A queda de preço do álcool no Brasil em plena entressafra aqueceu os negócios de exportação do produto. Levantamento da consultoria Datagro, com base na programação de saída de navios dos portos brasileiros, aponta para uma exportação de 77,2 milhões de litros de álcool em janeiro. Esse volume marginal, não previsto até o final de dezembro, fará com que os estoques de passagem sejam menores do que os estimados, no entanto, insuficientes para elevar os preços do álcool, mesmo nesse período de entressafra.
Plínio Nastari, diretor da Datagro, acredita que até o final da atual SAFRA, essa exportação – motivada pela queda dos preços no Brasil e por alta nos Estados Unidos – deve atingir volumes entre 150 milhões e 180 milhões de litros. Com isso, a previsão para os estoques de passagem em 1º de maio cai de 900 milhões de litros para algo próximo de 750 milhões de litros, o suficiente para 14 dias de consumo.
A estimativa feita em outubro pela Datagro indicava um estoque em 1º de maio de 495 milhões de litros, projeção revista no final de dezembro para 900 milhões devido a uma moagem maior no Centro-Sul, que teve clima propício para processamento. “A expectativa era de que 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ficassem em pé ao final da safra. Mas, como o clima foi menos chuvoso do que a média histórica, foi possível às usinas moerem mais cana. Assim, ficaram em pé apenas 3,5 milhões de toneladas”, reavalia Nastari.
Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, explica que seguida do recuo do preço do álcool no Brasil, houve alta no valor do produto nos Estados Unidos, o que abriu essa janela esporádica para exportação do combustível brasileiro. “Houve pontualmente um problema nas estradas que permitem o abastecimento do meio-oeste americano. O preço começou a subir com a falta momentânea do produto nessa região”, detalha Rodrigues.
O valor do galão (3,785 litros) de etanol nos Estados Unidos, subiu de US$ 2 para US$ 2,40, o que viabilizou a exportação do Brasil ao valor FOB (posto no porto) de US$ 460 por m (1 mil litros). “Dependendo da taxa de câmbio, esse valor pode, pelo menos, empatar. Mas representa hedge para proteger o custo de produção”, avalia Rodrigues, que acrescenta que o valor do galão de ETANOL nos Estados Unidos já retornou aos níveis de US$ 2, sinalizando normalização da situação atípica de abastecimento no meio-oeste.
Já no mercado europeu, o reaquecimento da demanda pelo álcool brasileiro está mais relacionada diretamente ao preço no Brasil, segundo o diretor da Bioagência. Isso porque o anidro no patamar de R$ 900/m – posto nos portos brasileiros – não oferecia níveis compatíveis com o mercado da Europa. “O combustível chegaria lá por US$ 540. Quando baixou para R$ 800, o valor para o mercado europeu passou para os US$ 470, valor que possibilita a importação pelo bloco. Mercado interno
O movimento de queda nos preços do álcool anidro no período considerado como entressafra, começou a partir de 14 de dezembro e, desde então, acumula recuo de 8,2%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). De R$ 0,85 o litro nas usinas do Centro-Sul (sem impostos), esse valor recuou no período para R$ 0,78 até o dia 18 de janeiro.
O álcool hidratado, que é usado diretamente no tanque dos automóveis, também começou a recuar na semana entre 14 e 18 de janeiro, saindo dos patamares de R$ 0,75 o litro (sem impostos) para R$ 0,69 entre 14 e 18 de janeiro, um recuo semelhante em percentual ao do anidro, de 8%.
Exportações
Apesar de inesperada, a venda externa de álcool brasileiro prevista para janeiro é menor que a do mesmo mês de 2007 e também de 2006. De acordo com a consultoria Datagro, foram 337,8 milhões de litros no primeiro mês de 2007 (272,3 milhões do Centro-Sul) e 159,7 milhões de litros em janeiro de 2006, (69,8 milhões de litros do Centro-Sul). Dos 77,2 milhões de litros previstos para janeiro, 79% são de navios nomeados nos portos das regiões Sudeste e Sul.
Gazeta Mercantil