.
O manejo de solo também é uma das técnicas que, além de contribuir para o meio ambiente, garante uma boa produtividade. O engenheiro agrônomo e pesquisador em fitotecnia do Incaper, Luiz Fernando Favarato, explicou que apesar de importante para a viabilidade das plantações, a técnica não é tão comum nas lavouras do estado.
“Não são todos os produtores que costumam fazer esse trabalho e acabam usando técnicas inadequadas na preparação do solo. Cada cultura tem sua técnica especifica e cada solo é classificado dentro de um sistema de uso. Então é preciso corrigir algumas imperfeições para então começar a fazer o plantio”, explica o pesquisador.
O trabalho feito de forma correta pode reduzir a erosão causada pela chuva e aumenta a absorção de nutrientes pelas plantas.
“O primeiro prejuízo que o produtor vai ter caso não faça o correto manejo do solo é perder o substrato, que é a química para manter a produção, depois a biologia vai embora e por último a parte física, que é a erosão do solo. Isso inviabiliza qualquer tipo de produção. Um trabalho bem feito pode evitar tudo isso, além de aumentar a produtividade, evitar a lixiviação, a eutrofização, perdas de nutrientes e a desertificação, que é característico de muito solo no estado”
O manejo do solo mantém em equilíbrio três alicerces do sistema, que são a química, cívica e a biologia. Para iniciar o trabalho de correção e ter um solo saudável, é necessário fazer uma análise laboratorial para saber quais são os próximos passos para corrigir as imperfeições de acordo com a cultura a ser plantada. Para fazer esse trabalho, o produtor pode buscar orientações com o Incaper do município onde reside ou à sua cooperativa, caso seja associado.
Reportagem publicada na edição 34 da Revista Campo Vivo