Uma pesquisa conduzida por cientistas australianos (Universidade de Melbourne) e chineses (Academia Chinesa de Ciências) comparou estudos que envolvem a aplicação de esterco bovino na agricultura como adubo em substituição aos fertilizantes convencionais nitrogenados. O estudo concluiu que é possível equiparar a produtividade utilizando o esterco animal em vez do produto comercial.
“Eles observaram que a substituição entre 50% e 75% do fertilizante comercial com esterco bovino em bases de nitrogênio traria vantagens grandes, com aumento de produtividade de 10% a 12%”, conta o pesquisador da Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ) Caio de Teves Inácio. “Esses dados podem impactar nas recomendações de adubação, já que os manuais de adubação não costumam levar em consideração esse uso conjunto. O produtor vai usar o fertilizante convencional com o orgânico, ele não vai escolher um ou outro, ele vai usar os dois. Só o produtor orgânico certificado é que realmente restringe o uso do produto comercial”, completa Caio.
O estudo utilizou uma série de artigos ao redor do mundo para chegar aos resultados, curiosamente nenhum texto brasileiro foi usado,, “ou porque os textos nacionais não estavam em inglês ou porque não atendiam aos critérios exigidos”, diz Caio.
Todos os trabalhos científicos consultados pelo grupo sino-australiano demonstraram que a mistura convencional/organomineral causou aumento do carbono no solo e do nitrogênio preso na massa microbiana do solo e redução de perdas de nitrogênio por volatização de amônia, seja por lixiviação ou por escoamento.
“O único ponto negativo identificado foi o aumento da respiração do solo (emissão de CO2) e de metano, neste caso, em solos com arroz alagado. Em relação ao óxido nitroso não houve diferença entre um fertilizante e o outro”, revela Caio.
Outro dado importante foi em relação à questão da faixa de substituição, que pode afetar as recomendações de adubação. A pesquisa levantou informações bastante claras sobre quanto pode ser substituído na proporção de nitrogênio usando esterco em relação à ureia, por exemplo.
No Brasil existem estudos comparando as duas formas de adubação. “Nosso primeiro dever de casa seria fazer um estudo semelhante direcionado para o Brasil. Eles trabalharam com o esterco bovino, podemos ampliar o trabalho para o esterco suíno e cama de frango”, conclui o cientista da Embrapa.