A diferença entre os preços do boi gordo e da carcaça do animal no atacado tem garantido ganhos aos frigoríficos em meio a um ano turbulento para a pecuária. Em julho, esse spread foi positivo em 5,7%. A diferença média costumava ser negativa em 5,5%.
“É um recorde histórico ter uma diferença positiva por tanto tempo”, afirma a sócia-diretora da Agrifatto, Lygia Pimentel. Ela explica que, normalmente, os frigoríficos compram o boi gordo por um valor maior do que vendem a carcaça no atacado, o que gera uma diferença que costuma ser negativa. O valor da carcaça é uma média ponderada dos preços de dianteiro, traseiro e agulha. A analista observa ainda que as contas das empresas se equilibram com a venda de subprodutos, como couro, miúdos e sebo, entre outras partes.
Esse cenário mudou no final do ano passado. Com a queda de oferta de animais para abate e da demanda por carne, gerada pelo encerramento de atividades de vários frigoríficos, a arroba recuou. Lygia Pimentel estima que mais de 50 unidades tenham fechado as portas.
Neste ano, a queda dos preços do boi gordo se intensificou após a deflagração da operação Carne Fraca, em março, na qual foram investigadas irregularidades envolvendo fiscais e empresas.
Desde janeiro a cotação da arroba do boi gordo recuou 15,9%, na média, saindo de R$ 149,05 para R$ 125,38, em agosto, segundo levantamento da Agrifatto.
Já os preços da carcaça no atacado recuaram, em média, 8,3% entre janeiro e o começo de agosto, de R$ 150 para R$ 137,50.
O resultado foi uma diferença média positiva de 4,5% entre os dois preços. Essa diferença chegou a bater 7,8% em junho. “E isso nos leva a crer que as margens dos frigoríficos estão melhores”, pondera a sócia-diretora da Agrifatto.
Recuperação
Ela acrescenta que, além dessa diferença, outros fatores levam a crer que as empresas atuam com margens positivas. “Os frigoríficos reativaram unidades e estão trabalhando com escalas mais longas. Ninguém faz isso se não estiver em uma situação mais confortável”, avalia a sócia-diretora.
Nos primeiros dias de agosto, essa diferença entre preço de arroba e de carcaça no atacado voltou ao patamar próximo do de janeiro e está positivo em 1,4%. “Ainda é cedo para saber se esse será o resultado do mês, mas isso já é reflexo do aumento dos preços da arroba”, afirma Pimentel.
Essa valorização do preço do boi gordo pode ser explicada justamente pela capitalização dos frigoríficos. “Com mais dinheiro, as empresas aumentam a demanda e voltam a comprar gado”, ressalta .
Outro fator que contribui para um segundo semestre de preços maiores para o boi gordo, na avaliação da consultora, é a expectativa de que o número de animais confinados neste ano seja menor do que o volume registrado em 2016. “Os criadores estão adiando a entrada dos animais no cocho”.
A Agrifatto estima uma redução de 13% no número de animais confinados neste ano, para 3,9 milhões de cabeças. No ano passado, conforme cálculos da consultoria, 4,5 milhões de animais foram terminados no cocho.
Na visão dela, para o segundo semestre a tendência é que essa relação entre arroba e carcaça volte à normalidade.
DCI