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Mais de 250 toneladas de pimenta-do-reino já foram processadas na esterilizadora a vapor da Grancafé, equipamento responsável por tratar e eliminar a contaminação microbiológica do grão. Pioneira no Espírito Santo, a empresa investiu R$ 12 milhões no maquinário que entrou em operação em novembro de 2024. Importada da Holanda, a tecnologia permitirá à empresa retomar mercados da Europa e dos Estados Unidos que representam 40% de suas exportações.
A segurança alimentar e a produção de alimentos com ‘zero resíduos químicos’ têm sido uma exigência cada vez maior no mercado. Recentemente, houveram mudanças na legislação Europeia para a importação da pimenta brasileira, fazendo com que o país quase zerasse as exportações para o referido destino.
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“A Grancafé é a maior exportadora do Brasil. Apesar do país ser o maior produtor mundial por hectare, o nosso grande desafio é liderar o ranking de melhor qualidade, que acreditamos conquistar em breve. Esse equipamento vai impactar diretamente a economia brasileira em 2025 que tem produção estimada de 110 mil toneladas do grão”, concluiu o gerente Comercial e de Exportação da Grancafé e presidente da Brazilian Spice Association (BSA), Frank Moro.
O gerente explicou que existem três métodos de esterilização no mercado, porém o processo a vapor é o único aceito em todo mundo por ser seguro e não agredir o meio ambiente.
“A Salmonella é um exemplo de contaminante microbiológico presente na pimenta-do-reino, algo muito sério, já que o grão é consumido in natura. Outro tipo de contaminação é por Antracnona, resíduo químico oriundo do processo de secagem em secadores rotativos com calor direto, proibida na Europa e nos EUA. Isso tem literalmente queimado a imagem do Brasil, pois somos os únicos a permitir essa contaminação no produto final”, avalia Moro.
Para instruir a produção da pimenta livre de contaminação química e microbiológica, a empresa conta com um programa de sustentabilidade e certificação para os produtores parceiros, oferecendo assistência gratuita. Como bonificação é pago um preço diferenciado por ser um produto especial.
Pimenta-do-reino: maior exportador do Brasil, Espírito Santo lidera produção com 61% dos grãos
De janeiro a setembro de 2024 o Estado exportou mais de 28,5 mil toneladas, o correspondente a 117,8 milhões de dólares
Nos últimos 10 anos, a produção de pimenta-do-reino capixaba deu um salto de 7,6 mil toneladas, em 2014, para 77,7 mil toneladas em 2023. Segundo dados do Governo do Estado, o Espírito Santo produz hoje mais de 61% dos grãos, se consolidando como o maior exportador do Brasil. A especiaria se tornou o terceiro produto na pauta de exportação do agronegócio capixaba, atrás somente do complexo do café e da celulose. O Valor Bruto da Produção Agropecuária em 2023 registrada foi de mais de 1,03 bilhão de reais.
No que diz respeito às exportações, de janeiro a setembro de 2024 o Estado exportou mais de 28,5 mil toneladas, o correspondente a 117,8 milhões de dólares. Em 2023, das 77,7 mil toneladas produzidas, 54,5 mil toneladas foram comercializadas em 74 países, gerando 167,6 milhões de dólares de divisas. Em 2014, a área era de 2,7 mil hectares e, em 2023, elevou para 19,6 mil hectares colhidos.
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“A pimenta é o nosso maior caso de sucesso dos últimos anos. O Espírito Santo, com seus pipericultores e pipericultoras, é uma máquina de gerar emprego e renda a partir desse arranjo que se tornou o terceiro produto na pauta de exportação do agronegócio capixaba em tão pouco tempo. Isso é motivo de muito orgulho”, celebra o secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Enio Bergoli.
