A seca histórica que atinge o Espírito Santo, em especial a região Norte, foi tema de debate na Comissão de Cooperativismo nesta terça-feira (23). O colegiado recebeu o presidente da Veneza, José Carnieli. A cooperativa reúne produtores do Norte do Estado e é, atualmente, uma das maiores produtoras de queijo do Brasil. Os produtores cobram maior apoio do poder público.
Carnieli explicou que a Veneza acompanha diariamente os índices de chuva no Espírito Santo e desde 2006 percebe uma redução da precipitação no solo capixaba. “Estamos com metade da média histórica de chuva na região Norte. O que temos é um caos. Toda reserva que o produtor trabalhou durante anos, com as represas, se extinguiu. A situação está caótica”, desabafou.
De acordo com o presidente da cooperativa, diversos municípios estão em situação de desertificação. Os produtores estão com dificuldade de manter suas terras produtivas e o gado está perdendo peso. “O rebanho está tão magro que não temos condições nem de transportar para a venda. Os números do próprio governo, do Idaf (Instituto de Defesa e Proteção Agropecuária do Estado), mostram uma diminuição de 41 mil cabeças de gado em nossa região de novembro do ano passado até o mês de agosto desse ano”, afirmou. Os dados são da campanha de febre aftosa. Atualmente a região Norte possui 933 mil cabeças de gado.
E o futuro preocupa. Carnieli explicou que o cenário de seca, se assim continuar, exige um esforço de pensar estratégias para os produtores. “Nós já vamos precisar de um tempo para se recuperar dessa situação. E se continuar, vai piorar. O produtor terá uma linha de crédito de apoio para esse período?”, questionou. Carnieli acrescentou ainda que o produtor precisa de apoio para se recuperar e conseguir investir novamente em sua propriedade.
O encontro contou com a presença da representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Mariana Garcia, do gerente de sustentabilidade da Secretaria Estadual da Agricultura (Seag), Maurício Pogian, e do vice-prefeito de Nova Venécia, Theomir Basseti Filho. A reunião foi conduzida pelo presidente do Colegiado, deputado Marcos Mansur (PSDB) e os parlamentares Hudson Leal (PTN), Padre Honório (PT) e Dr. Hércules (PMDB).
Nesse cenário, o presidente do colegiado, deputado Marcos Mansur (PSDB), ressaltou a importância do cooperativismo para desenvolver um trabalho em conjunto e mais forte para enfrentar os percalços. “E aí está o valor do cooperativismo. Porque a cooperativa, dentro do que pode fazer e em caráter emergencial, consegue dar uma assistência aos seus cooperados, uma assistência que o próprio poder público não consegue dar. A Veneza está fazendo o que pode e até o que não pode para dar esse apoio. E eu fico pensando naqueles produtores que não fazem parte de uma cooperativa. E o que o Estado e as prefeituras vão fazer efetivamente? E o que a cooperativa vai fazer quando não houver mais recursos?”, questionou.
Barragens
O gerente de sustentabilidade da Seag, Maurício Pogian, afirmou que o problema da seca não é exclusivo do Norte do Estado. “O déficit hídrico para a agricultura e a falta de água para abastecimento humano já é realidade em vários municípios também do sul”, afirmou.
Sobre as ações da secretaria, Pogian destacou a construção de novas barragens pelo Estado. De acordo com ele, são 60 projetos antigos e que estão passando por uma revisão. “Essas barragens são de pequeno e médio porte em áreas de assentamento. Também temos ações de apoio, como a diminuição da burocracia, a criação de um fundo especial com aporte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) e linhas de crédito específicas”, acrescentou.
O deputado Padre Honório (PT) aproveitou para pedir melhor gestão nos recursos para a área da agricultura. “Gasta-se muito com uma grande barragem e não se prioriza os pequenos produtores, a agricultura familiar, a produção orgânica”, criticou.
Negociação de dívidas
A necessidade de um processo de renegociação das dívidas de agricultores que utilizaram linhas de crédito rural e tiveram prejuízos por causa da seca também foi comentada durante a reunião. O vice-prefeito de Nova Venécia, Theomir Basseti Filho, falou do desespero de muitos agricultores. “Com a seca, a produção ficou muito prejudicada e os produtores estão desesperados, buscando a renegociação de suas dívidas ou a anistia parcial”.
Gabriela Zorzal/Web Ales