
Um estudo inédito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus Alegre, pretende revolucionar o manejo da ferrugem do café conilon, integrando controle químico e biológico em um Sistema de Alerta Fitossanitário (SAF). A proposta é fazer com que as pulverizações ocorram somente quando necessárias e na hora certa, aumentando a eficiência das ferramentas de manejo à doença.
Os estudos foram conduzidos em três propriedades no norte e duas no sul do Espírito Santo para ampliar a confiabilidade do modelo. Foi criado um algoritmo para registro das variáveis meteorológicas (temperatura, umidade e chuva), mais a presença do inóculo, para que os pesquisadores correlacionassem a ocorrência da doença e, com os dados, identificar quais épocas do ano são mais propícias para as aplicações.
“Em uma região conseguimos reduzir de forma considerável o número de aplicações de fungicida. Identificamos também uma área em que foram feitas seis aplicações, quando uma era o suficiente. Além da redução e economia de produtos, a tecnologia traz ganho na produtividade, reduz mão de obra e promove a sustentabilidade”, disse Willian Bucker Moraes, Doutor em Proteção de Plantas (Fitopatologia), professor e pesquisador da Ufes.
O pesquisador relatou que, quando se pensa no manejo com controle químico, basicamente são utilizados estrobilurina e triazol, cuja repetição excessiva eleva o risco de resistência do patógeno. Os produtos biológicos também têm auxiliado no manejo da doença.

“O sistema vai se tornar um facilitador para o produtor durante o manejo, principalmente quando falamos de exportação e certificação. A Rainforest Alliance é uma certificadora que estava querendo proibir o uso do triazol. Com o sistema, o produtor poderá comprovar que fez uso do defensivo, seja químico ou biológico, quando estritamente necessário e não de forma indiscriminada”, frisou Moraes.
Aplicativo
Agora, a Ufes segue na terceira fase da pesquisa iniciada em 2016. A proposta envolve a criação de uma startup para lançar um aplicativo de monitoramento.
A expectativa é disponibilizar o Sistema de Alerta Fitossanitário (SAF) até o final de 2027, permitindo que o produtor receba sinais simples no celular – vermelho para pulverização, amarelo para atenção e verde para tranquilidade – com base em um vasto banco de dados de pesquisa em diferentes altitudes e regiões.
O projeto recebeu o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A proposta é estender para outras doenças.
Entendendo a doença
A ferrugem é causada pelo fungo Hemileia vastatrix que se instala no tecido vivo para se alimentar, causando redução da área foliar, provocando a perda de até 50% da produtividade.
Apesar de apresentarem incidência de ferrugem em algumas áreas, clones de robustas são mais resistentes à doença, ao contrário do conilon, explica Willian Bucker Moraes professor e pesquisador da Ufes.
“Apesar do controle genético, os clones de conilon são mais suscetíveis. E tem outra questão: a cada seis, oito anos, temos uma suplantação da resistência, ou seja, mesmo sendo resistente o material passa a ser suscetível. O LB1, um dos clones mais produtivos que tínhamos, é um exemplo. Quando lançado era resistente à ferrugem e agora é suscetível’, detalhou o pesquisador.
Valda Ravani, Jornalista, Redação Campo Vivo