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Para solucionar um dos grandes desafios dos produtores de mamão, a MF Papaya, empresa de base tecnológica localizada no Rio de Janeiro, desenvolveu, de forma pioneira, um teste genético que identifica o sexo das mudas. A sexagem ainda no viveiro permite que o produtor leve ao campo apenas as mudas hermafroditas, que são as que possuem valor comercial.
O método é comparável à sexagem fetal que permite descobrir o sexo do bebê de forma antecipada. A partir do surgimento das primeiras folhas é feita uma análise do DNA e seleção das mudas.
As plantas hermafroditas produzem frutos com polpa mais espessa e formato oval, ideais para o acondicionamento em caixas e comercialização. Tradicionalmente, para identificar as plantas hermafroditas é necessário plantar de quatro a cinco mudas por cova e esperar três meses até a floração. Só com o surgimento das flores é possível determinar o sexo das plantas, já que morfologicamente elas são idênticas até esse estágio.
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Doutor em Melhoramento de Plantas, pesquisador e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), o sócio-proprietário da MF Papaya, Messias Gonzaga Pereira, informa que no processo convencional produtor acaba mantendo no campo, por meses, plantas sem valor comercial que competem por recursos com as plantas hermafroditas e aumentam os custos da lavoura.
“Além disso, é comum observar até 10% de falhas resultantes da possibilidade de todas as plantas de uma cova serem femininas. As falhas nas lavouras são agravadas, ainda, por erros de identificação da flor durante o processo de sexagem no campo, comprometendo a produtividade da lavoura e causando prejuízos ao produtor”, comentou Pereira.
A tecnologia da sexagem molecular foi desenvolvida pelos pesquisadores da MF Papaya Dra. Fernanda Aredes, Dra. Marcela Boechat e Dr. Messias Gonzaga Pereira, recebendo apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e do Sebrae, por meio do Programa Catalisa (ICT).
Como funciona a tecnologia?
O Viveiro Santa Fé, em Pinheiros-ES, se encarrega de produzir as mudas de mamão e efetuar as etapas de amostragem das folhas para análises. Um pedaço bem pequeno das folhas é enviado ao laboratório da MF Papaya para realização do teste genético.
O resultado com a identificação de quais mudas são femininas e hermafroditas volta para o viveiro, onde é realizada a separação conforme o sexo e comercializadas as mudas hermafroditas.
Mais sustentável
Com a planta crescendo sozinha na cova, todos os nutrientes são absorvidos exclusivamente por ela, sem competição por luz solar, água e espaço, resultando em plantas mais robustas e menos suscetíveis a pragas e doenças. Isso gera uma lavoura mais uniforme e padronizada, com melhor estrutura de planta, produtividade em média 30% mais alta e antecipação da colheita em 30 a 60 dias, explicou o engenheiro agrônomo, proprietário do Viveiro Santa Fé, em Pinheiros, Cícero Covre.
“A sexagem molecular é mais sustentável, pois reduz o uso de água, defensivos agrícolas e fertilizantes, além de otimizar o uso da mão de obra e diminuir em 50% o número de sementes utilizadas. Também evita o desperdício de recursos escassos, eliminando o uso desnecessário de recursos com plantas femininas, comuns em lavouras tradicionais devido a erros no processo de sexagem ou à probabilidade de todas as plantas da cova serem femininas”, detalhou o engenheiro agrônomo.
Sexagem forma planta mais vigorosa e produtivas
A primeira área plantada com o uso da tecnologia foi em Pinheiros
O uso da tecnologia em lavouras comerciais foi feito pela primeira vez pelo produtor rural Sávio Torezani, em Pinheiros. O pioneirismo ao implementar a sexagem molecular se tornou uma vitrine para demonstrar o potencial da tecnologia.
Em 2022 foi plantada a primeira área de um hectare com a tecnologia e, em 2024, o empresário expandiu para 30 hectares com a espécie formosa feitas a partir de mudas sexadas pela MF Papaya.
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Sávio destaca que com uma menor área plantada é possível produzir mais, economizando o uso de mão de obra e de maquinários, além de formar plantas mais vigorosas e produtivas, podendo o produtor fazer uma colheita mais precoce e em maior quantidade na mesma área.
“Inicialmente as mudas sexadas têm um valor mais alto de implantação, mas na minha lavoura a produção média é 21% maior quando comparada ao método tradicional. As plantas começam a produzir mais cedo, pois não tem concorrência no crescimento. Também conseguem segurar desde a primeira flor que emitem, fazendo com que o cacho fique maior e, consequentemente, a lavoura produz uma quantidade maior de quilos por hectare”, completou o produtor.
Especial Tecnologia – Revista Campo Vivo. Edição nº 52, jan/25.