Crédito rural despenca no Espírito Santo
Cerca de R$ 1,1 bilhão deixou de ser aplicado por ano em crédito rural no Espírito Santo, num período muito curto. No último ano safra (Julho/2016 a Junho/2017), foram injetados apenas R$ 1,68 bilhão nas operações capixabas de custeio, investimento e comercialização ligadas à atividade agropecuária. Uma queda de 39% em apenas dois anos, haja vista que em 2014/15 o montante de crédito alcançou a cifra de R$ 2,76 bilhões. Situação que preocupa!
Para se ter uma ideia, neste mesmo período, a queda no país como um todo foi de apenas 1%, passando de R$ 156,1 bilhões em 2014/15 para 154,5 bilhões, no último ano safra, segundo dados oficiais extraídos do Banco Central do Brasil, por meio do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro/Sicor. Um viés no Espírito Santo!
A maior parte das propriedades rurais capixabas tem renda média baixa, com mínima capacidade de poupança para investir em modernização tecnológica e, portanto, dependente da oferta de crédito rural. E a necessidade de aporte de crédito se amplia nessa época em que o Espírito Santo ainda convive com as sequelas da maior crise hídrica de todos os tempos. Crise dobrada!
Neste contexto, deve-se considerar que grande parte da renda agrícola do Espírito Santo vem de atividades permanentes, cuja base tecnológica de produção evoluiu muito nas últimas décadas, sobretudo na cafeicultura e na pecuária leiteira, apenas para citar dois exemplos. Assim, essa redução drástica na aplicação de crédito pode interromper os progressos tecnológicos e de competitividade, tendo em vista que não há compensação dessa diminuição por meio investimentos com recursos próprios dos agropecuaristas. Cenário que preocupa!
Ainda segundo os dados do Sicor, o número de operações contratadas por ano safra caiu pela metade, com 60,6 mil operações realizadas em 2014/15, ante 31,8 mil realizadas no último ano safra (2016/17). Nesse mesmo período, o montante aplicado na modalidade de investimento, aquela que realmente muda o patamar de eficiência de um estabelecimento rural, caiu quase 45%, despencando de R$ 994,7 milhões para R$ 548,9 milhões. Redução em quantidade e qualidade!
Esses dados preocupam ainda mais porque o crédito é um dos principais indutores de desenvolvimento e a sua redução ou ampliação funciona como um termômetro para economia, aquecendo-a ou não, com reflexos diretos sobre a geração de renda e emprego. Portanto, a política de disponibilização e efetiva aplicação crédito é um dos principais antídotos para dar um novo ânimo ao setor rural e ao interior capixaba. A crise foi mais grave por aqui!
Já passou da hora de o Governo Federal entender o enorme passivo da agropecuária no Espírito Santo, neste período de pós-crise hídrica. Devem ser adotadas medidas adequadas na política de crédito rural, tanto para as contratações vigentes quanto para futuras. Taxas e prazos devem ser ajustados para ampliar a oferta de crédito de forma consistente, sem aumentar a inadimplência. Sem isso, nem o rural e nem as pequenas e médias cidades do interior do Estado irão alcançar padrões mais elevados de crescimento econômico e desenvolvimento social. Fica a dica!
Enio Bergoli – Diretor Geral do DER-ES – Engenheiro Agrônomo e Ex-Secretário de Estado da Agricultura
Artigo publicado na edição 35 da Revista Campo Vivo