São Mateus produz um terço da pimenta capixaba (33,5%), seguido dos municípios Rio Bananal, Jaguaré, Vila Valério, Nova Venécia, Pinheiros, Conceição da Barra, Boa Esperança, São Gabriel da Palha e Sooretama. Juntos, os 10 municípios produzem 89,5% da pimenta capixaba.
“Dos 78 municípios capixabas, 44 deles já produzem pimenta, com maior concentração na região Norte devido ao clima e solo. Estimamos termos em média 15 mil propriedades produtoras, sendo que 8 em cada 10 delas são da agricultura familiar, gerando renda em pequenos espaços. Os dados atuais de safras apontam que se o nosso Estado fosse um país, seria o terceiro maior produtor do mundo de pimenta, perdendo apenas para o Vietnã e a Indonésia”, comentou Bergoli.
Apesar de registrar números expressivos de produção e exportação, a “Salmonella” é, ainda, um dos principais gargalos enfrentados pelo setor. Poder público e empresas privadas têm unido esforços para retomar mercados importantes na pauta de exportação.
“Investimentos feitos pela Grancafé e, também, por um grupo de produtores de São Mateus que investiram na máquina esterilizadora são fundamentais, pois nossa produção é muito crescente e precisamos voltar a ocupar, principalmente, o mercado europeu e os Estados Unidos. Com o equipamento, alcançaremos um produto com mais qualidade, melhores mercados e, sobretudo, que remuneram mais”, informou Bergoli.
O secretário relata que o Governo do Estado tem um planejamento a longo prazo, o Pedeag 4, que tem metas estabelecidas até 2032 com as 30 principais atividades, e a pimenta está inclusa.
“Já disponibilizamos recursos para pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a pimenta, equipando o Incaper para ajudar os pipericultores na assistência técnica, além de parcerias com as cooperativas, o Senar e as secretarias de agricultura dos municípios. Uma parte da Salmonella vamos resolver com as boas práticas agrícolas de colheita e pós-colheita e isso está na programação do governo, para ampliarmos a assistência técnica e melhorar a qualidade da pimenta”, concluiu o secretário.
Espírito Santo é responsável por 57% das exportações de pimenta em 2024
Apesar da liderança, Estado perdeu em 2022 mercado nos 15 maiores compradores do mundo
A exportação nacional de pimenta-do-reino em 2022 apresentou drástica redução para os 15 maiores compradores internacionais, principalmente para os Estados Unidos, com redução de 95,46%, seguido pela Alemanha 63,26%, Egito 50,64% e Espanha 40,93%. Reverter esse cenário e recuperar mercados rigorosos no controle sanitário e de certificações é um desafio que os setores público e privado têm se empenhado para romper.
No primeiro trimestre de 2024, o Espírito Santo foi o maior exportador brasileiro da especiaria, com 57% de participação do total nacional. Entretanto, pontua o engenheiro agrônomo, DSc. Solos e Nutrição de Plantas, e secretário Executivo da Brazilian Spice Association (BSA), Aureliano Nogueira da Costa, os destinos das exportações têm sido para outros mercados periféricos como Vietnã, Marrocos e México.
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Diante da ocorrência de Salmonella, a União Europeia exige um certificado oficial com garantias de que o grão esteja livre da doença. O processo de esterilização a vapor é o único método aceito mundialmente para o controle de contaminações microbiológicas por Salmonella e permite a exportação para mercados importantes como a União Europeia e os Estados Unidos.
“O Espírito Santo larga à frente na inovação tecnológica na cadeia produtiva, com a instalação do primeiro esterilizador a vapor em operação adquirido pela Grancafé. A tecnologia garantirá maior segurança sanitária, sendo um diferencial para restabelecer e conquistar novos mercados”, relatou o pesquisador.
A ocorrência de Salmonella resultou na notificação denominada de Sistema de Alerta Rápido para Alimentos e Rações (RASFF), voltada às questões de segurança alimentar adotada pelo bloco econômico.
Especial Tecnologia – Revista Campo Vivo. Edição nº 52, jan/25.